Para Israel, o apoio canadense à Palestina legitima o Hamas e mina negociações de paz; para Ottawa, é um passo necessário rumo à estabilidade na região
O governo israelense condenou veementemente a decisão do Canadá de reconhecer oficialmente o Estado Palestino, classificando o ato como uma “recompensa” ao grupo terrorista Hamas. A reação foi divulgada nesta quarta-feira (30) pelo Ministério das Relações Exteriores israelense, por meio do porta-voz Gideon Saar, que criticou fortemente o anúncio canadense.
“A mudança na posição do governo canadense neste momento é uma recompensa para o Hamas e prejudica os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza e uma estrutura para a libertação dos reféns”, afirmou Saar em comunicado oficial, publicado na manhã desta quinta-feira (31), horário local.
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A declaração israelense surge após o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, anunciar que seu país passará a reconhecer a Palestina como um Estado soberano. Segundo Carney, a decisão está condicionada a um conjunto de reformas exigidas pela comunidade internacional e prometidas pela Autoridade Palestina. Entre elas, estão o fortalecimento da governança, a realização de eleições gerais até 2026 — excluindo o Hamas — e o compromisso com a desmilitarização do futuro Estado palestino.
Conduta canadense é vista como politicamente motivada
Carney justificou sua postura afirmando que o reconhecimento visa apoiar um caminho diplomático para a paz e a estabilidade no Oriente Médio. Ele também criticou duramente as ações militares israelenses em Gaza, chamando-as de responsáveis por uma “catástrofe humanitária”. O primeiro-ministro canadense se alinhou a outras figuras políticas internacionais, como os governos da França e do Reino Unido, que têm defendido abertamente a solução de dois Estados e a busca por um fim ao conflito na região.
Na justificativa apresentada, Carney destacou que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, teria garantido que as eleições gerais, adiadas há anos, ocorrerão em 2026, com a exclusão do Hamas do processo eleitoral. Além disso, Abbas teria se comprometido com a desmilitarização, algo que Israel espera ver concretizado caso haja qualquer avanço nas negociações.
Aumenta pressão sobre Tel Aviv
A decisão do Canadá representa mais um sinal da crescente pressão internacional sobre Israel, especialmente no contexto de intensificação das críticas à ofensiva militar no sul da Faixa de Gaza. Para Tel Aviv, o reconhecimento precoce da Palestina pode enfraquecer as negociações em andamento visando um acordo de cessar-fogo e a liberação dos reféns capturados durante o ataque de outubro do ano passado.
Segundo analistas, Israel teme que esse tipo de movimento antecipado gere uma dinâmica política adversa, permitindo que grupos como o Hamas ganhem legitimidade internacional sem que se tenha ainda resolvido a situação no terreno. A preocupação é que o reconhecimento possa incentivar outros países a seguir o mesmo caminho, ainda que as condições para uma solução negociada não estejam maduras.
O comunicado israelense também faz referência à complexidade das relações entre as partes envolvidas. Para Tel Aviv, o momento não é propício para decisões simbólicas que podem ser interpretadas como favorecendo o inimigo direto no conflito. “Essa escolha não ajuda a resolver o problema, mas apenas beneficia aqueles que perpetuam a violência”, disse o porta-voz Saar, reforçando a posição oficial do governo israelense.
Um movimento global em crescimento
O Canadá entra agora na lista de países que reconhecem formalmente a Palestina como Estado independente, juntando-se a nações como a maioria dos membros da Liga Árabe, a União Europeia e diversos países africanos e asiáticos. No entanto, Israel vê esses passos com desconfiança, argumentando que eles tendem a fragilizar os esforços diplomáticos e agravar a tensão regional.
A comunidade internacional segue dividida sobre o impacto real do reconhecimento. Para defensores da iniciativa, a medida fortalece a pressão sobre Israel para que adote medidas mais conciliatórias. Já para críticos, ela pode complicar as negociações e dificultar a construção de uma base confiável para futuras conversas de paz.
Enquanto isso, o Canadá mantém contato com outros aliados ocidentais e com a comunidade árabe para articular uma frente diplomática a favor da criação de um Estado palestino. Mas, diante da reação contundente de Israel, o caminho parece cheio de obstáculos.
Próximos passos
Com o cenário internacional cada vez mais polarizado, a expectativa é que o governo israelense continue a pressionar os parceiros ocidentais a reconsiderarem suas posições. Em paralelo, o Canadá deve reforçar seu apoio à causa palestina, tentando equilibrar a defesa de seus valores democráticos com a necessidade de manter relações com Tel Aviv.
Agora, a batalha diplomática será travada nos bastidores, com ambas as partes buscando influenciar a opinião pública e os demais atores globais. Enquanto isso, milhões de pessoas na Palestina esperam que gestos como o do Canadá sirvam, de fato, como passos concretos rumo à paz — ou apenas como mais uma manobra política sem impacto real no chão de Gaza.
Canadá anuncia reconhecimento oficial do Estado Palestino na Assembleia Geral da ONU, reforçando apoio à solução de dois Estados
O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, revelou nesta quarta-feira (30) que seu país vai reconhecer formalmente o Estado Palestino durante a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, marcada para setembro. A decisão, anunciada em coletiva na capital Ottawa, posiciona o Canadá ao lado de aliados como França e Reino Unido, que também defendem uma resolução diplomática baseada na criação de um Estado palestino independente.
Segundo Carney, o reconhecimento não será automático, mas sim condicionado a compromissos firmes por parte da Autoridade Palestiniana. Entre as exigências estão a realização de eleições gerais até 2026 — com a exclusão do grupo Hamas —, o fortalecimento da governança interna e o compromisso com a desmilitarização do futuro Estado palestino. “O Canadá pretende reconhecer o Estado da Palestina porque a Autoridade Palestiniana se comprometeu a liderar reformas essenciais”, afirmou o chefe de governo canadense.
Durante sua declaração, Carney criticou duramente a ação militar israelense em Gaza, chamando-a de responsável pela “permissão” de uma “catástrofe humanitária” no território. Ele destacou que Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana, garantiu que as eleições — adiadas há anos — serão realizadas em 2026 e que o Hamas não terá participação no processo político. “Abbas também se comprometeu a não militarizar o Estado da Palestina”, completou o líder canadense.
Alianças estratégicas e pressão internacional
A decisão do Canadá foi tomada após uma conversa telefônica entre Carney e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, ocorrida na terça-feira (29). Durante a ligação, os dois discutiram a situação crítica em Gaza, a deterioração crescente do cenário humanitário e a posição britânica sobre o reconhecimento do Estado Palestino. Segundo o comunicado divulgado pelo gabinete de Carney, ambos concordaram com a necessidade de uma resposta global mais firme diante da escalada dos conflitos.
O anúncio canadense se junta a outros movimentos recentes no cenário internacional. O presidente francês, Emmanuel Macron, já havia declarado publicamente que a França reconhecerá a Palestina durante a mesma assembleia da ONU. Já Starmer, do Reino Unido, sinalizou que Londres fará o mesmo caso Israel não tome medidas concretas para encerrar a ofensiva em Gaza e retomar negociações sérias para o fim do conflito.
Críticas israelenses e tensões diplomáticas
A reação de Israel foi imediata e contundente. O Ministério das Relações Exteriores israelense condenou a decisão do Canadá, acusando-o de estar “recompensando” o Hamas, grupo que, segundo Tel Aviv, é considerado terrorista. O porta-voz do ministério, Gideon Saar, afirmou que a medida prejudica os esforços diplomáticos para alcançar um cessar-fogo e a libertação dos reféns mantidos desde outubro de 2023.
“Essa mudança na posição canadense neste momento é uma recompensa para o Hamas e pode enfraquecer os esforços de paz”, disse Saar em comunicado. Para Israel, o reconhecimento precoce da Palestina pode complicar as negociações em andamento, especialmente no que diz respeito à liberação dos reféns e à estabilização da região.
Controvérsias sobre exportações de armas
A declaração canadense surge em um momento delicado, quando relatórios divulgados recentemente indicam que munições e equipamentos militares fabricados no Canadá continuam sendo enviados para Israel, apesar das restrições oficiais impostas pelo governo desde janeiro de 2024. Organizações de direitos humanos e grupos pacifistas têm questionado a eficácia dessas proibições, argumentando que muitas remessas são feitas de forma indireta ou sem rastreamento adequado.
Ativistas do movimento pró-paz e defensores dos direitos humanos celebraram a decisão canadense, vendo nela um passo importante rumo à normalização das relações entre árabes e israelenses. No entanto, críticos dentro do próprio Canadá alertam que o reconhecimento pode ser interpretado como uma postura unilateral que ignora a complexidade do conflito e pode levar a novas hostilidades.
Um marco diplomático?
Com o reconhecimento canadense, o número de países que reconhecem a Palestina como Estado soberano aumenta, reforçando o movimento global em favor da criação de um Estado palestino. Atualmente, mais da metade dos membros da ONU já reconhecem a Palestina, incluindo a maioria dos países da África, da Ásia e da Liga Árabe.
Para analistas, a atitude do Canadá pode servir como catalisador para outras potências ocidentais seguirem o mesmo caminho. Apesar disso, permanecem dúvidas sobre como essa medida influenciará diretamente o chão de Gaza, onde a violência continua a ser uma realidade diária para milhões de pessoas.
Enquanto isso, a comunidade internacional observa atentamente as próximas etapas. A pressão sobre Israel está crescendo, e a atuação de Washington e de seus aliados parece estar mudando. Com a data da Assembleia Geral se aproximando, o mundo aguarda não apenas palavras, mas principalmente ações que possam trazer algum alívio para uma população que sofre há muito tempo.
O reconhecimento canadense, portanto, não é apenas um gesto simbólico, mas um passo que pode abrir precedentes importantes no contexto de uma guerra que já dura mais de dois anos e cujo horizonte de paz ainda parece distante.


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