Lupi se explica no Senado

Assisti a trechos do depoimento de Carlos Lupi no Senado, e confesso que fiquei tocado por sua argumentação. Repete-se o roteiro kafkiano: de que se acusa o ministro? De ter andado de avião “particular”, como diz o repórter da Globo, enchendo a boca? Se é isso, que se derrube a república. Está lá o ministro, com operação em dois ouvidos, perdido numa cidadezinha longinqua do Maranhão, e pega carona com figuras políticas do Estado, como era Ezequiel Nascimento (seu ex-secretário e amigo, mas sobretudo um quadro político local) e Adair Meira, dono de ongs que funcionam há mais de 30 anos na região.

Francamente, qual o crime?

Fico pensando na evolução do emprego no Brasil, e todo o papel desempenhado pelo Ministério do Trabalho, e mais especificamente pela gestão de Carlos Lupi, nesse processo.

Eu nem queria defender o ministro. Mas também não quero ser um analista tão frio que acaba sendo incorporado a uma engrenagem midiática injusta, que tritura quadros políticos quase que por diversão.

Lupi respondeu muito bem às perguntas.

  • Lembrou que jamais disse que não conhecia Meira, como não disse mesmo, mas que somente não tinha “relações” com ele. Esse fato foi extremamente manipulado pela mídia, com a exibição repetida de seu depoimento na semana passada em seguida à afirmação dos âncoras de que o ministro havia mentido sobre não conhecer Meira.
  • Explicou o erro no blog do Trabalho: o avião que constava oficialmente em sua agenda era mesmo o Sêneca, e por isso a sua secretária publicou a foto. Ela mesmo, em Brasília, não sabia que o ministro trocou de aeronave a partir de determinado trecho da viagem, a convite do tal Ezequiel, que havia lhe apresentado Adair Meira e era um quadro político local, com todo o interesse em proporcionar uma viagem mais confortável ao ministro, que era inclusive um velho amigo.
  • Por fim, pergunta Lupi: de que está sendo acusado? De andar num King Air? Não caberia aos acusadores fornecer as provas, conforme manda a Constituição?
Não sei se o ministro do Trabalho é culpado de outras coisas. Não sei se ele tem assessores que prevaricaram. Não creio que haja algum órgão de governo, no Brasil ou na Suíça, que seja totalmente imune à corrupção. Mas não disso que se trata. Não se pode demitir o ministro porque subitamente a “opinião publicada” nacional passou a ter antipatia de sua pessoa. As irregularidades encontradas em ongs que tem convênio com o Ministério estão sendo monitoradas e cobradas pelo próprio governo.
Quanto à competência de Lupi, ele pode não ser o melhor dos comunicadores. Seu jeitão grosseiro de sindicalista e político pode não agradar alguns paladares sensíveis, mas deveríamos avaliar um ministério pelas consequências de suas ações. O Brasil vive o menor desemprego de sua história, já próximo do emprego pleno em várias regiões. Acho que isso deveria ser levado em conta .

Separo abaixo três blocos de vídeo nos quais o ministro Carlos Lupi se explica para os senadores:

Sobre conhecer X ter relaçoes com Adair Meira – Link

Sobre o uso do avião King Air – Link

Ministro pergunta do que está sendo acusado – Link.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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