O governo dos Estados Unidos revogou a aprovação do Esmeralda 7, um dos maiores projetos de energia solar do mundo, interrompendo um empreendimento que simbolizava a expansão da matriz renovável americana. A decisão foi formalizada na noite de quinta-feira (9) pelo Bureau of Land Management (BLM), órgão federal responsável pela administração de terras públicas. O cancelamento reforça a guinada da administração de Donald Trump contra políticas de transição energética e sustentabilidade.
Com capacidade estimada em 6,2 gigawatts (GW) — o suficiente para abastecer cerca de 2 milhões de residências — o complexo solar seria construído no deserto de Nevada, a noroeste de Las Vegas. O projeto estava sob responsabilidade da NextEra Energy, considerada a maior empresa de energia renovável dos Estados Unidos, em parceria com Arevia Power, ConnectGen e Invenergy.
Um dos maiores complexos solares do planeta
O plano previa a instalação de sete parques solares interligados a sistemas de armazenamento de energia, cobrindo uma área de aproximadamente 62 mil acres (cerca de 250 km²). O projeto Esmeralda 7 era apontado como uma das principais apostas para ampliar a geração limpa no oeste americano e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Segundo o Financial Times, a decisão do BLM representa um golpe simbólico na política de transição energética, especialmente em um momento de crescimento da demanda elétrica no país. O jornal destaca que o presidente Donald Trump tem classificado grandes empreendimentos solares e eólicos como “um golpe”, posicionando-se contra a expansão da matriz renovável e defendendo o fortalecimento da produção de carvão e gás natural.
Pressão sobre a demanda e risco de “apagão verde”
O cancelamento ocorre em meio a uma demanda energética recorde nos Estados Unidos, impulsionada pelo crescimento de data centers de inteligência artificial (IA), pela eletrificação de veículos e pela automação residencial. O avanço dessas tecnologias tem elevado o consumo elétrico e exigido novas fontes de geração para equilibrar o sistema.
De acordo com a NV Energy, principal concessionária do estado de Nevada, a demanda total de energia no país deve crescer 34% até 2035 em comparação com 2022. A empresa alerta que, sem ampliação da infraestrutura limpa, o país pode enfrentar desequilíbrios de oferta e aumento de tarifas.
Analistas do setor apontam que o recuo em projetos como o Esmeralda 7 compromete metas de longo prazo e aumenta a dependência de fontes convencionais, contrariando compromissos ambientais assumidos em fóruns internacionais.
Reação e incertezas no setor
Embora o cancelamento tenha sido confirmado pelo BLM, o Departamento do Interior informou em nota que houve “um acordo para mudar a abordagem do projeto”, abrindo a possibilidade de que as companhias envolvidas apresentem novas propostas “menores e individuais”, sujeitas à análise de impacto ambiental.
A reformulação, segundo fontes do setor, poderá reduzir significativamente a escala e o potencial de geração previstos originalmente, enfraquecendo a atratividade econômica do empreendimento.
Especialistas em energia afirmam que o cancelamento do Esmeralda 7 reflete o clima de incerteza para investimentos no segmento renovável durante o governo Trump. A política energética da atual administração tem priorizado o incentivo à exploração de combustíveis fósseis e a revisão de regulações ambientais criadas nos últimos anos.
Impacto sobre as metas climáticas
O fim do projeto ocorre em um momento em que os Estados Unidos enfrentam pressão internacional para cumprir compromissos de redução de emissões. Segundo estimativas da Agência de Proteção Ambiental (EPA), o país precisaria dobrar a capacidade de geração solar e eólica até 2030 para atender às metas climáticas estabelecidas no Acordo de Paris.
O cancelamento de empreendimentos de grande porte compromete esse avanço, especialmente em estados como Nevada, Arizona e Califórnia — regiões estratégicas pela abundância de radiação solar e disponibilidade de terras públicas para instalação de usinas.
O Esmeralda 7 seria responsável por reduzir em cerca de 10 milhões de toneladas as emissões anuais de dióxido de carbono, segundo cálculos preliminares apresentados pela NextEra Energy. A empresa, em comunicado anterior, havia classificado o projeto como “um marco no esforço de descarbonização da matriz elétrica americana”.
Repercussões econômicas e políticas
No campo político, o cancelamento reacende o debate sobre o papel do governo federal na regulação de projetos de energia limpa. Grupos ambientalistas criticaram a decisão, afirmando que o país “está retrocedendo em um dos setores mais estratégicos do século 21”. Já representantes da indústria de combustíveis fósseis defenderam a revisão, argumentando que os grandes parques solares pressionam os preços da terra e exigem investimentos elevados em infraestrutura de transmissão.
Para o mercado financeiro, o recuo sinaliza um período de instabilidade. As ações da NextEra Energy registraram queda no pregão posterior ao anúncio, refletindo a percepção de que a política energética da administração Trump poderá dificultar novos investimentos privados em renováveis.
Perspectivas para o futuro
O Departamento do Interior afirmou que continuará avaliando “propostas que conciliem desenvolvimento econômico e preservação ambiental”, mas não deu prazo para a reapresentação dos planos do Esmeralda 7.
Enquanto isso, empresas e estados com metas próprias de neutralidade de carbono buscam alternativas para garantir expansão da geração limpa. Nevada, por exemplo, mantém em análise outros projetos solares de menor porte, que somam cerca de 1,5 GW em licenciamento.
Apesar da decisão federal, especialistas acreditam que a pressão por energia renovável continuará crescendo, impulsionada pela demanda de data centers, veículos elétricos e indústrias que buscam reduzir custos energéticos no longo prazo.
O cancelamento do Esmeralda 7, contudo, representa um retrocesso expressivo para o setor e evidencia o desafio de conciliar política, economia e sustentabilidade em um momento de transição global.


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