Metade dos brasileiros rejeita a ideia de pedir ajuda dos Estados Unidos para combater o tráfico de drogas no país, segundo a nova pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (12). O levantamento avaliou a percepção da população sobre segurança pública após a operação policial no Rio de Janeiro que deixou 121 mortos, a mais letal da história do estado.
De acordo com os dados, 50% dos entrevistados discordam da proposta de cooperação com os EUA, 45% concordam e 5% não souberam responder. A sondagem foi realizada entre 6 e 9 de novembro de 2025, em 120 municípios das cinco regiões do Brasil.
A ideia ganhou destaque depois que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sugeriu que os Estados Unidos “atuassem por alguns meses” no Rio de Janeiro para auxiliar no enfrentamento do crime organizado.
Divisão política marca opinião pública
O levantamento revela forte divisão ideológica entre os grupos políticos.
Entre os eleitores bolsonaristas, 74% apoiam a intervenção americana, enquanto 66% da direita não bolsonarista também se disseram favoráveis.
Já entre os eleitores lulistas, 72% rejeitam a proposta.
Entre os simpatizantes da esquerda não lulista, a rejeição é ainda maior — 79%.
Esses resultados mostram que o tema se tornou mais político do que operacional, com as opiniões refletindo o alinhamento partidário e ideológico dos entrevistados.
Contexto: chacina com 121 mortos e críticas à atuação policial
O debate sobre segurança pública se intensificou após a chacina nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que terminou com 121 mortes — 117 suspeitos e 4 policiais, segundo o secretário da Polícia Civil, delegado Felipe Curi.
A operação, iniciada em 28 de outubro, foi classificada pelo governador Cláudio Castro (PL) como “um sucesso”, e ele afirmou que “as únicas vítimas foram os quatro policiais mortos”.
A ação, no entanto, recebeu críticas de organizações de direitos humanos, que pediram investigação independente sobre a letalidade da operação e o uso da força policial.
Apesar das controvérsias, 67% da população nacional declarou aprovar a operação, de acordo com a mesma pesquisa Genial/Quaest divulgada na semana anterior.
Apoio à classificação de facções como grupos terroristas
A pesquisa também investigou a percepção da população sobre o endurecimento das leis contra o crime organizado.
Segundo os dados, 73% dos brasileiros defendem que facções como o Comando Vermelho e o PCC sejam classificadas como organizações terroristas.
Outros 20% são contra essa medida, e 7% não souberam opinar.
A proposta de reclassificação das facções tem sido discutida em projetos de lei no Congresso Nacional e conta com apoio de parte da bancada da segurança pública. Se aprovada, pode permitir uso ampliado de instrumentos legais e militares contra essas organizações.
Opinião regional e contexto social
Embora a pesquisa não tenha detalhado os índices por região para este tema, dados anteriores da Quaest mostram que o apoio a medidas de força tende a ser maior no Sul e Centro-Oeste, enquanto o Sudeste e o Nordeste apresentam maior divisão nas respostas.
Analistas políticos destacam que a alta polarização em torno do tema da segurança reflete a tensão entre políticas de enfrentamento armado e propostas de prevenção social.
A discussão sobre apoio internacional, segundo pesquisadores, reativa memórias de intervenções estrangeiras em segurança pública na América Latina, um ponto sensível para parte da população.
Metodologia
O levantamento da Genial/Quaest ouviu 2.004 pessoas em entrevistas presenciais realizadas entre os dias 6 e 9 de novembro de 2025.
As entrevistas ocorreram em 120 municípios de todas as regiões do país.
A pesquisa tem margem de erro de 2 pontos percentuais e nível de confiança de 95%.
Os dados reforçam a polarização da opinião pública em torno da segurança pública e da soberania nacional, especialmente após a escalada da violência no Rio de Janeiro.
Debate sobre soberania e cooperação internacional
A proposta de cooperação com os Estados Unidos no combate ao tráfico reacendeu o debate sobre autonomia e soberania nas ações de segurança pública.
Especialistas ouvidos pela imprensa afirmam que uma intervenção direta de forças estrangeiras seria inviável juridicamente, mas a cooperação técnica — por meio de inteligência, tecnologia e rastreamento financeiro de facções — é uma possibilidade.
Desde 2023, o Brasil mantém acordos de colaboração com agências internacionais para intercâmbio de informações sobre narcotráfico, mas o governo federal tem reiterado que não há planos de ação conjunta em território nacional.
Divisão reflete prioridades distintas
Os resultados indicam que a população está dividida entre segurança e soberania.
Para metade dos entrevistados, aceitar ajuda estrangeira seria um risco à independência das instituições brasileiras.
Para a outra metade, a prioridade é conter a violência, ainda que com apoio internacional.
O tema tende a permanecer no centro do debate público enquanto o país discute novas políticas de combate ao crime organizado e a eficácia das operações policiais em territórios urbanos.


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