A armação espúria contra Eduardo Appio

Divulgação/Justiça Federal do Paraná

O juiz Eduardo Appio assumiu a titularidade da 13ª Vara Federal de Curitiba após Sergio Moro abandoná-la para ingressar na vida política como um dos principais quadros da extrema-direita brasileira.

Tornou-se, assim, uma figura central na revelação das engrenagens sinistras de um esquema que, sob pretexto de combater a corrupção, acabou por gerá-la.

Ao ocupar o cargo, Appio se deparou com um cenário de graves crimes e irregularidades cometidos por Moro e pela equipe da força-tarefa da “Lava Jato”.

Suas descobertas o levaram a apresentar uma denúncia formal à Corregedoria Nacional de Justiça, então sob o comando do corregedor Luis Felipe Salomão.

A investigação, iniciada a partir da denúncia, ganhou corpo e escalou até o Supremo Tribunal Federal (STF), que passou a supervisionar o caso.

Diante da recusa da 13ª Vara em fornecer documentos insistentemente solicitados, o STF autorizou uma operação de busca e apreensão nas dependências do tribunal.

Havia um temor, entre os investigados, de que a presença de Appio fosse decisiva para indicar a localização física de provas ocultas que poderiam comprometer os operadores da “Lava Jato”.

Foi nesse contexto de alta tensão que uma nova e grave acusação surgiu contra o juiz.

Appio foi acusado de ter furtado três garrafas de bebida do supermercado Giassi, na cidade de Blumenau, em Santa Catarina. Segundo o magistrado, trata-se de uma montagem.

A investigação foi conduzida pelo delegado Ulisses Gabriel, apontado como braço direito do governador catarinense Jorginho Mello (PL), um político alinhado a Sergio Moro e ao bolsonarismo.

Para Appio, o objetivo da acusação era claro: impedir qualquer contribuição que ele pudesse dar à investigação sobre o desvio de milhões de reais oriundos de multas e acordos da “Lava Jato”.

As apurações investigam o desvio de recursos de várias maneiras. Uma parte do dinheiro seria destinada a uma fundação privada a ser gerida por Deltan Dallagnol e outros membros da força-tarefa, incluindo Moro.

Outra forma de desvio seria a absorção dos valores pelos próprios agentes, na forma de bônus, diárias de viagem e equipamentos.

A denúncia mais grave, feita pelo advogado Tacla Duran, aponta para o pagamento de propina a escritórios de advocacia ligados aos operadores do esquema.

Com bravura, Eduardo Appio detalhou essas e outras irregularidades no livro “Tudo por dinheiro: a ganância da ‘lava jato’ segundo Eduardo Appio”, escrito em coautoria com Salvio Kotter.

A obra expõe as entranhas de um sistema que, sob o pretexto de combater a corrupção, teria se transformado em um jogo de poder e ganância, cujas consequências ainda reverberam no cenário político e jurídico do país.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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