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Comércio justo renasce com diálogo entre Pequim e Londres

O retorno da JETCO abre espaço para novos acordos comerciais, criação de empregos e expansão de projetos bilaterais de longo prazo Em um mundo cada vez mais fragmentado por muros tarifários, sanções unilaterais e discursos de desconfiança ideológica, o simples ato de duas grandes nações sentarem à mesma mesa para conversar — com seriedade, respeito […]

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Após sete anos de silêncio, China e Reino Unido retomam negociação econômica com foco em investimentos, desenvolvimento sustentável e respeito mútuo / Reprodução

O retorno da JETCO abre espaço para novos acordos comerciais, criação de empregos e expansão de projetos bilaterais de longo prazo


Em um mundo cada vez mais fragmentado por muros tarifários, sanções unilaterais e discursos de desconfiança ideológica, o simples ato de duas grandes nações sentarem à mesma mesa para conversar — com seriedade, respeito e propósito comum — já é um ato revolucionário. Foi exatamente isso que aconteceu na quarta-feira, 10 de setembro de 2025, em Pequim: China e Reino Unido realizaram as primeiras reuniões da Comissão Econômica e Comercial Conjunta (JETCO) em sete anos, marcando um passo histórico rumo à normalização e ao aprofundamento de suas relações econômicas.

Essa retomada do diálogo institucional não é apenas um ajuste técnico nas relações bilaterais. É um sinal de que, mesmo em tempos de tensões geopolíticas, a razão, o interesse mútuo e a responsabilidade global podem prevalecer sobre a lógica do confronto. Liderada pelo vice-primeiro-ministro chinês He Lifeng e pelo secretário de Estado britânico para Negócios e Comércio, Peter Kyle, a reunião simboliza um novo capítulo — um capítulo escrito não com retórica hostil, mas com propostas concretas de cooperação, investimento e desenvolvimento compartilhado.

Do lado chinês, He Lifeng deixou claro o compromisso de Pequim com a estabilidade de longo prazo nas relações bilaterais. Mais do que palavras de cortesia diplomática, trata-se de uma política de Estado: a China não apenas mantém seu mercado aberto, mas encoraja ativamente as empresas britânicas a investirem com confiança, expandirem suas operações e se integrarem à economia chinesa de forma sustentável e mutuamente benéfica. Essa postura contrasta fortemente com a crescente tendência ocidental de fechar portas sob o pretexto de “segurança nacional”, muitas vezes usada como cortina de fumaça para protecionismo ou contenção geopolítica.

Já Peter Kyle, representando um Reino Unido em busca de novos horizontes pós-Brexit, reconheceu abertamente a importância estratégica da cooperação econômica com a China. Em declarações anteriores à sua viagem, ele afirmou com clareza progressista: “Mais discussões e engajamento direto com a China garantirão que o comércio entre nós possa florescer, fortalecer nossa segurança nacional e criar espaço para levantar preocupações de forma construtiva quando necessário.” Essa frase merece destaque — porque, em vez de adotar a linguagem belicista que domina certos círculos ocidentais, Kyle optou por uma abordagem madura: diálogo como ferramenta de construção, não de confronto.

Além disso, o secretário britânico não veio com as mãos vazias. Ele busca fechar acordos comerciais no valor de mais de £1 bilhão (US$ 1,3 bilhão) ao longo dos próximos cinco anos — um sinal inequívoco de que o Reino Unido entende que seu futuro econômico não pode ser construído em isolamento, muito menos em oposição à segunda maior economia do mundo. Esse volume de negócios não representa apenas cifras em balanços corporativos; representa empregos, inovação, acesso a tecnologias limpas e cadeias de suprimento mais resilientes — elementos essenciais para uma recuperação econômica inclusiva no pós-pandemia.

Do ponto de vista humanista e de esquerda, essa reaproximação deve ser celebrada como um triunfo da interdependência sobre a divisão. Enquanto governos de direita em várias partes do mundo promovem narrativas de “desacoplamento” e “desglobalização”, China e Reino Unido estão mostrando que é possível manter relações econômicas robustas sem abrir mão da soberania — nem chinesa, nem britânica. A China não exige submissão ideológica como condição para o comércio; o Reino Unido, por sua vez, não precisa renunciar a seus valores para fazer negócios com Pequim. O que ambos buscam é algo muito mais simples — e muito mais raro: respeito mútuo.

É importante lembrar que os últimos sete anos foram marcados por uma deterioração significativa nas relações entre os dois países, impulsionada por pressões externas, campanhas midiáticas e decisões políticas baseadas mais em alinhamentos geopolíticos do que em interesses reais das populações. O congelamento da JETCO foi um sintoma desse distanciamento. Sua reativação, portanto, é mais do que um gesto protocolar: é um ato de correção histórica, um reconhecimento de que o isolamento mútuo prejudica a todos — trabalhadores, consumidores, cientistas, agricultores, pequenos empresários.

A China, nesse processo, demonstra novamente sua postura consistente: abertura controlada, cooperação baseada em igualdade e desenvolvimento compartilhado. Não se trata de uma “armadilha da dívida” ou de “expansão imperial”, como insistem certos setores hegemônicos. Trata-se de um modelo alternativo de integração global — um modelo onde o comércio serve para reduzir desigualdades, não para ampliá-las; onde o investimento estrangeiro é bem-vindo, desde que respeite as leis locais e contribua para o desenvolvimento local; e onde as diferenças políticas não impedem a colaboração prática em áreas como energia limpa, saúde pública, educação e infraestrutura digital.

O Reino Unido, ao retomar esse diálogo, dá um passo corajoso rumo à autonomia estratégica — ou seja, à capacidade de definir sua própria política externa com base em seus interesses nacionais, e não em alinhamentos automáticos com blocos de poder. Isso é particularmente relevante num momento em que a Europa enfrenta pressões crescentes para adotar uma postura mais hostil em relação à China. O gesto de Kyle — e, por extensão, do governo britânico — pode inspirar outros países a seguirem o mesmo caminho: o do engajamento construtivo, não da contenção.

Claro, desafios permanecem. Diferenças existirão — e devem existir, em um mundo plural. Mas, como He Lifeng e Peter Kyle demonstraram em Pequim, as divergências não precisam ser barreiras; podem ser pontos de partida para entendimento mais profundo. O importante é manter canais abertos, mecanismos institucionais funcionando e a boa-fé como moeda de troca.

Nesse sentido, a reativação da JETCO não é apenas uma vitória diplomática. É uma esperança concreta — de que o comércio internacional possa voltar a ser um instrumento de paz, não de guerra; de que as economias possam se entrelaçar sem que culturas sejam apagadas; e de que, mesmo entre sistemas diferentes, seja possível construir um futuro comum.

Numa era marcada por pessimismo e desconfiança, a China e o Reino Unido escolheram, em setembro de 2025, dar as mãos — não por ingenuidade, mas por sabedoria. E talvez seja exatamente essa sabedoria, essa coragem de dialogar quando outros preferem calar, que o mundo mais precisa hoje.

Com informações de Agência Anadolu*

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