A reunião fortalece canais de diálogo e cooperação pragmática, permitindo resolver diferenças e preparar parcerias sustentáveis
Sete anos de silêncio, de desconfiança e de alinhamento quase automático às pressões de Washington foram quebrados esta semana em Pequim. Numa reaproximação que fala mais sobre as duras necessidades da economia real do que sobre as narrativas da geopolítica, autoridades do Reino Unido e da China sentaram-se à mesa para suas primeiras conversas comerciais formais em quase uma década. O encontro é um sinal inequívoco de que o pragmatismo econômico começa a se sobrepor à retórica da nova Guerra Fria.
Na quarta-feira, o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, recebeu o secretário de Estado britânico para Negócios e Comércio, Peter Kyle. A reunião da Comissão Econômica e Comercial Conjunta (JETCO), a primeira desde 2018, não foi apenas um degelo diplomático, mas a admissão tácita por parte de Londres de que a segunda maior economia do mundo não pode ser ignorada, especialmente quando a sua própria economia clama por investimentos e novos mercados.
A missão de Kyle em Pequim é clara e urgente: garantir acordos que podem superar a marca de “£ 1 bilhão (US$ 1,3 bilhão)” nos próximos cinco anos. Para um Reino Unido que ainda sente os tremores do Brexit e enfrenta uma crise de custo de vida, esses números não são abstratos; representam empregos, crescimento e uma tábua de salvação. Em um mundo de instabilidade, a busca por parcerias que garantam o bem-estar do seu povo fala mais alto que as ordens vindas do outro lado do Atlântico.
Do lado chinês, a recepção foi de confiança e mão estendida. He Lifeng assegurou que Pequim está empenhada em garantir um “desenvolvimento estável e de longo prazo” nas relações, incentivando as empresas britânicas a não apenas manterem, mas expandirem suas operações no vasto mercado chinês. A mensagem é de estabilidade e oportunidade, um contraponto à volatilidade e às sanções que têm caracterizado a política externa ocidental.
A visita de Kyle representa uma notável fissura na muralha que os Estados Unidos tentam construir em torno da China. O Reino Unido, o mais antigo e fiel aliado de Washington, sinaliza que seus interesses nacionais não podem mais ser reféns de uma agenda externa. O próprio Kyle, antes de sua viagem, justificou a necessidade do encontro, afirmando que “mais discussões e engajamento direto com a China garantirão que o comércio entre nós possa florescer”. É o reconhecimento de que o diálogo construtivo é superior ao isolamento ideológico.
Enquanto os falcões em Washington pregam o desacoplamento e a contenção, a realidade econômica impõe uma lógica diferente. A decisão do governo britânico de reativar a JETCO é a prova de que, para as nações, a prosperidade de seus cidadãos é uma prioridade que, no fim do dia, supera as pressões geopolíticas. O encontro em Pequim pode ser o primeiro de muitos sinais de que a tentativa de isolar a China está fadada ao fracasso, não por falta de vontade de seus adversários, mas pela força irrefutável da realidade material.


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