‘É um absurdo que a França redija a Constituição palestina’

Mariana Castro/Brasil de Fato

Rula Shadeed, liderança e jurista palestina, aponta duras críticas à proposta, liderada por Emmanuel Macron

Há cerca de uma semana, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou a criação de um comitê, com o apoio da Autoridade Palestina para ajudar a redigir uma Constituição, o que tem sido visto como positivo por países democráticos, mas duramente criticado pela resistência palestina.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Rula Shadeed, ativista palestina, jurista em Direito Penal internacional e codiretora do Instituto Palestino de Diplomacia Pública (PIPD), aponta que é inadmissível aceitar essa proposta.

“Nem de forma lógica seria possível pensar que um Estado colonial e supremacista, que é cúmplice do genocídio em Gaza e está oprimindo e criminalizando os palestinos e os grupos de solidariedade, poderia de qualquer forma ser uma parte boa ou positiva em liderar a escrita de uma Constituição palestina. Pelo amor de Deus, isso é absurdo”, desabafa Shadeed.

A jurista também critica que a Autoridade Palestina, liderada por Mahmoud Abbas, seja a responsável pela criação e controle do comitê para redigir a Constituição e defende maior participação popular. “[Abbas] está no poder nos últimos 17 anos”, opina.

Cabe destacar que as únicas eleições gerais já realizadas na Palestina, em 2006, mesmo tendo sido consideradas justas, seu resultado, com a vitória do Hamas, não foi aceito pela comunidade internacional. Desde então, a ocupação israelense não permitiu eleições nos territórios palestinos.

Em declaração coletiva à imprensa, Macron anunciou que o comitê será responsável por trabalhar em todos os aspectos legais: constitucionais, institucionais e organizacionais para a construção da Constituição palestina, mas segundo Shadeed, sem a participação do povo palestino.

“Nossas demandas são claras: não é possível que haja algo na Palestina para palestino sem os palestinos. Nosso povo não está resistindo há mais de 100 anos para no final das contas receber um estado colonial francês para escrever a nossa constituição, que deve representar o nosso povo e as nossas necessidades”.

Por meio do Brasil de Fato, Shadeed convoca a sociedade brasileira a se aprofundar na temática, levando em consideração especialmente as demandas do povo palestino.

“Eu gostaria de através de vocês, informar ao povo brasileiro que eles deveriam ter sido um pouco mais críticos à ideia de que um país estrangeiro, especialmente a França, conhecida por suas atrocidades no continente africano e em outros lugares do mundo, façam a Constituição palestina. Convido vocês a se engajaram por princípios éticos”, conclui Rula Shadeed.

Publicado originalmente pelo Brasil de Fato em 18/11/2025

Por Mariana Castro – Belém (PA)

Edição: Maria Teresa Cruz

Redação:
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