O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) foi retirado à força da Mesa Diretora da Câmara por policiais legislativos na tarde desta terça-feira (9), após se recusar a deixar a cadeira do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). A ocupação durou cerca de duas horas e ocorreu após Motta afirmar que colocará em votação ainda este ano a cassação do mandato do parlamentar. A TV Câmara interrompeu a transmissão durante o tumulto, e jornalistas foram obrigados a deixar o plenário, em um gesto que suscitou acusações de censura das entidades da imprensa.
A confusão foi registrada em celulares de parlamentares depois que a transmissão oficial foi cortada às 17h34. Nas imagens, policiais legislativos cercam o deputado e o retiram à força, rasgando parte de seu terno. Deputadas do PSOL, entre elas Célia Xakriabá e Sâmia Bomfim, tentaram intervir. Após ser removido, Braga acusou a Presidência da Câmara de cercear a imprensa e afirmou ter sido alvo de tratamento “radicalmente distinto” daquele dado aos parlamentares bolsonaristas que, em agosto, ocuparam a Mesa Diretora por até 48 horas sem sofrer intervenção semelhante.
A referência de Braga aponta para um episódio que fragilizou a própria presidência de Hugo Motta. Na ocasião, deputados aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro mantiveram a Mesa Diretora da Câmara e do Senado impedidas por quase dois dias, protestando contra a prisão domiciliar de Bolsonaro e cobrando a votação de um projeto de anistia para condenados pelos ataques de 8 de Janeiro. Nenhum deles foi retirado pela polícia legislativa, e Motta chegou, posteriormente, a avaliar suspensões cautelares que acabaram arquivadas por falta de apoio interno. As representações disciplinares dos envolvidos, hoje sob a corregedoria, seguem pendentes, em um processo que deve se prolongar por semanas.
A retirada de Glauber ocorreu no contexto do processo que pode levar à cassação de seu mandato. O deputado é acusado de quebra de decoro após se envolver em um conflito físico, em abril de 2024, com o militante do MBL Gabriel Costenaro, e em nova discussão com o deputado Kim Kataguiri (União-SP). O Conselho de Ética aprovou a perda do mandato em abril deste ano, mas o caso estava parado à espera do crivo do plenário. Antes da confusão desta terça, Glauber havia feito greve de fome durante mais de uma semana para protestar contra o avanço da representação.
Entidades jornalísticas como Fenaj, Abert e ANJ repudiaram a interrupção da transmissão e a expulsão dos repórteres, classificando as decisões como grave violação ao trabalho da imprensa. A assessoria da presidência da Câmara primeiro atribuiu a ordem a Hugo Motta, depois recuou e afirmou se tratar de um protocolo de segurança, sem detalhar qual.
Hugo Motta, ao comentar a crise, disse que Braga desrespeitou a Câmara e que nenhum parlamentar tem autorização para transformar a cadeira da Presidência “em instrumento de intimidação ou desordem”. Ele defendeu a ação da Polícia Legislativa amparado no Ato da Mesa nº 145, que permite suspender circulação no interior da Câmara por razões de segurança. Parlamentares governistas e independentes, porém, acusaram a Presidência de agir de forma precipitada e antidemocrática ao impor restrições à imprensa e autorizar o uso de força contra o deputado.


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