Uma operação policial deflagrada nesta quinta-feira, 28, revelou que a onda de desinformação sobre o Pix, impulsionada por políticos de extrema-direita, favoreceu a manutenção de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro envolvendo o PCC e fintechs.
Como a desinformação criou espaço para o crime organizado
A origem do problema está na Instrução Normativa 2219/24, publicada pela Receita Federal em setembro do ano passado. A regra determinava que transações acima de R$ 5 mil realizadas por Pix, TED ou cartões deveriam ser comunicadas ao Fisco, em linha com as exigências já aplicadas aos bancos tradicionais.
Entretanto, vídeos e mensagens distorceram o objetivo da medida, afirmando que o governo pretendia “taxar o Pix” e invadir o sigilo de pequenos negócios. Entre os propagadores desse discurso esteve o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), cujo conteúdo ultrapassou 100 milhões de visualizações.
A repercussão negativa levou o governo a revogar a normativa, mesmo contra a orientação da equipe econômica. Para a Receita, a decisão fragilizou os mecanismos de controle e abriu espaço para que organizações criminosas ocultassem operações ilícitas por meio de fintechs.
O papel das fintechs e o rastro do PCC
De acordo com a Polícia Federal, o crime organizado usou fintechs para movimentar recursos sem detecção imediata, aproveitando-se da ausência de fiscalização específica. A facilidade de criar contas digitais e transferir valores em alta velocidade via Pix ajudou o esquema.
A PF destacou em relatório que a falta de regulamentação adequada permitiu que plataformas de pagamento fossem usadas para disfarçar a origem ilícita dos valores.
Governo recua e perde narrativa
O impacto político da desinformação levou o Executivo a tentar conter o desgaste. Em janeiro, o governo editou uma Medida Provisória que proibia comerciantes de cobrar taxas adicionais pelo Pix — uma resposta simbólica à onda de críticas. Porém, a MP perdeu validade em junho.
A crise também provocou uma reavaliação da estratégia de comunicação do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou reuniões emergenciais e escalou o publicitário Sidônio Palmeira para coordenar a resposta oficial, com o objetivo de retomar a narrativa e restaurar a confiança no sistema.
Impactos e próximos passos
O episódio ilustra como a desinformação digital pode ter efeitos diretos não apenas na política, mas também na segurança pública e no sistema financeiro.
Com a revogação da IN 2219/24, o rastreamento de operações suspeitas ficou comprometido, e segundo a Receita, a brecha foi explorada pelo PCC para movimentar grandes quantias.
A expectativa agora é que novas regras sejam elaboradas, equilibrando transparência fiscal, combate ao crime organizado e proteção ao usuário comum, que foi alvo da campanha de fake news.
📊 Resumo: A megaoperação mostrou que a manipulação política em torno do Pix acabou blindando atividades criminosas. O caso reabre o debate sobre como regulamentar fintechs e reforçar controles sem dar margem para campanhas de desinformação que fragilizam a confiança popular.


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