A Telebras anunciou durante a COP30, em Belém (PA), um movimento considerado estratégico para o setor de conectividade nacional: a assinatura de um Memorando de Entendimento (MoU) com a multinacional europeia SES, uma das maiores operadoras globais de satélites. O acordo abre caminho para que o Brasil passe a disputar o mercado de internet via satélite em condições mais equilibradas com a Starlink, empresa de Elon Musk, que hoje domina o segmento no país.
A iniciativa representa a primeira cooperação técnica brasileira voltada ao uso de satélites de média órbita (MEO), tecnologia apontada pela Telebras como capaz de entregar desempenho superior ao de sistemas baseados em satélites de baixa órbita (LEO), como os utilizados pela Starlink. O MoU prevê uma série de testes e demonstrações de acesso à internet durante a COP30, servindo como etapa inicial para um possível contrato comercial entre as duas empresas.
Segundo informações divulgadas pelo portal ErreJota Notícias, essa é a primeira vez que um serviço MEO será avaliado em território brasileiro com foco em conectividade pública e infraestrutura crítica. A Telebras pretende utilizar sua estrutura terrestre já existente para viabilizar a operação, o que reduz custos, acelera a adoção tecnológica e amplia o alcance da iniciativa.
Parceria busca suprir regiões remotas e reforçar soberania digital
De acordo com a Telebras, a tecnologia MEO oferece latência mais baixa, maior durabilidade e resistência operacional, além de exigir menos satélites em órbita para cobrir áreas extensas. Para o governo federal, essas características atendem diretamente a políticas públicas de inclusão digital, com foco em escolas rurais, postos de saúde, bases de segurança e comunidades isoladas.
O ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, afirmou que o acordo faz parte de uma estratégia de fortalecimento da soberania tecnológica brasileira. Segundo ele, “essa cooperação vai beneficiar projetos do Governo Federal, levando inclusão digital a áreas mais remotas do país e exigindo menos satélites para oferecer conexão de qualidade”.
A SES, baseada em Luxemburgo e operando constelações MEO e GEO, já possui presença no país por meio do Programa Gesac, que atende localidades sem cobertura convencional. O novo memorando amplia essa parceria, permitindo que a Telebras utilize infraestrutura crítica da operadora, incluindo gateways instalados no Brasil, o que mantém o tráfego de dados sob jurisdição nacional.
Desempenho técnico e impacto no mercado brasileiro
A tecnologia MEO é vista por especialistas como uma alternativa capaz de disputar espaço com a Starlink, principalmente em áreas onde a baixa latência é requisito central, como telemedicina, ensino remoto, operações militares e monitoramento ambiental. Segundo dados apresentados pela Telebras, sistemas MEO podem operar com desempenho até dez vezes superior ao de redes LEO em determinadas aplicações.
O avanço ocorre em um momento em que a Starlink se consolidou no Brasil como principal fornecedora de internet via satélite, especialmente em regiões rurais e remotas. A entrada de um segundo player com capacidade global é considerada relevante para a diversificação da oferta e para o equilíbrio competitivo no setor.
Executivos do governo avaliam que a iniciativa pode contribuir para reduzir custos de conectividade, ampliar o acesso à rede em políticas sociais e aumentar a autonomia do país no desenvolvimento de soluções digitais que não dependam exclusivamente de operadores privados estrangeiros.
Testes, etapas e perspectivas futuras
Durante a COP30, a Telebras e a SES realizarão testes públicos de conectividade de alta velocidade, com o objetivo de demonstrar o funcionamento de antenas e enlaces MEO integrados à infraestrutura terrestre da estatal. Caso os resultados sejam positivos, a parceria poderá ser convertida em um acordo comercial permanente, cujo foco será atender áreas remotas da Amazônia, comunidades ribeirinhas e localidades fora do alcance de redes convencionais.
A expectativa do governo é que o entendimento seja formalizado ainda nesta semana. A partir dessa fase, a Telebras poderá ter acesso ampliado à constelação O3b mPOWER, operada pela SES, uma das mais avançadas redes MEO em atividade no mundo.
Gestores do setor destacam que o Brasil passa a integrar um grupo reduzido de países que testam e aplicam soluções de média órbita para inclusão digital em larga escala. Para analistas, o movimento reforça uma mudança no posicionamento da Telebras, que volta a se inserir de forma ativa em projetos estratégicos de conectividade nacional.
Marco para o setor de satélites no Brasil
A assinatura do MoU representa um marco no processo de modernização das redes públicas de comunicação e ocorre em meio ao aumento da demanda por conexões estáveis em regiões com baixa infraestrutura. Com a possibilidade de operar sistemas MEO, o Brasil eleva sua capacidade de atendimento em larga escala, reduz dependências externas e amplia ferramentas para políticas sociais de conectividade.
Se confirmada a implementação comercial, a parceria poderá transformar o mercado brasileiro de internet via satélite, promovendo concorrência direta com a Starlink e criando um cenário mais diversificado e tecnologicamente robusto.


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