A Petrobras reagiu à pesquisa encomendada pela ONG britânica Eko e divulgada pela Folha de S. Paulo, segundo a qual a maioria dos brasileiros se oporia à exploração de petróleo na Foz do Amazonas. E
m nota oficial, a estatal informou ter tido conhecimento do levantamento apenas pela imprensa e afirmou que não pode avaliar os resultados por desconhecer a metodologia, as premissas e os critérios adotados pelo Datafolha, responsável pela sondagem.
O estudo financiado pela organização estrangeira foi interpretado como uma tentativa de pressionar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a impedir o avanço dos projetos de exploração de petróleo na Margem Equatorial — área apontada por especialistas como uma das últimas fronteiras exploratórias do planeta.
A Petrobras classificou como “estranhos” os números apresentados na pesquisa, afirmando que eles divergem de levantamentos próprios realizados nos últimos anos com o apoio de institutos independentes, que indicam uma percepção pública diferente sobre a região.
“Os estudos internos mostram que o tema ainda é pouco conhecido pela população, que muitas vezes associa, de forma equivocada, a Margem Equatorial à foz do rio Amazonas”, destacou a companhia.
Segundo a estatal, os blocos em análise estão distribuídos ao longo de uma extensa faixa do litoral brasileiro, em áreas marítimas distantes de manguezais e ecossistemas sensíveis. No Amapá, por exemplo, o bloco em estudo está localizado em águas profundas, a cerca de 160 quilômetros da costa e mais de 500 quilômetros da foz do Amazonas.
Confiança na Petrobras e no Ibama
Apesar da falta de informação sobre o tema, as pesquisas internas da empresa apontam que a maioria da população confia na Petrobras e no Ibama para avaliar a viabilidade dos projetos de exploração na região.
“A maioria reconhece a expertise da companhia e considera que ela atua com responsabilidade socioambiental”, afirmou a estatal em nota.
A empresa também destacou que o debate público sobre o tema deve ser baseado em informações qualificadas, ressaltando que o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental podem coexistir, desde que pautados por segurança, transparência e rigor técnico.
“A Petrobras executa todas as suas operações com segurança, total respeito e cuidado com o meio ambiente e com a população, buscando gerar impacto social positivo nas comunidades onde atua”, acrescentou.
Benefícios socioeconômicos e investimentos previstos
Entre os dados apresentados nos levantamentos internos, a Petrobras afirmou que a maior parte dos entrevistados associa a exploração da Margem Equatorial a benefícios sociais e econômicos, como geração de empregos, melhoria da infraestrutura local, apoio a projetos ambientais e atração de novos investimentos.
A estatal informou ainda que planeja investir US$ 3,1 bilhões nos próximos cinco anos em 16 poços na região, reforçando o compromisso com práticas ambientais rigorosas e tecnologias de mitigação de impactos.
Esses investimentos fazem parte da estratégia da empresa de ampliar a produção de petróleo e gás natural em áreas de alto potencial geológico, mantendo padrões de operação compatíveis com as exigências internacionais de sustentabilidade.
Contexto e disputa estratégica
A Margem Equatorial é considerada uma das áreas mais promissoras para a exploração offshore no mundo. A região, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, tem potencial para reposicionar o Brasil na geopolítica do petróleo e consolidar o país como um dos grandes produtores globais da próxima década.
Em junho, o governo federal leiloou 47 blocos exploratórios, dos quais 19 foram arrematados por companhias como ExxonMobil, Chevron, CNPC (China National Petroleum Corporation) e a própria Petrobras, evidenciando o forte interesse internacional no potencial energético da área.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, classifica a Margem Equatorial como “estratégica para o futuro energético do país”, argumentando que novas fronteiras exploratórias são essenciais para financiar a transição energética e sustentar o crescimento econômico.
“A abertura de novas fronteiras é vital para garantir os recursos que permitirão ao Brasil seguir investindo em energia limpa e desenvolvimento social”, afirmou Silveira em declarações recentes.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tem defendido que a exploração deve ocorrer com responsabilidade ambiental e sob supervisão técnica rigorosa. Segundo ele, a Petrobras possui experiência consolidada em operações em águas profundas e não registra incidentes ambientais relevantes em sua história recente.
Pressão internacional e controvérsias
A pesquisa da ONG britânica Eko, divulgada poucos dias após o aumento das discussões sobre o tema, foi interpretada por autoridades brasileiras e especialistas do setor como um movimento coordenado de pressão internacional.
O levantamento foi publicado em meio a um debate crescente sobre o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental, especialmente às vésperas da COP30, que será realizada em 2025 em Belém (PA).
Nos bastidores, representantes do governo e de empresas do setor energético avaliam que a mobilização de ONGs estrangeiras reflete interesses geopolíticos e pode influenciar decisões estratégicas sobre a política de exploração de recursos naturais no Brasil.
A Petrobras, por sua vez, insiste que as operações na Margem Equatorial serão conduzidas com padrões de segurança equivalentes aos do pré-sal, considerado um modelo global de exploração sustentável em águas profundas.
Margem Equatorial e o “novo pré-sal”
Apontada pelo governo como o “novo pré-sal”, a Margem Equatorial tem sido tratada como uma fronteira essencial para a soberania energética brasileira. O desenvolvimento da região é visto como uma forma de garantir receitas de royalties, geração de empregos e financiamento da transição para uma economia de baixo carbono.
A estatal reforça que o objetivo é equilibrar desenvolvimento e responsabilidade ambiental, mantendo o compromisso com as metas climáticas assumidas pelo Brasil em acordos internacionais.
A controvérsia em torno da pesquisa da Eko, portanto, expõe não apenas o embate entre ambientalistas e o setor energético, mas também a disputa global por influência sobre o futuro da matriz energética brasileira.


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