A estratégia de Lula em SP

Uma taça para Lula: a avenida Paulista

Por Paulo Ghiraldelli Jr., em 19/06/2012

Haddad não significa nada. Nunca significou. E eu duvidei que Lula repetisse com Haddad o que fez com Dilma. Duvidei e ainda duvido. Mas tudo indica que Lula vai me dar um tombo de novo. Ele vai eleger o poste chamado Haddad! Ele tinha uma carta na manga que eu não esperava: Maluf. Eu devia esperar, mas eu sou filósofo, faço conjecturas racionais usando uma razão global. Lula é político, ele trabalha colocando na frente a razão instrumental. Ele não pode perder de mim.

Já escrevi várias vezes que Lula aprendeu a fazer política com os melhores que este país já produziu: Ulisses Guimarães, Montoro, Brizola, Tancredo, Quércia, Sarney, FHC e … Maluf. Sim! Quando olhamos no palanque das “Diretas Já”, vemos Lula ali pendurado como o mais novo entre todos os grandes líderes. No palanque não havia, é claro, Maluf – mas também com este Lula aprendeu. E quando ele se viu sozinho, após o “mensalão”, ele decidiu que seu melhor aliado era, além de Dona Marisa, ele mesmo. Cortou de vez os intelectuais que falavam na orelha dele. E se livrou do encosto chamado José Dirceu, que, apesar de ser seu amigo, já estava passando da conta no que fazia e desfazia sem os cuidados necessários. Lula, então, passou a correr o Brasil e exercer tudo que havia visto e peneirado entre essas lideranças todas citadas. Ele logo notou que havia se tornado uma mistura de todos eles, e que podia fazer melhor, pois havia aprendido também a não repetir os erros deles, inclusive não repetir o erro de Collor – pois este mesmo o avisou: “não despreze o Congresso”. Lula jurou que não iria nem cair e nem dar um tiro no peito. Que iria sair do “Mensalão” e cumprir seu destino. E cumpriu. Tornou-se o presidente que deixou Mantega e sua equipe fazer a política econômica e social correta, e, com isso, deixar o Brasil praticamente imune à crise exterior por meio do aquecimento do mercado e da integração neste de brasileiros que jamais sonharam em estar onde estão (que Dilma arrume a casa para além dos populismos e falhas aqui e acolá, se puder!).

Para o mal e para o bem, Lula se tornou um político tão habilidoso que Vargas. Pois uniu tudo aquilo que estava disperso em vários outros, e que um dia estivera unido em Vargas. Mas Lula ficou bem melhor que Vargas. Pois Lula tem algo que nenhum outro político tem: sorte. Quando tudo dá errado para ele, aí é que ele acerta mais ainda. É claro que ele acerta, também, porque é diferente de qualquer outra pessoa: pensa 24 horas por dia em política. Lula é político profissional como nenhum outro político jamais foi. Mais do que antes do “Mensalão”, Lula analisa agora cada adversário e, mais que isso, aprendeu a somar, subtrair, dividir e multiplicar como ninguém outro pode fazer com estatísticas. Ele calcula cada voto e cada reduto. Ele parece ler na mente de eleitores e grupos de eleitores o que eles farão nas urnas. E acerta.

Lula aprendeu com os políticos que quem tem princípios não pode fazer política, pois política democrática é, antes de tudo, negociação contínua, e princípios são princípios, ou seja, são coisas que “vem antes”. Nada pode vir antes na negociação. A negociação é tudo. Só importa nela o resultado, ou seja, o acordo fechado contra o adversário comum. Saber costurar isso e, ao mesmo tempo, medir as conseqüências disso no eleitorado é uma arte que não é para qualquer um. Só Lula sabe fazer isso, hoje, no Brasil. O resto é amador.

Maluf tem a parte do eleitorado que, se tivesse um pouco de pendor à esquerda, seria de Lula. Essa faixa de baixa escolarização, que poderia vir para a esquerda, mas que nunca veio, é a faixa que Lula e Brizola, em São Paulo, nunca conseguiram ganhar. É uma parte desescolarizada e conservadora. Ao colocar Maluf dentro do PT e deixá-lo ainda esnobar e dizer que fez o que fez “por amor a São Paulo”, Lula entende que pode abocanhar esse eleitorado que sempre lhe faltou na hora “H”. Com isso, a essa hora, já fez Serra tremer. José Serra sabe que já perdeu de novo. FHC também sabe e, como sempre, vai abandonar Serra sozinho. Outros políticos próximos de Serra e que já estavam achando ruim ficar contra Dilma, vão debandar e virão comer na mão de Lula. Tucano adora mamão papaia e Lula foi buscar a fruta em casa sírio libanesa, onde esse tipo de coisa é servido no licor de primeira qualidade.

Caso tudo corra nesses trilhos, então, empurrando seu poste, Haddad, para o segundo turno, Lula agarrará Chalita. Isso será café pequeno, pois Chalita já é de Dilma. Assim, Lula irá adiante para ganhar aquilo que mais sonhou em ganhar, tanto quanto a presidência: São Paulo. Esta era a última taça que ele não havia conseguido (a gestão de Erundina não vale, pois Lula, nessa época, não era autônomo).

A taça chamada São Paulo é importante demais. Pois São Paulo é o segundo berço dos nordestinos e, ao mesmo tempo, é o berço das elites mais anti-Lula, como já foram anti-Vargas, de todo o Brasil. Ganhar São Paulo com um candidato que não é nada a não ser sua cria fará de Lula, então, o melhor estrategista de toda a história da República. A essa altura do campeonato, em casa, Lula deve estar rindo ao imaginar a cara de Serra! Lula está comemorando. E ele pode fazer isso. Ele é o melhor na sua profissão

E de quebra, Lula se livrou de Erundina e, com isso, pode agora negociar o posto de vice de maneira a ampliar ainda mais a aliança para eleger seu poste Haddad. É demais!

© 2012 Por Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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