Khamenei rejeita diálogo com EUA e afirma riscos ao Irã

O líder supremo reforçou que negociações atuais serviriam apenas aos interesses norte-americanos, sem trazer ganhos para Teerã / AFP

Durante discurso sobre guerra Irã-Iraque, Khamenei descartou diálogo com EUA, citando riscos à segurança e soberania do país


O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, afirmou nesta terça-feira (23) que Teerã não obterá “nenhum benefício” ao retomar negociações com os Estados Unidos sobre o programa nuclear iraniano. Durante um discurso televisionado em comemoração ao aniversário da guerra Irã-Iraque, Khamenei disse que, nas circunstâncias atuais, qualquer diálogo com Washington seria inútil e prejudicial ao país.

“Nas circunstâncias atuais, negociar com os EUA não nos ajuda; não traz nenhum benefício e não evitará nenhum dano a nós. Na verdade, negociar agora causaria danos”, afirmou o Líder Supremo, deixando claro seu ceticismo quanto às intenções norte-americanas.

Leia também:
Síria admite ‘medo de Israel’
Excesso de IA cansa equipes e atrasa resultados
Mudança no tom de Trump sobre a Ucrânia agita ações de defesa

No início deste ano, Irã e Estados Unidos participaram de conversações mediadas por Omã, com o objetivo de chegar a um acordo que limitaria o programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções econômicas impostas por Washington. Contudo, Khamenei acusou os EUA de usar as negociações como uma cobertura para ataques militares. Segundo ele, Israel lançou um ataque surpresa ao Irã em junho, utilizando drones, mísseis e aviões de guerra, enquanto a Casa Branca teria permitido a operação. Posteriormente, o então presidente Donald Trump ordenou bombardeios a três instalações nucleares iranianas, levando a situação para um nível de confronto direto.

“Com base em tudo isso, digo que não devemos negociar com os Estados Unidos. Talvez em 20 ou 30 anos seja diferente, mas por enquanto é inútil. Só serve a Trump”, declarou Khamenei. Ele classificou as negociações como imposição disfarçada de diálogo, afirmando que os EUA já definiram como seriam os resultados: a interrupção das atividades nucleares e do enriquecimento de urânio. “Isso não é negociação; é imposição e imposição”, reforçou.

O líder iraniano também comentou sobre a guerra de 12 dias com Israel em junho, descrevendo o conflito como uma prova de unidade nacional. Segundo Khamenei, o país conseguiu frustrar os objetivos de Israel, que buscava derrubar o governo iraniano e criar instabilidade interna. Israel teria planejado atacar comandantes militares e outras figuras influentes do governo com o objetivo de gerar caos no país.

Além disso, Khamenei criticou as pressões internas de elementos reformistas no Irã, incluindo o presidente Masoud Pezeshkian, que vinham defendendo a continuação das negociações nucleares com Washington. Para o Líder Supremo, seguir essas propostas agora significaria colocar o país em risco sem receber qualquer retorno positivo, mantendo sua postura firme de resistência frente aos Estados Unidos e aliados na região.

A declaração de Khamenei reforça a percepção de que o Irã pretende manter uma postura defensiva e estratégica, evitando compromissos que possam enfraquecer sua soberania nuclear ou abrir caminho para novas pressões externas.

Khamenei reforça postura de resistência e elogia Hezbollah durante discurso sobre nuclear e segurança

“Eles queriam criar sedição, criar sedição de rua, criar gangues e erradicar o islamismo do país. Esse era o objetivo do inimigo”, afirmou Khamenei, referindo-se às tentativas de desestabilização promovidas por forças externas.

O Líder Supremo também prestou homenagem ao falecido líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, morto há um ano em ataques aéreos israelenses direcionados à sede do grupo nos subúrbios de Beirute. “Sayyed Hassan Nasrallah foi uma grande riqueza para o mundo islâmico, não apenas para o xiismo, não apenas para o Líbano, ele foi uma riqueza para o mundo islâmico”, disse Khamenei. “Ele se foi, mas a riqueza que ele criou permanece.”

Khamenei sublinhou que o Hezbollah não deve ser subestimado. Para ele, o movimento de resistência representa não apenas um trunfo estratégico para o Líbano, mas também um recurso significativo para outros países e para o mundo islâmico como um todo.

Em seguida, o Líder Supremo voltou seu foco para o programa nuclear iraniano, destacando a importância da capacidade de enriquecer urânio. Segundo Khamenei, essa tecnologia tem múltiplas aplicações pacíficas, incluindo a redução do custo de produção de eletricidade, a diminuição da poluição e o suporte a atividades científicas, de pesquisa e educação. “O urânio enriquecido permite que nossa nação avance tecnologicamente, de forma que o Irã se mantém entre as dez nações com essa capacidade”, afirmou.

O discurso reforça a narrativa do governo iraniano de que o programa nuclear é estritamente voltado para fins civis e científicos, ao mesmo tempo em que mantém uma postura de resistência frente a pressões internacionais.

Com essas declarações, Khamenei não apenas reafirma seu ceticismo em relação às negociações com os Estados Unidos, como também projeta uma imagem de fortalecimento interno e regional, vinculando a capacidade nuclear e a aliança com grupos como o Hezbollah à segurança e soberania do Irã.

Com informações de The Cradle*

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.