A Faixa de Gaza saiu da tribuna da ONU e entrou nas águas do Mediterrâneo. A Global Sumud Flotilla, agora escoltada por navios de guerra da Espanha, da Itália e da Turquia, virou um teste real para o bloqueio israelense. Oficialmente, a escolta serve para “assistência e resgate”, mas ninguém manda fragata para missão humanitária se não estiver disposto a lidar com risco de confronto. O gesto muda o tabuleiro: pela primeira vez, Estados colocam poder militar para acompanhar uma flotilha rumo a Gaza.
A 80ª Assembleia Geral da ONU mostrou como o tema domina a política mundial. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, chamou Gaza de “barbárie do planeta” e acusou Israel de genocídio. O rei Abdullah II da Jordânia disse que se trata da ocupação ilegal mais longa do mundo, citando dezenas de milhares de mortos e crianças famintas. Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, falou em “guerra de genocídio, destruição e deslocamento”, lembrando que mais de 80% das casas e hospitais foram destruídos. O secretário-geral Antonio Guterres reforçou: nada justifica punir coletivamente o povo palestino.
Do Brasil, Lula foi direto: “nada justifica a matança de civis e o genocídio praticado em Gaza”. A Malásia disse que estamos vendo “um genocídio transmitido em alta definição”. A África do Sul endossou o mesmo diagnóstico. O consenso, mesmo com nuances, é de que Israel está ultrapassando qualquer limite. A diferença agora é que essa indignação não ficou só no discurso. Ela navega rumo a Gaza com bandeiras europeias e turcas hasteadas em navios militares.
Essa escolha cria três possibilidades. A primeira é Israel recuar, deixar a flotilha passar e abrir um precedente histórico: o bloqueio cairia por terra, ao menos simbolicamente. A segunda é Israel atacar e os navios não reagirem, o que seria um desastre para os governos envolvidos, que veriam seus próprios cidadãos — inclusive parlamentares — sendo alvejados sem resposta. A terceira é o pior cenário: um confronto militar direto entre Israel e países da OTAN, algo inédito e de consequências imprevisíveis.
A ONU foi palco de críticas à paralisia do Conselho de Segurança. Lula pediu o fim do direito de veto. Gabriel Boric, presidente do Chile, alertou que poder sem controle leva a rupturas irreparáveis. O chanceler da Malásia defendeu limitar ou abolir o veto. Mas o que vemos é que, na prática, alguns países decidiram agir fora do sistema multilateral. A flotilha, com a escolta europeia e turca, é fruto direto da falência da ONU em resolver a questão palestina.
A presença da Turquia tem um peso particular. Em 2010, o episódio do Mavi Marmara já havia marcado a relação com Israel, quando ativistas turcos foram mortos em alto-mar. Espanha e Itália, por outro lado, não têm esse histórico, mas agora se arriscam a comprar uma briga política — e talvez militar — em defesa de Gaza. A leitura é que esses governos acreditam que Israel vai hesitar diante do risco de confronto com aliados da OTAN, mas o simples envio das fragatas indica que estão preparados para mais do que assistência humanitária.
O chanceler russo Sergey Lavrov disse na ONU que o mundo vive um choque entre uma multipolaridade emergente e um Ocidente que insiste em preservar uma ordem neocolonial. Petro acusou Donald Trump de cumplicidade no genocídio e de usar a política antidrogas como arma contra o Sul. Iván Gil, da Venezuela, falou em bloqueios e ameaças militares contra Caracas e Havana. Tudo aponta para o mesmo quadro: Gaza virou símbolo da disputa pela ordem internacional.
O Mediterrâneo, portanto, é hoje a continuação da Assembleia Geral por outros meios. Se em Nova York as palavras denunciaram genocídio, agora são navios que carregam essa denúncia até as águas bloqueadas. Seja qual for o desfecho, haverá impacto duradouro: a quebra do bloqueio, o desgaste político de governos europeus ou até uma escalada militar inédita. A questão palestina deixou de ser apenas um tema de discursos; ela pode se tornar, a qualquer momento, um confronto naval de repercussões globais.


Marco Paulo Valeriano de Brito
29/09/2025 - 20h10
Francamente, os maiores cúmplices e/ou omissos, nesse genocídio praticado pelo sionismo israelense contra o povo palestino, são o Egito, que faz fronteira com o sul de Gaza, e os países árabes e muçulmanos, com exceção do Irã, dos Houthis iemenitas e do Hezbollah libanês. A divisão no mundo árabe e islâmico tem sido um dos fatores que estimulam e facilitam o avanço expansionista e colonizador de Israel, sobretudo, sobre a Palestina.
Espero, que a partir dessa 80º Assembleia Geral da ONU, o mundo acorde desse pesadelo e uma força pacificadora e reconstrutora global auxilie o povo palestino e contribua efetivamente para a autonomia, emancipação, construção e desenvolvimento do seu Estado-Nação.
Lula da Silva, presidente do Brasil, foi dos primeiros líderes-estadistas globais a denunciar o genocídio palestino e os crimes do exterminador Nethanyahu, que declarou ser Lula uma persona non grata a Israel, e nessa etapa de reconstrução palestina quero ver o Brasil envolvido diretamente nos esforços logísticos e de infraestrutura, pois temos engenharia para essa empreitada, e não ficar somente nos discursos de solidariedade e clamor pela paz em Gaza.
Adelson
29/09/2025 - 17h05
A união faz a fôrça!