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Pacto de defesa une dois gigantes muçulmanos do Oriente

O acordo militar consolida décadas de cooperação e surge em meio a ataques recentes, aumentando alertas estratégicos no Golfo A Arábia Saudita e o Paquistão, único país muçulmano com arsenal nuclear, assinaram na noite de quarta-feira um pacto de defesa mútua que promete aprofundar uma parceria de segurança de décadas. O acordo acontece em um […]

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O pacto reflete mudanças na segurança regional, em contexto de ataques israelenses e rivalidades históricas no Oriente Médio.
Paquistão reforça papel de aliado confiável, enquanto Arábia Saudita busca reduzir dependência de atores externos / Reprodução

O acordo militar consolida décadas de cooperação e surge em meio a ataques recentes, aumentando alertas estratégicos no Golfo


A Arábia Saudita e o Paquistão, único país muçulmano com arsenal nuclear, assinaram na noite de quarta-feira um pacto de defesa mútua que promete aprofundar uma parceria de segurança de décadas. O acordo acontece em um momento delicado para o Oriente Médio, apenas uma semana após os ataques israelenses ao Catar, que mudaram o cálculo diplomático na região e acenderam novos alertas entre as monarquias do Golfo.

Segundo autoridades sauditas, o pacto é um “acordo defensivo abrangente que abrange todos os meios militares”. Questionado sobre a possibilidade de o Paquistão fornecer um guarda-chuva nuclear à Arábia Saudita, um alto funcionário do reino foi enfático: “Este acordo não é uma resposta a países ou eventos específicos, mas a institucionalização de uma cooperação profunda e de longa data entre nossos dois países”.

O fortalecimento dos laços de defesa ocorre em um contexto de crescente desconfiança dos Estados árabes do Golfo em relação à confiabilidade dos Estados Unidos como garantidor da segurança regional. Analistas afirmam que a assinatura do pacto reflete uma busca por alternativas estratégicas, especialmente diante das mudanças recentes na dinâmica política e militar do Oriente Médio.

O Paquistão possui o maior exército muçulmano do mundo e mantém suas armas nucleares como dissuasão principalmente contra a Índia, segundo o governo do país. Seus mísseis têm alcance suficiente para atingir qualquer ponto a leste da Índia, e Islamabad deixa claro que seu arsenal nuclear não tem outra finalidade.

O acordo foi concluído após anos de negociações discretas entre os dois países, segundo a autoridade saudita, que destacou que o momento da assinatura foi cuidadosamente avaliado. “Não se trata de uma reação a eventos específicos, mas de consolidar uma cooperação que já existe há décadas”, afirmou.

O contexto regional adiciona uma camada de complexidade ao pacto. Em 9 de setembro, Israel realizou ataques aéreos em Doha, capital do Catar, visando líderes políticos do Hamas que participavam de negociações de cessar-fogo mediadas pelo país. O episódio provocou indignação em várias capitais árabes e reforçou a percepção de que a segurança do Golfo não pode mais depender exclusivamente de atores externos.

Nos últimos anos, as monarquias do Golfo tentaram equilibrar suas relações com Irã e Israel, buscando resolver antigas preocupações de segurança. No entanto, o Catar sofreu ataques diretos em duas ocasiões no último ano – um pelo Irã e outro por Israel – evidenciando a volatilidade da região.

Enquanto Israel mantém um arsenal nuclear considerável, adota uma política de ambiguidade, sem confirmar nem negar oficialmente sua posse de armas atômicas. Nesse cenário, a assinatura do pacto de defesa com o Paquistão surge como uma estratégia saudita para reforçar sua própria segurança e garantir um aliado militar confiável, em especial diante de ameaças emergentes e da instabilidade regional.

O pacto entre Arábia Saudita e Paquistão representa, portanto, não apenas um passo significativo na cooperação militar bilateral, mas também um sinal claro de como as dinâmicas geopolíticas do Oriente Médio estão sendo redesenhadas, com novas alianças surgindo em resposta a crises e ataques recentes.

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GUARDA-CHUVA NUCLEAR E ALIANÇA ESTRATÉGICA

A assinatura do pacto de defesa mútua entre Arábia Saudita e Paquistão ganhou forte simbolismo com imagens exibidas pela televisão estatal paquistanesa. Nelas, o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, e o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, governante de fato do reino, aparecem se abraçando, em um gesto de proximidade e confiança. Também esteve presente o chefe do exército paquistanês, marechal de campo Asim Munir, considerado a figura militar mais poderosa do país.

“O acordo estabelece que qualquer agressão contra qualquer um dos países será considerada uma agressão contra ambos”, afirmou um comunicado oficial do gabinete do primeiro-ministro paquistanês, sublinhando a natureza ampla e defensiva da aliança.

A parceria entre os dois países é antiga e profundamente enraizada na fé compartilhada, nos interesses estratégicos e na interdependência econômica. O Paquistão mantém há décadas soldados destacados em território saudita, atualmente estimados entre 1.500 e 2.000 militares, oferecendo suporte operacional, técnico e de treinamento, inclusive para as forças aéreas e terrestres sauditas.

Do lado econômico, a Arábia Saudita reforçou sua cooperação financeira com o Paquistão por meio de empréstimos, incluindo uma linha de US$ 3 bilhões, estendida em dezembro, que tem como objetivo fortalecer as reservas cambiais do país. Essa interdependência econômica e militar demonstra a profundidade do relacionamento bilateral e sua relevância estratégica para ambos os lados.

O pacto é assinado meses depois de um breve conflito militar entre Paquistão e Índia em maio, lembrando que a região continua a ser marcada por tensões históricas. A Índia, que também possui armas nucleares, reagiu com cautela. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores indiano, Randhir Jaiswal, declarou em uma publicação no X na quinta-feira que Nova Déli acompanha o desenvolvimento e avaliará suas implicações para a segurança do país e para a estabilidade regional.

Um alto funcionário saudita, falando sob condição de anonimato, ressaltou a importância de equilibrar as relações com ambos os vizinhos nucleares: “Nosso relacionamento com a Índia está mais sólido do que nunca. Continuaremos a fortalecê-lo e a buscar contribuir para a paz regional de todas as maneiras possíveis.”

Paquistão e Índia possuem um histórico de conflitos, com três grandes guerras desde a independência da Índia em 1947. A partir do final da década de 1990, quando ambos adquiriram armas nucleares, os confrontos passaram a ser mais limitados em escala, devido ao risco elevado de escalada nuclear. Ainda assim, a assinatura do acordo com a Arábia Saudita adiciona uma nova camada de complexidade à delicada equação de segurança no sul da Ásia e no Golfo, demonstrando que as alianças militares e estratégicas estão sendo reforçadas em resposta a incertezas regionais e globais.

Com informações de Reuters*

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