Menu

Otimismo com China e Japão leva bolsas a recordes históricos

As bolsas globais disparam com o clima de trégua entre EUA e China, mas a euforia financeira revela um sistema que protege lucros e abandona pessoas Um sentimento de entusiasmo tomou conta dos mercados financeiros ao redor do mundo. O que começou como um discreto alívio na manhã de segunda-feira logo se transformou em uma […]

sem comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News
A trégua dos gigantes e o preço pago pelos pequenos / Reprodução

As bolsas globais disparam com o clima de trégua entre EUA e China, mas a euforia financeira revela um sistema que protege lucros e abandona pessoas


Um sentimento de entusiasmo tomou conta dos mercados financeiros ao redor do mundo. O que começou como um discreto alívio na manhã de segunda-feira logo se transformou em uma onda de euforia, refletindo o otimismo crescente em duas frentes decisivas: a reaproximação entre Estados Unidos e China e o surgimento de uma nova liderança política no Japão. O resultado foi uma disparada das bolsas da Ásia e dos Estados Unidos, com índices atingindo patamares nunca vistos.

O grande destaque veio do mercado japonês. O índice Nikkei 225 saltou 2,5% e ultrapassou, pela primeira vez em sua história, a barreira psicológica dos 50 mil pontos — um marco simbólico que reacende o interesse global pelo país. Na Coreia do Sul, o Kospi também viveu um dia de glória, subindo 2,9% e registrando recorde histórico. O entusiasmo se espalhou pelo continente: o CSI 300 da China avançou 1,2%, enquanto o Hang Seng de Hong Kong fechou com alta de 1,1%.

Esse otimismo atravessou o Pacífico e contagiou Wall Street. O S&P 500 terminou o dia em alta de 1,2%, e o Nasdaq Composite, dominado por gigantes da tecnologia, valorizou-se 1,8%. Ambos os índices norte-americanos atingiram novos recordes, impulsionando expectativas positivas para a semana que inclui a aguardada decisão de juros do Federal Reserve e a divulgação de balanços de grandes corporações.


Trégua entre superpotências reacende confiança global

O motor desse movimento positivo está na esperança de uma trégua duradoura entre Washington e Pequim. Donald Trump e Xi Jinping devem se encontrar ainda esta semana na Coreia do Sul — a primeira reunião entre os dois desde 2019 —, reacendendo expectativas de um acordo que possa aliviar as tensões comerciais.

O encontro acontece após meses de hostilidade, marcados pela decisão da China de impor controles sobre a exportação de terras raras e pela ameaça de Trump de aplicar uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses. Mas as negociações do fim de semana na Malásia mudaram o tom. Fontes do governo americano indicam que Pequim pode recuar dessas medidas, o que reacendeu o apetite por risco nos mercados.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, reforçou o clima de otimismo ao declarar que as conversas resultaram em uma estrutura “muito positiva” para a reunião. A expectativa é que o acordo vigente, que expira em 10 de novembro, seja prorrogado, oferecendo um alívio bem-vindo ao comércio global.

Analistas enxergam o momento como um retorno à racionalidade. “Está a regressar algum pragmatismo”, avaliou Emmanuel Cau, chefe de estratégia de ações europeias do Barclays. “O mercado está a habituar-se a ignorar o ruído, partindo da expectativa de que [os EUA e a China] precisam um do outro.” Para ele, esse movimento reforça a narrativa de otimismo que domina as bolsas nas últimas semanas.


O “efeito Takaichi”: Japão volta a inspirar investidores

Enquanto as atenções se voltam para a diplomacia entre as superpotências, o Japão vive seu próprio momento de virada. A histórica valorização do Nikkei também é resultado direto da ascensão da nova primeira-ministra, Sanae Takaichi, e de suas promessas de reanimar a economia japonesa.

Em um discurso recente, Takaichi apresentou um pacote de medidas que inclui o aumento dos investimentos em crescimento e, principalmente, um expressivo impulso aos gastos com defesa. O impacto foi imediato: ações da Kawasaki Heavy Industries, fabricante de armamentos, dispararam 7,1% e puxaram o índice para cima.

A visita de Donald Trump ao Japão nos próximos dias, para uma reunião com Takaichi voltada ao fortalecimento da aliança bilateral, acrescenta ainda mais confiança ao ambiente de negócios.

Para veteranos do mercado, o salto do Nikkei representa uma mudança de época. Nicholas Smith, estrategista da CLSA, afirmou que “a ultrapassagem dos 50 mil pontos reflete a mudança do espírito da época: ultrapassar os 40 mil no ano passado quebrou a maldição do teto de vidro, mas a alta de 62% em relação às mínimas deste ano demonstra que, pela primeira vez em uma geração, o Japão voltou a ser um lugar onde realmente se pode ganhar dinheiro.”

Neil Newman, da Astris Advisory, compartilha do mesmo entusiasmo. Segundo ele, a alta está sendo alimentada por investidores estrangeiros que voltaram a apostar nas grandes empresas japonesas. “Acho que 60 mil pontos até o próximo verão é totalmente possível… O ritmo com que o mercado está se movimentando é algo que não víamos desde a era Abenomics, há uma década. Tudo parece muito esticado, mas há um impulso real”, disse.


O efeito dominó sobre os mercados

O alívio geopolítico também impactou setores sensíveis às tensões comerciais. Giles Parkinson, chefe de ações da TrinityBridge, observou que “a perspectiva de paz entre as duas superpotências significa que o comércio de IA e semicondutores que atravessam fronteiras continua a receber sinal verde. Isso remove um fator limitante para parte desse comércio de IA.”

Como reflexo, as ações da Nvidia subiram 2,8%, acompanhando o entusiasmo com a possível normalização do comércio tecnológico.

As commodities também reagiram. O ouro, tradicional refúgio em momentos de incerteza, despencou 3,1%, ficando abaixo dos US$ 4.000 por onça. Em contrapartida, o cobre — considerado um termômetro da atividade industrial — avançou 0,9%. “Sinais de progresso nas negociações impulsionaram o otimismo no setor de metais”, explicou Daniel Hynes, estrategista sênior de commodities do ANZ.

Enquanto isso, o Bitcoin manteve estabilidade, negociado a US$ 114.638 após ganhos expressivos no fim de semana.

Nos Estados Unidos, os investidores celebraram também a divulgação de dados de inflação mais baixos do que o esperado, o que aumenta a expectativa de que o Federal Reserve possa reduzir as taxas de juros em breve.

“Estamos num ambiente em que vemos o Fed a flexibilizar ainda mais a política monetária, mesmo sem haver recessão nos EUA”, avaliou Frank Benzimra, chefe de estratégia de ações asiáticas do Société Générale. “Isso tem alguma influência em todos os outros mercados de ações.”

Com o cenário internacional mais calmo, uma liderança confiante no Japão e sinais de distensão entre Washington e Pequim, o mundo financeiro respira aliviado — e, pela primeira vez em muito tempo, volta a sonhar alto.

Com informações de Financial Times*

, , , ,
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!


Leia mais

Recentes

Recentes