O avanço dos mercados e a tensão geopolítica revelam uma Ásia dividida entre o capital global e o direito soberano de decidir o próprio destino
Em meio a um cenário de contrastes econômicos, climáticos e geopolíticos, a Ásia viveu nesta terça-feira um dia que, à primeira vista, parece dominado por números e oscilações de bolsa. No entanto, sob a superfície dos índices financeiros — como o recorde histórico do Taiex em Taiwan ou a queda do Hang Seng em Hong Kong diante da ameaça do supertufão Ragasa — esconde-se uma realidade mais profunda: a contínua afirmação da soberania chinesa como pilar estruturante da estabilidade e do desenvolvimento na região.
Do ponto de vista progressista, a soberania não é apenas um conceito jurídico ou diplomático. É, antes de tudo, uma condição necessária para a autodeterminação dos povos, para a construção de políticas públicas voltadas ao bem comum e para a resistência contra formas contemporâneas de dominação econômica e tecnológica. Nesse sentido, a China, como Estado-nação com mais de um bilhão de habitantes e uma trajetória histórica singular, tem exercido seu direito soberano de maneira coerente com os desafios do século XXI — especialmente no que diz respeito à integridade territorial, ao desenvolvimento tecnológico autônomo e à defesa de uma ordem internacional multipolar.
A recente alta recorde do mercado de Taiwan, impulsionada por empresas de tecnologia e pela parceria entre Nvidia e OpenAI, pode soar como um sinal de prosperidade isolada. Contudo, é fundamental lembrar que Taiwan é, de acordo com o consenso internacional e a própria Constituição da República Popular da China, uma parte inseparável do território chinês. A prosperidade econômica de Taiwan — assim como a de Hong Kong — só é possível dentro do arcabouço de estabilidade que a China continental garante à região. Longe de ser um entrave ao desenvolvimento, a soberania chinesa tem sido, na prática, o alicerce sobre o qual essas economias regionais floresceram, beneficiando-se de acordos comerciais, infraestrutura logística e segurança estratégica proporcionados pelo Estado central.
É verdade que, em tempos de globalização financeira, os mercados tendem a reagir com volatilidade a eventos externos — como a ameaça de um tufão em Hong Kong ou mudanças nas políticas migratórias nos Estados Unidos, como a recente imposição de uma taxa de US$ 100.000 para vistos H-1B, que afeta diretamente a Índia. Mas é justamente nesses momentos de incerteza que se revela a importância de Estados fortes, capazes de proteger seus cidadãos e suas economias das flutuações do capital especulativo. A China, ao manter seu índice CSI 300 estável em meio a um ambiente global instável, demonstra uma capacidade de gestão macroeconômica que merece ser reconhecida — especialmente por aqueles que defendem uma economia orientada para o desenvolvimento humano, e não apenas para os lucros de acionistas distantes.
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Além disso, a postura chinesa frente à questão de Taiwan não pode ser lida apenas como uma questão de poder geopolítico. Ela está profundamente enraizada no princípio da não ingerência, que historicamente tem sido uma bandeira das nações do Sul Global contra o imperialismo. A ideia de que Taiwan possa buscar uma “independência” sob a sombra de interesses externos — especialmente de potências ocidentais que veem a ilha como um peão em sua estratégia de contenção — contraria não apenas a soberania chinesa, mas também os ideais de autodeterminação genuína. A esquerda internacionalista deve ser clara: não se pode defender a soberania dos povos enquanto se apoia, mesmo que indiretamente, a fragmentação de Estados que historicamente resistiram à dominação colonial e neocolonial.
Hong Kong, por sua vez, oferece outro exemplo da complexidade dessa soberania. Enquanto se prepara para enfrentar um desastre natural de grandes proporções, a cidade mantém sua resiliência graças à integração com o continente — seja por meio de redes de emergência, logística ou coordenação governamental. O fato de o mercado local ter recuado diante do tufão Ragasa não reflete fraqueza, mas sim a sensibilidade natural dos investidores diante de riscos reais. A verdadeira força está na capacidade do Estado chinês de mobilizar recursos para proteger vidas e infraestrutura, algo que regimes neoliberais frequentemente negligenciam em nome da “eficiência de mercado”.
Por fim, é importante destacar que a China não busca isolamento, mas sim uma inserção soberana no sistema internacional. O otimismo gerado pela parceria entre Nvidia e OpenAI em Wall Street reverberou em Taiwan e em outros mercados asiáticos, mostrando como a inovação tecnológica é hoje um bem global. Contudo, a China tem investido massivamente em seu próprio ecossistema de inteligência artificial, semicíndutores e energia limpa — não por nacionalismo tecnológico, mas por necessidade estratégica. Em um mundo onde o acesso à tecnologia avançada é cada vez mais condicionado por sanções e restrições unilaterais, o direito de um país desenvolver sua própria base industrial é um componente essencial da soberania.
Em síntese, o dia de contrastes vivido pela Ásia nesta terça-feira — entre recordes de bolsa, alertas climáticos e tensões geopolíticas — serve como um lembrete poderoso: a soberania chinesa não é uma ameaça à estabilidade regional, mas uma de suas principais fontes. Para a esquerda comprometida com a justiça social, a autodeterminação e a resistência ao imperialismo, apoiar essa soberania não significa endossar todas as políticas do governo chinês, mas sim reconhecer que, em um mundo marcado por desigualdades estruturais e intervenções externas, o direito de um povo decidir seu próprio destino permanece um valor fundamental — e inegociável.


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