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Dilma defende Irã contra agressividade imperialista

Esta quinta-feira foi um grande dia para o país, e a mídia refletiu com raro equilíbrio este momento. A morte de Millôr Fernandes não foi triste. Ao contrário, produziu uma notável onda de pensamentos fraternos e uma união vigorosa e pluri-partidária em defesa da inteligência e do humor.

4 comentários
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(Ilustração: Jonathan Meese)

Esta quinta-feira foi um grande dia para o país, e a mídia refletiu com raro equilíbrio este momento. A morte de Millôr Fernandes não foi triste. Ao contrário, produziu uma notável onda de pensamentos fraternos e uma união vigorosa e pluri-partidária em defesa da inteligência e do humor. E por falar em humor, nem isto faltou à imprensa de hoje. A Folha publicou na página 2 um artigo intitulado “Fracassamos”, de Marco Antonio Villa, que é um modelo realmente hilário do anti-panglossianismo, aquele que vê tudo ruim. Villa o encerra reproduzindo lamentações de Euclides da Cunha e Monteiro Lobato contra os males da política brasileira. É muito engraçado, ainda mais se considerarmos o artigo publicado logo abaixo, de Cândido Mendes, que aliás tem um estilo igualmente divertido, um eruditismo meio barroco meio esotérico, com vocabulário de advogado. É intitulado “Otimismo com o país de Dilma”, e dá loas entusiásticas ao governo da presidenta. O contraste dá ainda mais graça à melancolia de Villa.

Deixemos o humor de lado, e vamos às coisas sérias. Temos notícias realmente boas na imprensa. Entre elas, claro, a notícia da cura de Lula, que mereceu enorme destaque no Globo (via @mmarona).

Aliás, Lula protagonizou hoje uma de duas fotos que, a meu ver, são históricas, e demonstram uma raça humana um pouco mais madura ao lidar com suas divergências:

E já que estou conectando um assunto no outro, acabo de ler uma excelente notícia sobre como lidar bem com divergências: a presidente Dilma criticou, na Índia, o discurso agressivo contra o Irã.

“O Brasil não concorda com processos retóricos de elevação do nível de discussão. Acha extremamente perigosas medidas de bloqueio de compras com Irã. Não temos comércio, mas compreendemos que outros países têm e precisam dessas compras. Achamos que é necessário que haja no âmbito do direito internacional, no âmbito da ONU, todas as tratativas buscando previnir conflitos. Em vez da retórica agressiva, se use diante do direito internacional, o direito dos países usarem energia nuclear para fins pacíficos, assim como nós fazemos”, afirmou Dilma em coletiva de imprensa após a IV Reunião de Cúpula dos Brics, em Nova Déli, capital indiana.

O posicionamento de Dilma desmonta as injustas acusações de que teria ocorrido uma “ruptura” na política externa brasileira. O Brasil continuará cobrando direitos humanos no Irã, assim como cobra de outros países, e de si mesmo, mas rechaça o uso desse tema como pretexto para artimanhas imperialistas de baixo calão.

A melhor notícia, porém, vem agora e também chegou da Índia. O ministro da Tecnologia, Marco Antonio Raupp, informou que o governo brasileiro, através da Telebrás, decidiu investir R$ 750 milhões num satélite destinado a levar banda larga a baixo custo a todos os municípios brasileiros. Sugiro que os movimentos sociais interessados no tema fiquem bem alertas para que esta promessa seja efetivamente cumprida e em termos populares.

Por fim, a mídia nos presenteou com duas denúncias que não constituem exatamente boas notícias, mas demonstram que o Estado vem travando uma renhida luta contra a corrupção e que algumas batalhas, ao menos, são ganhas. Isso é uma boa notícia.

Ontem o Jornal Nacional divulgou uma matéria que constitui uma pesada tampa de chumbo sobre o caixão político de Demóstenes Torres.

E hoje, no Estadão, esbarro numa notícia de números impactantes. A Justiça Federal condenou altos funcionários do governo FHC, como o ex-presidente do BC, Chico Lopes, e banqueiros, a ressarcir os cofres públicos em até R$ 24 bilhões. E tem gente que ainda acha o mensalão, que movimentou 20 milhões de reais, é o “julgamento do século”. Dir-se-ia que petista é incompetente até na corrupção.

Por fim, uma última notícia também bastante positiva: a comissão do marco civil da internet foi finalmente instalada. O relator será o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), famoso por posições progressistas nesse campo.

*

No lado negativo, temos matéria no Estadão de um possível escândalo no Ministério da Pesca. Negativo porque compromete Ideli Salvati, articuladora política do governo, que era ministra à época. O caso ainda precisa de algumas explicações. Não envolve a princípio exatamente corrupção, mas incompetência administrativa.

Faço também – para assinantes – mais alguns comentários sobre uma nota do Ancelmo Gois, com a opinião do professor Wanderley Guilherme dos Santos sobre as críticas ao Minc.

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Concordo com o professor. Críticas sempre são bem vindas, mas no caso do Ministério da Cultura elas se notabilizaram pela desqualificação. Ontem saiu artigo do Neumann Pinto abordando o assunto. Neumann é um editorialista do Estadão que se caracteriza por um furioso antilulismo, mas o rebate a seu texto deve ser feito em cima de argumentos, e não através de uma desqualificação ad hominem de cunho puramente partidário, do tipo: “olha só, Neumann é contra Lula”. Eu não gosto do Neumann, ele para mim é um típico conservador golpista, mas eu sempre rebato seus argumentos com outros argumentos, sem jamais desqualificá-lo porque ele não gosta do PT e escreveu livro contra o ex-presidente.

Para cúmulo da injustiça, tuiteiros críticos do Minc xingaram o ministério por causa do artigo, como se fosse culpa da Ana de Hollanda que Neumann tenha resolvido meter o bedelho. Um deles divulgou hoje um tuite que mostra o nível cada vez mais baixo a que chegaram as críticas:

Porra MinC! autor de livro anti-Lula na tropa de choque de defesa do MinC do ECAD

A crítica ao Minc tem que ser feita com argumentos, não com palavrões, slogans fáceis, demonização simplória, intrigas, desqualificação ad hominem.

A questão do direito autoral, ao que parece, é o ponto nevrálgico de todas as polêmicas envolvendo o Minc. A lei do direito autoral foi enviada pelo Minc atual à Casa Civil e deve ser enviada em breve ao Congresso. Discutamos essa lei com racionalismo, para que possa ser aprovada sem retrocessos, e, se possível, com aperfeiçoamentos. Tudo isso é muito novo, os maiores pensadores do país ainda não se posicionaram, porque o debate ainda é incipiente – por enquanto o assunto é motivo de polêmica apenas entre especialistas. E não venham falar que estão “cansados”. Quem está cansado, vá dormir.

Eu juro que adoraria ver críticas ao Minc e ao governo em geral, mas não posso me furtar de criticar essas críticas se as acho mal formuladas. O irônico da história é que, quando Cacá Diegues defende o Minc, acusam-no de “ter votado no Serra”, uma crítica que aliás acho intoleravelmente partidária. Quando Neumanne o faz, acusam-no também de ser antilulista. Agora, que falarão de Wanderley Guilheme dos Santos e deste blogueiro? De sermos “dilmistas”?

Eu não defendo o Minc. Eu sou um agente da cultura digital, produzo blogs há mais de dez anos.  Meus projetos nunca receberam dinheiro de Lei Rouanet, nem do Minc, nem o Minc me contratou agora para defendê-lo (digo isso porque os tuiteiros estão cheios de teorias conspiratórias). Tenho mais de seis mil textos publicados na web. Dois livros de ensaio e um de contos disponibilizados gratuitamente (não tanto por altruísmo, confesso, mas porque venderia tão pouco que nem vale a pena tentar). Sempre ganhei dinheiro na blogosfera de forma absolutamente privada e independente, vendendo assinaturas para posts exclusivos e banners. Defendo a cultura livre, porque atuo nela e dela me beneficio, mas também defendo os direitos autorais, porque sei muito bem o trabalho insano que é produzir conteúdo. Temos que harmonizar esses direitos à liberdade da internet, encontrar um equilíbrio. Não será Ana de Hollanda ou Juca Ferreira que irão determinar esse equilíbrio, mas a realidade que emergirá da luta entre a necessidade de se pagar o autor e a voracidade mundial por cultura e liberdade. É coisa de peixe grande, decidida em grandes fóruns internacionais, e somente chefes de Estado teriam alguma interferência real nesse processo.

O que eu quero dizer é o seguinte: disputa política se ganha na argumentação, em campanhas de esclarecimento, não no grito, não na desqualificação simplória. Fecho com versos de Homero, citados por Montaigne no ensaio “Da incerteza de nosso julgamento”:

Que se pronunciam assim: épeôn de pólus nomós enta kai enta.

“a fala [dos mortais] tem o costume de ir ora prum lado, ora pro outro.”

Montaigne observa que é possível sempre encontrar argumentos bons para defender qualquer ponto-de-vista, mas que somente a realidade concreta dirá se são corretos ou falsos.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Elson

30/03/2012 - 03h46

Dilma tem razão de defender o Irã contra o imperialismo , pois a sede de petróleo é grande e podemos ser a bola da vez no futuro , porém o regime iraniano é teocrático e sempre tem um ou outro fanático que sonha ver Israel destruido e com ele o mundo . Por outro lado existem os paises que possuem arsenal atômico e não querem ver potenciais rivais com poder para enfrentá-los , se o Iraque ou o Afeganistão possuissem ogivas nucleares , duvido que os EUA iriam se meter com eles .
Se esse possível escândalo no Min. da Pesca for por conta de cagadas , pode ter certeza que a mídia vai cair matando , afinal o esporte predileto nas redações do jornalões tem sido tiro ao alvo , só que este alvo está sempre pregado nas costas de ministros do governo .
Sobre o caso Cachoeira/Demóstenes , a entrevista do exprefeito de uma cidade goiana de que a dupla de trambiqueiros armou o escândalo do mensalão com a intenção de derrubar o governo Lula deveria ser uma bomba ,
O incrível nisto tudo é que só vemos aparecer nos noticiários as figuras do bicheiro e do senador , e quanto ao editor da veja que foi flagrado nas escutas ? Isso é grave pois a revista Veja foi usada como ferramenta para atinjir o governo , será que ao dar nome aos bois a grande mídia tem medo de admitir que foi conivente com a tentativa de golpe e acabar de perder o pouco crédito que tem ?

Claudio Filho

29/03/2012 - 16h59

Ê cabra bom da peste! E a Dilma ainda vai superar o Lula!

Nora Berger

29/03/2012 - 16h58

Valeu pelo texto!

Yuri Mendonça

29/03/2012 - 16h57

Miguel, já que é para criticar as críticas, de maneira respeitosa e democrática, eu gostaria de comentar uma crítica um tanto leviana feita por blogueiros, ao repercutir um protesto de ongs com histórico no combate à Aids. O viomundo deu um título forte: ongs denunciam desmonte do programa anti-aids no Brasil. Lembro que um rapaz, soropositivo, comentou no blog e disse que aquilo era desinformação, que os remédios e os programas continuam em plena atividade. Não há nenhum desmonte. Quando deixamos o proselitismo de lado e lemos o protesto das Ongs, vemos que elas mesmo admitem que a crise que vivem deriva do fato de terem perdido o financiamento internacional, em virtude da crise dos países desenvolvidos.
http://www.viomundo.com.br/denuncias/ongs-denunci

Elas também falam dos novos regulamentos do governo, que dificultam muito o repasse direto de dinheiro de ministérios para entidades privadas.

Faltou aos comentaristas refletir várias coisas:

1) que esse novo regulamento visa estancar a corrupção. talvez tenha sido draconiano demais, mas é preciso lembrar sempre da razão de ser dessas novas regras.

2) vimos ali dezenas de ongs. quanta verba, exatamente, elas estão exigindo do ministério da saúde? queremos saber exatametne quanto querem porque se trata de verba pública, e há o princípio da transparência. não esqueçamos que o que elas estão pedindo é uma privatização de uma parte do combate à aids no brasil. não tem nada de mais, pode ser uma boa ideia, mas é preciso deixar isso claro. elas querem quanto em termos de recurso? imagino que deve haver uma disputa entre elas e o min da saude quanto a tudo isso.

3) acredito que essas ongs deve ter um belo histórico na luta contra aids, mas mesmo assim temos que fazer uma rigorosa triagem e análise de cada uma delas: todas são tradicionais, todas são realmente úteis ao programa nacional de combate à aids? pode haver alguma que, embora tenha sido útil, já não o é mais? existe alguma função delas que já foi preenchida por agentes do Estado?

É preciso analisar isso com seriedade e cuidado, e não usar o protesto dessas ongs para fazer proselitismo anti-dilma, mesmo que supostamente “de esquerda”.

Um blogueiro, Maurício Caleiro, escreveu um post em que vai enumerando uma série de reclamações contra o governo, criando uma impressão de um grande desvio ideológico do governo dilma, mas elas são ancoradas em pilares como esse, frágeis se o analisarmos de perto.

Assim como você, o que eu mais sonho é ver uma oposição à esquerda, assim como uma oposição à direita, bem fundamentada, inteligente, porque só assim teremos um debate político de alto nível. Mas o que vejo, infelizmente, é muita pobreza nesta oposição de esquerda que alguns vem tentando fazer. Parece até que estão tentando forçar a barra.

Obrigado pelo espaço.


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