Partido de Milei vence as eleições na Argentina com ampla maioria

Cristina Sille/REUTERS

Partido do presidente sai vitorioso nas eleições legislativas. Desempenho melhor que o esperado é visto como aval dos candidatos às reformas econômicas ultraliberais.

O presidente da Argentina, Javier Milei, obteve neste domingo (26/10) o aval dos candidatos para seguir adiante com sua reforma radical da economia, apesar das amplas críticas às medidas de austeridade por ele adotadas.

O partido de Milei, La Libertad Avanza (LLA), saiu vitorioso das eleições legislativas de meio de mandato, que renovaram metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, com cerca de 40% dos votos. O resultado foi bem melhor do que o esperado por Milei e seus apoiadores. A oposição peronista obteve cerca de 25%.

A boa votação pode ser entendida como um amplo apoio da população argentina ao governo de Milei, que completará dois anos no poder em dezembro. A maior conquista foi a redução da inflação por meio de um severo plano de ajuste que, do outro lado, gerou desemprego, precariedade no mercado de trabalho e turbulência nos mercados financeiros e elevou a dívida do país.

Os escândalos e as denúncias de corrupção envolvendo o presidente e seus colaboradores próximos, incluindo sua irmã Karina, tiveram pouco efeito nas urnas.

A proximidade de Milei com o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, os empréstimos concedidos ao país pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e a ajuda financeira do Tesouro dos EUA para apoiar o peso argentino parecem ter sido aceitos pela população.

Decisivas para reformas

As eleições foram decisivas para a agenda ultraliberal de Milei e lhe deram margem de manobra para levar adiante suas políticas de ajuste econômico e desregulamentação da economia nos dois anos finais de seu mandato.

Durante a campanha eleitoral, Milei declarou que seu objetivo era conquistar um terço das cadeiras na Câmara dos Deputados para sustentar suas reformas. Ele não só conquistou esse objetivo como também chegou muito perto de alcançar um terço do Senado, considerando a aliança estratégica com o partido de direita PRO.

Após a vitória, Milei declarou que vai implementar “as reformas que ainda faltam” e que o novo Congresso será fundamental para garantir esse ato. “Durante os próximos dois anos, temos de fazer avançar o caminho reformista que iniciamos”, disse. “Teremos, sem dúvida, o Congresso mais reformista da história da Argentina”, acrescentou.

Vitória também para Trump

Os resultados também agradaram ao presidente Donald Trump, cujo governo fez críticas após conceder um resgate financeiro vulnerável à Argentina.

Para conter a desvalorização do peso, Milei queimou bilhões de dólares em reservas cambiais. Numa ação extraordinária, o governo Trump ofereceu um resgate no valor de 40 bilhões de dólares, incluindo um swap cambial de 20 bilhões de dólares já contratado e uma proposta de linha de crédito de mais 20 bilhões.

Trump condicionou a ajuda à Argentina para uma vitória de Milei nas urnas. “Se ele vencer, ficaremos com ele; se não vencer, sairemos”, disse no início do mês, após receber Milei na Casa Branca.

Neste domingo, o presidente americano felicitou o argentino pela “vitória esmagadora” nas eleições legislativas. “Ele está fazendo um excelente trabalho! O povo argentino justificou a nossa confiança nele”, escreveu Trump na rede social dele, a Truth Social.

Mais uma chance a Milei

Analistas disseram que o desempenho melhor do que o esperado pode ser um sinal de que, diante do risco de uma nova turbulência econômica, os argentinos acharam melhor optar pelas políticas de austeridade de Milei, que, mesmo tendo subsídios usados ​​por muitos argentinos, ao menos conseguir desacelerar significativamente a inflação.

Essa foi a análise do diretor da empresa de pesquisas Zuban Córdoba, Gustavo Córdoba, que se declarou surpreso com o desempenho de Milei e que neste momento o resultado das urnas reflete a preocupação com a potencial repetição das crises econômicas dos governos anteriores. “Muitas pessoas estavam dispostas a dar outra chance ao governo”, disse ele. “Veremos quanto tempo a sociedade argentina dará ao governo. Mas o triunfo é inquestionável”, declarou à agência de notícias Reuters.

A cientista política Maria Laura Tagina, da Universidade Nacional de San Martin, disse que, apesar do índice de aprovação de Milei ter sofrido com as medidas de austeridade e os escândalos de corrupção, é possível que os argentinos desiludidos tenham decidido ficar em casa. A participação eleitoral foi de cerca de 68%, o segundo menor em mais de uma década, segundo relatos da mídia.

O  eleitorado parece dividido entre os beneficiários das reformas de Milei e aqueles que nunca enfrentaram tantas dificuldades para sobreviver. Num refeitório comunitário no subúrbio de Buenos Aires, Epifanía Contreras, de 64 anos, disse sentir que está arcando com o peso das reformas. “Não dá para viver com uma aposentadoria de 290 mil pesos por mês com a inflação atual”, disse ela. “A situação está piorando cada vez mais.”

“Voto por obrigações, nada mais”, disse o corretor imobiliário Matías Paredes, de 50 anos, cuja clientela estrangeira estava com o câmbio forte de Milei. “Nenhuma dessas figuras inspira otimismo. Estamos apenas escolhendo o mal menor.”

O que vem por aí

Os resultados posicionaram automaticamente Milei como candidato à reeleição em 2027. Ele acenou com uma reforma ministerial após a eleição, que poderá incluir membros do partido centrista PRO, um aliado frequente do governo no Congresso e que é liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri.

De acordo com suas próprias declarações e com os membros de seu partido, o presidente pretende implementar um novo regime tributário e uma mudança substancial nas leis trabalhistas.

Milei chegou ao poder com a promessa de redução de impostos, algo que até agora não conseguiu, e que vem sendo reivindicado por diversos setores produtivos e empresariais nacionais, bem como por grupos de investimento estrangeiro. Além disso, Milei pretende modificar os procedimentos de contratação, flexibilizar as contribuições previdenciárias e restringir a representação sindical.

Publicado originalmente pelo DW em 27/10/2025

Por Alexandre Schossler com AP, Reuters e Efe

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