Apoio da população argentina a Milei desaba após economia estagnar e desemprego crescer

Foto: Divulgação

Dois anos após prometer “o último remédio amargo” para curar décadas de crise, o presidente argentino Javier Milei enfrenta crescente frustração popular com os rumos da economia. Embora a inflação tenha despencado e a taxa de pobreza tenha recuado de 42% em 2023 para 32%, o país entrou em um ciclo de estagnação, com queda na atividade econômica e aumento do desemprego.

A promessa de retomada que parecia próxima no fim de 2024 perdeu força ao longo deste ano. Desde abril, a economia argentina mostra retração, e os salários reais seguem paralisados no mesmo nível de dois anos atrás. “As pessoas ainda estão lutando para chegar ao fim do mês”, diz Nadina Casagrande, de 22 anos, que comanda um pequeno negócio de roupas em La Plata. Eleitora de Milei em 2023, ela votou em branco nas últimas eleições provinciais. “Não estou mais entusiasmada”, afirma.

A insatisfação se espalha entre pequenos empresários. O padeiro Pablo Miró relata que “as pessoas têm pagado pão com cartão de crédito”, e Belén Aguilar, dona de uma loja de chocolates, anunciou o fechamento do negócio após as vendas caírem 50% neste ano. “Não é mais sustentável manter a loja física”, lamenta.

A deterioração econômica e denúncias de corrupção envolvendo a chefe de gabinete e irmã do presidente, Karina Milei, ampliaram o desgaste político do governo. Nas eleições de setembro, os libertários foram derrotados pelos peronistas na província de Buenos Aires, reduto decisivo que Milei havia conquistado por pequena margem em 2023.

O revés eleitoral provocou fuga de capitais e nova pressão sobre o peso argentino, parcialmente contida após o anúncio de um possível socorro financeiro do Tesouro dos EUA. Ainda assim, analistas alertam para o risco de paralisia política caso Milei não consiga ampliar sua base no Congresso nas eleições legislativas de 26 de outubro.

“O governo deve continuar estagnado ou em recessão até as eleições”, avalia o economista Martín Rapetti, diretor da consultoria Equilibra. “Se ele não conseguir força política depois disso, é difícil ver uma recuperação real.”

A política econômica de Milei, focada na redução da inflação e no fortalecimento do peso, ajudou a conter os preços, mas encareceu exportações e prejudicou indústrias locais. Pequenas e médias empresas enfrentam juros anuais superiores a 60%, enquanto o governo mantém reajustes salariais e previdenciários abaixo da inflação.

Em meio à crise, Milei tenta reconquistar apoio popular com medidas pontuais, como descontos para aposentados e aumento moderado nos gastos sociais previstos no orçamento de 2026. Em entrevista no último domingo (5), o presidente voltou a pedir paciência. “Nunca disse que seria fácil”, afirmou. “Peço aos argentinos que não desistam, porque estamos na metade do caminho.”

Lucas Allabi: Jornalista em formação pela PUC-SP e apaixonado pelo Sul Global. Escreve principalmente sobre política e economia. Instagram: @lu.allab
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