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Coreia do Sul reage com indignação à violência contra seus trabalhadores nos EUA

As imagens da maior operação de imigração já realizada em solo americano, com trabalhadores sul-coreanos sendo detidos em massa, provocaram indignação imediata na Coreia do Sul. Autoridades de Seul afirmaram que a violência do governo Trump contra cidadãos de um aliado histórico não poderia ser ignorada, e a opinião pública reagiu com forte ressentimento diante […]

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Cerca de 400 agentes estaduais e federais se reuniram do lado de fora do complexo fabril antes de alinhar os trabalhadores lá dentro

As imagens da maior operação de imigração já realizada em solo americano, com trabalhadores sul-coreanos sendo detidos em massa, provocaram indignação imediata na Coreia do Sul. Autoridades de Seul afirmaram que a violência do governo Trump contra cidadãos de um aliado histórico não poderia ser ignorada, e a opinião pública reagiu com forte ressentimento diante do tratamento dado a centenas de engenheiros e técnicos enviados para supervisionar obras de alto valor estratégico.

Relatos vindos da Geórgia reforçam a gravidade da cena. Um trabalhador sul-coreano que presenciou a operação contou à BBC o pânico que se espalhou dentro da fábrica quando agentes do ICE entraram em massa e começaram a deter funcionários, muitos deles em correntes. Ele descreveu linhas telefônicas tocando ao mesmo tempo, com chefes pedindo para encerrar imediatamente as operações, enquanto familiares tentavam desesperadamente contato sem conseguir, já que os celulares haviam ficado trancados no escritório. O choque se espalhou pela comunidade coreana em Savannah, onde líderes locais falaram em espanto diante da violência e do impacto sobre a imagem da Hyundai e da LG.

Um observador mordaz comentou que, se continuar nesse ritmo, a Coreia do Sul pode acabar pedindo para entrar nos Brics também. A provocação ecoa em um momento sensível: empresas sul-coreanas haviam prometido mais de US\$ 350 bilhões em investimentos industriais nos EUA e a compra de US\$ 100 bilhões em gás natural liquefeito, como parte de um acordo bilateral anunciado por Trump. Mas a ação policial em plena obra da Hyundai e da LG cria atrasos de meses, eleva custos e lança insegurança sobre a confiabilidade do ambiente americano. O plano de Trump de reindustrializar o país e atrair capital estrangeiro parece minado pela própria brutalidade que deveria fortalecer sua narrativa.

Essa contradição surge quando a relação comercial entre os dois países alcança níveis recordes. Em 2024, o comércio bilateral somou cerca de US\$ 197 bilhões, com os Estados Unidos exportando US\$ 65,6 bilhões e importando US\$ 131,6 bilhões da Coreia, acumulando um déficit de mais de US\$ 66 bilhões. Para Seul, trata-se de um dado estratégico: Washington precisa da parceria tanto quanto os sul-coreanos, mas a agressividade do governo americano ameaça corroer a confiança.

O trabalhador ouvido pela BBC disse acreditar que a maioria dos detidos tinha algum tipo de permissão para estar nos EUA, mas que os vistos eram inadequados para o trabalho que desempenhavam. Muitos eram especialistas enviados de Seul para instalar linhas de produção, cuja substituição por trabalhadores locais seria praticamente impossível. “Até agora, não há outra opção senão enviar especialistas sul-coreanos experientes para ajudar”, afirmou Hwang In-song, do Instituto Coreano de Tecnologia Eletrônica. No entanto, depois da operação, até isso está em dúvida. “No caso da LG Energy Solutions, eles terão de pensar duas vezes antes de enviar seus funcionários para a fábrica da Geórgia”, disse Hwang.

A frase resume o impasse: sem os coreanos, as fábricas não avançam; com eles, há o risco de novas detenções e humilhações. O trabalhador entrevistado, embora legalmente autorizado a permanecer nos EUA, disse estar “chocado, mas não surpreso”, diante da política de “América primeiro” de Trump. Para ele, depois do que aconteceu, muitas empresas vão pensar duas vezes antes de investir nos EUA, já que um novo projeto pode demorar muito mais do que antes.

Na Coreia do Sul, a percepção é de que os aliados de Washington não estão sendo poupados das agressões americanas, e que muitas vezes apanham mais do que adversários declarados. O caso da Índia, também pressionada em negociações recentes, é citado como exemplo. Agora, os sul-coreanos se perguntam até que ponto vale a pena sustentar uma parceria que expõe seus cidadãos a esse tipo de violência.

Com informações do Los Angeles Times e da BBC.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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