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Síria teme Israel e vê sua soberania ameaçada

Analistas alertam que trégua é assimétrica: protege civis, mas reduz autonomia do Estado sírio e fragiliza sua soberania A recente declaração de Ahmad al-Sharaa, autoproclamado presidente sírio, de que Damasco está “com medo de Israel”, é mais do que uma admissão de vulnerabilidade; é um sintoma alarmante da erosão do princípio da soberania nacional em […]

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O pacto em gestação limita defesa síria e não responsabiliza Israel, consolidando desigualdade e fragilidade na fronteira.
Ahmad al-Sharaa admite medo de Israel e reforça postura submissa, enquanto acordo de segurança avança em meio a tensões históricas / Anadolu

Analistas alertam que trégua é assimétrica: protege civis, mas reduz autonomia do Estado sírio e fragiliza sua soberania


A recente declaração de Ahmad al-Sharaa, autoproclamado presidente sírio, de que Damasco está “com medo de Israel”, é mais do que uma admissão de vulnerabilidade; é um sintoma alarmante da erosão do princípio da soberania nacional em um Oriente Médio já devastado por conflitos. Enquanto um acordo de segurança entre a Síria e Israel é anunciado como “99% completo”, é crucial analisar criticamente esse processo, que, longe de representar uma paz justa, parece consolidar uma relação de dominação e capitulação. Defender a paz não significa aceitar a subjugação de uma nação, e a soberania síria não deve ser negociada sob a ameaça constante das bombas.

Sharaa, figura cuja trajetória está intrinsicamente ligada a grupos como a Frente Nusra (agora HTS) e que assumiu o controle do país após uma guerra devastadora, afirma que a Síria não cria problemas para Israel. No entanto, essa retórica submissa – “nós temos medo de Israel” – é a antítese da dignidade que um povo merece de seu líder, mesmo em contextos de extrema assimetria de poder.

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O medo é uma reação compreensível perante um Estado que, como relatado, “tem bombardeado repetidamente a Síria” e mantém uma “ocupação generalizada no sul do país”. Mas transformar esse medo em política de Estado é normalizar a violação do direito internacional.

O acordo em gestação, tratado como um “acordo de segurança” e não de paz pelas próprias autoridades sírias, parece ser profundamente desequilibrado. As informações sugerem que Israel se comprometeria a interromper seus ataques em troca de a Síria não mover equipamentos militares para perto da fronteira.

À primeira vista, uma trégua. Mas, na prática, isso consolida uma zona de exclusão no território sírio, onde Damasco abdica de seu direito soberano de se defender, enquanto Israel não é explicitamente responsabilizado por suas incursões passadas e futuras. É uma paz imposta pela força, não fruto do diálogo entre iguais.

A justificativa israelense para seus ataques, como o bombardeio ao palácio presidencial e ao Ministério da Defesa em julho, foi enquadrada como “apoio à minoria drusa”. No entanto, essa narrativa é profundamente cínica. O próprio Sharaa afirma, contraditoriamente, que Damasco apoia os direitos drusos, enquanto relatos acusam suas forças de terem massacrado milhares de civis drusos.

Este caos é o pano de fundo perfeito para a intervenção externa. Israel posa como protetor de minorias enquanto sua ação militar debilita ainda mais as estruturas estatais, criando um vácuo de poder que beneficia seus interesses geopolíticos, especificamente o de “impedir” que o Hezbollah ou o Irã estabeleçam presença no sul da Síria.

O envolvimento dos Estados Unidos, através do enviado especial Tom Barrack, que afirma que “todos estão abordando isso de boa fé”, ignora solenemente a realidade do terreno. A Síria de Sharaa é um Estado falido, controlado por uma facção jihadista que, paradoxalmente, agora reprime as mesmas facções da resistência palestina que outrora encontraram refúgio em Damasco. Esta é a ironia trágica: um governo nascido da guerra e do extremismo, agora negociando a rendição da soberania síria com o mesmo Israel com o qual houve “coordenação confirmada” entre Tel Aviv e a Frente Nusra no passado. Que tipo de acordo pode surgir de uma teia tão complexa de interesses contraditórios e alianças sombrias?

Sharaa alerta, com razão, que a divisão da Síria prejudicaria a Jordânia, o Iraque e a Turquia, levando a região “de volta à estaca zero”. No entanto, um acordo de segurança que sacramenta a impotência de Damasco perante as violações israelenses já é uma forma de divisão.

É a institucionalização de um protetorado de facto. A soberania não é um conceito abstrato; é o direito de um povo a controlar seu território, seu espaço aéreo e seu destino político. Quando um país é forçado a “não ter interesse em um confronto” porque o preço da resistência é a aniquilação, a soberania já está morta.

Portanto, é possível e necessário opor-se à guerra e, ao mesmo tempo, defender intransigentemente a soberania da Síria. A paz verdadeira não será alcançada através de acordos assimétricos negociados sob a mira de armas, mas através do respeito ao direito internacional, da cessação da ocupação estrangeira e da reconstrução de uma Síria verdadeiramente independente e representativa de todo o seu povo. O medo é um conselheiro perigoso.

A submissão, um caminho sem volta. A comunidade internacional deve exigir uma solução que não humilhe uma nação, mas que garanta segurança e justiça para todos os povos da região, incluindo o sírio. A soberania síria não deve abaixar a cabeça; deve ser a base sobre a qual uma paz duradoura será construída.

Com informações de The Cradle*

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