Menu

Comentários sobre a filiação de Ciro Gomes ao PSDB

Nesta quarta-feira, Ciro Gomes registrou sua filiação ao PSDB numa cerimônia com a presença das figuras mais extremistas da direita cearense, como André Fernandes e Capitão Wagner. A entrada no PSDB, um partido contaminado pela extrema-direita e com histórico ultraliberal, causou alvoroço na opinião pública local e nacional, pois o ex-ministro é uma figura muito […]

2 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News
André Fernandes e Ciro Gomes, 22 de outubro de 2025. Divulgação.

Nesta quarta-feira, Ciro Gomes registrou sua filiação ao PSDB numa cerimônia com a presença das figuras mais extremistas da direita cearense, como André Fernandes e Capitão Wagner.

A entrada no PSDB, um partido contaminado pela extrema-direita e com histórico ultraliberal, causou alvoroço na opinião pública local e nacional, pois o ex-ministro é uma figura muito conhecida no país, por ter participado em diversas campanhas presidenciais.

A maior preocupação, contudo, reside no próprio Ciro Gomes, porque seu ressentimento, ódio, destempero e violência verbal acabaram por dar um tom fortemente antidemocrático a seus discursos.

Ciro perdeu a capacidade de participar do debate com civilidade, uma virtude que é um pilar da democracia. Seu ódio visceral a Lula o radicalizou de forma oposta ao que Tasso Jereissati preconiza para o PSDB no discurso que ele próprio fez antes de Ciro.

Ele trata o adversário político como um inimigo moral absoluto, que deve ser exterminado. Como que para marcar mais ainda a violência da sua fala, ele repetiu duas vezes a expressão “pelo Brasil eu morro, mas pelo Ceará eu mato”.

Ciro Gomes fez contribuições importantes para o debate, como a ideia de um projeto nacional. Mas o que ele e sua base nas redes sociais parecem não entender é que não existe projeto nacional sem uma construção política, democrática, que precisa ser feita através do diálogo tranquilo, lhano, educado, respeitoso.

Ao introduzir uma enorme violência na retórica política, estranha à nossa tradição e nociva a um debate saudável, Ciro fez um grande mal à democracia brasileira.

Essa violência é justamente a essência do movimento bolsonarista, cujos exageros e truculência na linguagem fizeram a sociedade valorizar a civilidade.

As contradições ideológicas de Ciro Gomes tem ido muito além das ambiguidades tradicionais da luta política.

Em seu discurso, o principal elogio de Ciro se destinou ao deputado federal André Fernandes (PL), um bolsonarista raiz que apoia os ataques ao STF e o genocídio em Gaza.

André Fernandes também assina um projeto de lei que prevê condecoração ao policial que mais matar gente, o que é uma iniciativa absolutamente fascista e perigosíssima, pois pode incentivar a matança indiscriminada.

Ciro tem se calado sobre geopolítica justamente para não constranger essas posições ultrarreacionárias de seus novos aliados.

Sua militância digital acabou se tornando muito parecida com ele. Em meio ao contorcionismo para explicar as contradições de Ciro, acabam ficando em um “não lugar” da política. Não conseguem adeptos à direita, pelas razões de sua formação trabalhista, nem ao centro e na esquerda moderada, por sua incivilidade, grosseria e intolerância.

O que está em jogo no Brasil hoje, assim como em todo o mundo, é como organizar a resistência democrática a este movimento de extrema-direita de natureza fascista que se alastra por todos os países.

Por essa razão, é muito frustrante ver Ciro Gomes se calando diante de atos como o bombardeio de barcos no Caribe pelo governo Trump, sob o pretexto de que são traficantes. É absoluta barbárie, assassinato a sangue frio, matar pessoas sem julgamento, sem transparência, sem explicação. Essas ações de terrorismo estatal, que já provocaram protestos da Anistia Internacional e da ONU, encontram apoio, porém, na extrema-direita brasileira, a ponto do senador Flávio Bolsonaro (PL) pedir que os Estados Unidos atacassem barcos na Baía de Guanabara! Se Ciro realmente quer voltar ao debate, precisa se posicionar sobre as grandes questões do nosso tempo.

O seu destempero, que Tasso Jereissati reconheceu indiretamente ao elogiar a esposa de Ciro por lhe trazer “estabilidade emocional”, deixou há muito tempo de ser uma simples excentricidade. Tornou-se perturbador, sinistro, antidemocrático, como as agressões misóginas contra a ex-senadora e agora prefeita de Crateús,Janaína Farias.

Outro ponto estranho no discurso de Ciro foi a sua acusação reiterada de ter sido “traído” em 2022, referindo-se, embora sem dizer o nome, ao seu próprio irmão, o senador Cid Gomes.

Ciro parece ver a política sob um prisma absolutamente pessoalista, pois Cid Gomes ficou onde estava, na luta contra o retrocesso no Ceará e no Brasil. Ao insistir nessa narrativa de traição, Ciro sinaliza que não quer diálogo nem com a própria família. Essa atitude intransigente não o ajudará a construir uma frente ampla competitiva para disputar o poder no Ceará.

Ciro também fez muito mal ao PDT, transformando o partido em alvo da fúria de toda essa militância sectária que ele cultivou. O PDT apostou em Ciro Gomes, organizou duas campanhas presidenciais e deu quase todo o fundo eleitoral para ele. Ciro Gomes retribui com uma militância que só quer destruir o PDT, o que é visível nas redes sociais das principais lideranças do partido, permanentemente asfixiadas por mensagens de ódio da própria militância cirista.

As chances reais de Ciro Gomes no cenário nacional são limitadas, estimadas entre 1% e 10% dos votos. Isso significa que sua candidatura ficaria desidratada já na largada, sem chance real de chegar ao segundo turno.

Seu potencial para o governo do Ceará também parece improvável. O campo conservador local exigirá um candidato que reflita as estratégias nacionais, de preferência filiado a um dos partidos grandes (o que não é mais o caso do PSDB), e dando palanque no Ceará para um candidato presidencial apoiado por Bolsonaro. Ciro teria de responder por muitas ambiguidades e segurar a língua, o que, em se tratando de Ciro, é virtualmente impossível.

Todas essas contradições, do alinhamento com o fascismo à linguagem hostil, tendem a vir à tona, criando constrangimentos para o próprio PSDB. A ideia de que Ciro controlaria o PSDB nacional é risível diante da presença de figuras como Beto Richa e Aécio Neves. Além disso, seu ingresso ainda nem foi homologado e já começa a enfrentar problemas e conflitos internos, como o pedido formal do ex-governador Eduardo Azeredo para bloquear sua filiação, por causa das agressões passadas de Ciro Gomes a Fernando Henrique Cardoso, José Serra e ao próprio PSDB.

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Bernardo

24/10/2025 - 16h06

O maior estelionato na história política é o nome desse partido; de social democrata só na sopinha de letras. Melhor e mais honesto seria liberal ou mesmo integralista ou UDN rediviva. O CG voltou ao ninho para fazer só o que sabe, lambança e calhordice. Triste fim do Policarpo. Vai enterrar mais um partido e o PDT agradece.

Tiago Silva

24/10/2025 - 00h07

PSDB de Aécio, Beto Richa, FHC, José Serra, Alysio Nunes, Azeredo e outros neoliberais?????

Do pó veio e ao pó voltou!


Leia mais

Recentes

Recentes