A Caixa Econômica Federal exonerou nesta sexta-feira (10) dois nomes ligados a figuras influentes do Centrão, em uma ação interpretada como resposta direta ao embate político entre o governo Lula e a Câmara dos Deputados. As demissões ocorrem após a derrota do Planalto na votação da Medida Provisória 1303, que tratava do aumento de arrecadação sobre investimentos e apostas eletrônicas.
As informações foram divulgadas pela coluna Painel, da Folha de S. Paulo, e indicam uma retaliação interna do governo a quadros do banco estatal vinculados a líderes do bloco parlamentar que tem tensionado a relação com o Palácio do Planalto.
Movimentação após derrota na Câmara
A MP 1303, que previa a elevação de receitas sobre plataformas digitais e apostas, foi derrubada pela Câmara dos Deputados na última semana, após uma mobilização de deputados do Centrão contra o texto articulado pelo Ministério da Fazenda.
A reação da Caixa ocorre em meio ao clima de recrudescimento político entre o Executivo e o grupo liderado por Arthur Lira (PP-AL). O Centrão, que controla boa parte das indicações em cargos de segundo e terceiro escalões, tem utilizado votações estratégicas para pressionar o governo por mais espaço e liberação de recursos.
Exonerações na Caixa
Em comunicado ao mercado, a Caixa confirmou a exoneração de Rodrigo de Lemos Lopes, que ocupava o cargo de vice-presidente de Sustentabilidade e Cidadania Digital do banco.
Lopes é ligado ao vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), aliado próximo de Arthur Lira e integrante da base do Partido Liberal, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O comunicado informa que Jean Rodrigues Benevides, atual diretor executivo da área, assumirá o posto interinamente até a nomeação de um novo titular.
A segunda exoneração atingiu José Trabulo Junior, que desde setembro de 2024 atuava como consultor da presidência da Caixa. Trabulo é ligado ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro e presidente nacional do Progressistas, partido que lidera a ala mais articulada do Centrão.
Reação política e simbolismo das demissões
Nos bastidores, as exonerações foram vistas como um recado político do governo ao bloco comandado por Lira e Ciro Nogueira. Ambos têm intensificado o confronto com o Planalto nas últimas semanas, sobretudo após divergências sobre a distribuição de cargos e o controle de estatais e bancos públicos.
Fontes próximas à Caixa informaram que as decisões foram tratadas internamente como “ajustes administrativos”, mas interlocutores do Centrão afirmam que as demissões têm caráter político evidente, principalmente diante da derrota do governo na Câmara.
A leitura no Congresso é que o Palácio do Planalto busca retomar o comando sobre estruturas estratégicas e enviar um sinal de que não aceitará pressões políticas via votações legislativas.
“As exonerações ocorrem em um momento de tensão máxima entre o Executivo e o Centrão, após a derrubada de uma medida considerada prioritária pela equipe econômica”, avaliou um parlamentar próximo ao governo.
Contexto político
A Medida Provisória 1303 havia sido proposta pela equipe do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e previa mudanças tributárias para ampliar a arrecadação sobre fundos de investimento e apostas online, uma das frentes mais sensíveis da política fiscal do governo.
O texto foi derrubado em votação simbólica, evidenciando a fragilidade da articulação política do Planalto junto à Câmara. Deputados do Centrão afirmaram que a decisão foi um “recado político” ao governo, em resposta a atrasos na liberação de emendas parlamentares e nomeações em cargos estratégicos.
Com a derrota, o governo perdeu uma medida considerada essencial para reforçar o caixa da União em 2025, ao mesmo tempo em que expôs a falta de coordenação entre o Planalto e sua base na Câmara.
Implicações para o governo e para a Caixa
As demissões de Lopes e Trabulo Junior marcam a primeira reação concreta do governo dentro da estrutura da Caixa após o revés político no Legislativo. A estatal é considerada um dos espaços mais cobiçados por partidos do Centrão, que tradicionalmente indicam nomes para cargos de direção e consultoria.
A presidência do banco, atualmente ocupada por Carlos Vieira, mantém vínculos com setores do PSD e do próprio Centrão, o que reforça a complexidade política em torno da gestão.
Nos bastidores, interlocutores do governo afirmam que novas mudanças não estão descartadas, e que o Palácio do Planalto monitora indicações associadas a partidos que têm imposto derrotas ao Executivo no Congresso.
As exonerações desta sexta-feira, portanto, são vistas como parte de um esforço para reequilibrar forças políticas dentro da Caixa e reafirmar a autoridade do governo sobre cargos estratégicos.
Próximos passos
O governo pretende reforçar a interlocução com líderes partidários aliados e tentar recompor a base parlamentar nas próximas semanas, especialmente após o desgaste causado pela votação da MP 1303.
Enquanto isso, a Caixa Econômica Federal deve concluir a substituição definitiva dos dois cargos ainda em novembro. O banco, por sua vez, busca minimizar o impacto político das exonerações e preservar a imagem institucional diante do mercado e dos órgãos de controle.
📊 Resumo do caso:
- Instituição: Caixa Econômica Federal
- Data das exonerações: sexta-feira, 10 de outubro
- Exonerados: Rodrigo de Lemos Lopes e José Trabulo Junior
- Ligações políticas: Altineu Côrtes (PL-RJ) e Ciro Nogueira (PP-PI)
- Substituto interino: Jean Rodrigues Benevides
- Contexto: retaliação após derrota do governo Lula na votação da MP 1303
- Fonte: coluna Painel, da Folha de S. Paulo


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