Os resultados da CPI do Cachoeira

Você com certeza já leu em toda parte que a CPI do Cachoeira foi um fiasco. Nos últimos dias, quando se informou que ela chegara em sua etapa final, divulgou-se por aí todo o tipo de ofensa contra o trabalho dos parlamentares. Desde que foi criada, jamais se viu uma CPI tão vilipendiada. Claro, foi a primeira CPI que realmente fez a mídia tremer nas pernas.

Pois é, hoje eu vejo as seguintes notas na coluna do Ilimar Franco, no Globo:

Repare que mesmo os supostos “problemas” da CPI, como a não convocação de Policarpo Júnior, repórter da Veja, e a não citação de Roberto Gurgel, resultaram ao menos num salutar susto em ambos: na Veja e na Procuradoria Geral da República. Os dois têm culpa no cartório, mas foram suficientemente blindados pela mídia e conseguiram se safar. Membros da CPI tentaram convocar Policarpo, mas a maioria bloqueou a iniciativa.

Quanto à Gurgel, tornou-se um herói midiático por seu papel na denúncia do mensalão, mas boa parte da sociedade civil e o próprio governo entendeu agora porque FHC jamais escolhia os primeiros indicados do Ministério Público. O jogo de poder é pesado. O MP é peça importante no tabuleiro, uma peça que não é imparcial, nem isenta. O MP não é puro. O presidente da República tem de escolher um procurador sério, rigoroso, mas não pode abrir mão da prerrogativa democrática de escolher alguém que não pertença ao campo da oposição.

A CPI do Cachoeira gerará resultados importantes: o indiciamento de um governador de Estado; o desmantelamento de um grande esquema de corrupção e balcão de chantagens políticas, sustentado por Carlinhos Cachoeira, Demóstenes Torres e Roberto Civita, dono da Abril; a quebra de milhares de sigilos, os quais serão encaminhados para o Ministério Público, que deverá prosseguir as investigações.

Não tem sentido, portanto, apregoar o “fracasso” da CPI do Cachoeira. Essa versão interessa aos bandidos da política e da mídia que foram desmascarados pela comissão. O que a sociedade espera, agora, é pressão sobre o Ministério Público e a Polícia Federal, a quem cabe constitucionalmente a obrigação de investigar e denunciar os crimes cometidos. A CPI fez seu papel. Não foi perfeita. Não consertou o Brasil. Mas os parlamentares têm um país para cuidar, num ambiente de economia mundial em crise, não podem ficar indefinidamente cuidando das estrepolias do Clube Nextel.  Quem é pago para isso é Roberto Gurgel, é dele que devemos cobrar serviço.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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