Reflexões sobre a CPI do Cachoeira

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)]

A CPI do Cachoeira terminou em pizza. Uma derrota política dos governistas. Derrota minha, em particular, que desde o início emprestei um firme apoio aos trabalhos da comissão. O próprio relator da comissão, o deputado Odair Cunha (PT-MG) fez declarações revoltadas e chorosas sobre o resultado final. Ele mesmo perdeu duas vezes. Seu primeiro relatório, um corajoso documento de milhares de páginas onde constavam esclarecimentos detalhados sobre o braço midiático do esquema de Carlinhos Cachoeira, teve que ser amputado após um processo de negociação com os membros da CPI. Entretanto, mesmo poupando Policarpo e Gurgel, seu relatório ainda assim não foi aprovado. Ou seja, além de ser xingado de covarde e pusilânime por poupar a Veja, será chamado de perdedor por não conseguir, mesmo tendo cedido, aprovar seu relatório final.

Entretanto, pensando objetivamente, e se afastando das emoções suscitadas pela trilha sonora derrotista, acho que estão todos se esquecendo das coisas mais importantes. Chorar não põe mesa, não vence batalhas políticas, não prende corruptos. O caso pede antes uma apurada análise.

[/s2If]
[s2If !current_user_can(access_s2member_level1)]
Volto à estratégia pensada há alguns meses, de publicar um post de acesso gratuito às segundas-feiras e, no resto da semana, posts de conteúdos exclusivos para assinantes.  Para continuar ler a minha análise sobre o fim da CPI do Cachoeira, portanto, você terá que fazer um login como assinante. Confira aqui como assinar o blog O Cafezinho. Caso estivesse logado, você leria a análise completa sem sequer se deparar com esta mensagem, que só aparece para os não-assinantes.
[/s2If]

[s2If current_user_can(access_s2member_level1)]

Uma breve recapitulação. O relatório de Odair Cunha, que indiciava o governador de Goiás, Marconi Perillo, foi rejeitado. De madrugada, rascunhou-se um outro texto, às pressas, que não indiciava ninguém, e foi este o documento final da CPI.

Em primeiro lugar, vamos analisar a votação do relatório rejeitado de Odair. Observe com atenção os nomes e partidos que votaram a favor e contra.

Senadores

A favor:
Jorge Viana (PT-AC)
Lídice da Mata (PSB-BA)
Pedro Taques (PDT-MT)
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)
Aníbal Diniz (PT-AC)
João Costa (PPL-TO)
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)

Contra:
Sérgio Petecão (PSD-AC)
Sérgio Souza (PMDB-PR)
Ciro Nogueira (PP-PI)
Ivo Cassol (PP-RO)
Jayme Campos (DEM-MT)
Alvaro Dias (PSDB-PR)
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)
Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP)
Marco Antonio Costa (PSD-TO)

—–

Deputados

A favor
Cândido Vacarezza (PT-SP)
Odair Cunha (PT-MG)
Paulo Teixeira (PT-MG)
Íris de Araújo (PMDB-GO)
Ônix Lorenzini (DEM-RS)
Glauber Braga (PSB-RJ)
Miro Teixeira (PDT-RJ)
Rubens Bueno (PPS-PR)
Jô Moraes (PCdoB-MG)

Contra
Luiz Pitiman (PMDB-DF)
Carlos Sampaio (PSDB-SP)
Domingos Sávio (PSDB-MG)
Gladson Cameli (PP-AC)
Maurício Quintela Lessa (PR-AL)
Sílvio Costa (PTB-PE)
Filipe Pereira (PSC-RJ)
Armando Vergílio (PSD-GO)
César Halum (PSD-TO)

A lista acima nos permite tirar as seguintes conclusões:

  • Entre deputados, houve empate de 9 a 9. A derrota de Cunha se deu entre senadores, entre os quais havia maioria de parlamentares de direita.
  • O erro dos governistas, portanto, nasceu na origem da CPI. Mesmo sabendo que a comissão investigaria um esquema ligado sobretudo à oposição (DEM e PSDB), porque mais senadores do PT ou de outras legendas do núcleo duro da base não se inscreveram nela, a fim de comporem uma maioria? Onde estavam Suplicy, Humberto Costa, Vanessa Grazziotin?
  • Olhando o quadro de senadores que a compunham, explica-se porque tanto o primeiro como o segundo relatório de Odair Cunha não receberam apoio.

Doravante, quando a situação criar CPIs, uma boa iniciativa para sair da defensiva e combater a corrupção sem estar a reboque da mídia, que o faça com mais competência, a começar tomando o cuidado de compor maiorias. E não maiorias instáveis como se viu, calculadas a partir de uma abstrata “base aliada”, mas composta por membros do núcleo duro de apoio ao governo. O conceito de base aliada tem de ser revisto. A base é aliada para alguns objetivos, para outros, não. Numa CPI, não se pode brincar de “base aliada”.

O PT perdeu uma grande oportunidade de inflingir um contra-ataque político à oposição, partidária e midiática. Se tivesse agido com mais inteligência e galhardia, teria criado um contraponto ao massacre que sofreu com o julgamento do mensalão. Ainda mais porque havia inúmeros pontos de ligação entre uma coisa e outra. A parceria entre Cachoeira e Veja esteve por trás, desde o início, dos pesados ataques midiáticos que começou a sofrer a partir de 2005, a começar pelo flagra nos Correios, quando se divulgou vídeo onde Maurício Marinho embolsava uma propina de 2 ou 3 mil reais.

A estupidez política do PT resultou numa derrota não apenas para o partido, mas para toda a sociedade. E acabou por influenciar também o próprio julgamento da Ação Penal 470, visto que, se houvesse um contraponto, os juízes do STF ver-se-iam obrigados a considerar a luta midiática na análise de conjuntura.

Entretanto, mesmo considerando essa estupidez e essa derrota, ainda sim devemos olhar para os resultados concretos da CPI com menos emoção partidária e mais objetividade. Em primeiro lugar, deve-se entender que o conceito de “resultados concretos” tem sido um tanto distorcido pela midia, sempre com objetivo de atacar a CPI do Cachoeira.

Uma CPI quase nunca apresenta resultados concretos. Ela encaminha indiciamentos, dados e conclusões às autoridades competentes, que podem dar aceitá-los ou não.

O que se deve olhar, numa CPI, são seus resultados políticos. Ela é tocada numa casa política, por políticos, e, especificamente no caso desta, investigava um esquema de corrupção política.

A CPI desbaratou e trouxe à luz um esquema complexo, onde se reuniam interesses políticos, mafiosos, empresariais, midiáticos.

Havia um braço político: Demóstenes Torres, Marconi Perillo, prefeitos e deputados. Um braço mafioso: Carlinhos Cachoeira Um braço empresarial: Delta. Um braço midiático: revista Veja.

Este é o grande trunfo da CPI, e a sua grande derrota acontece porque um esquema com essas características teria que ser, necessariamente, investigado por agentes políticos, porque ele embute não apenas crimes comuns, mas tramóias propriamente políticas, algumas das quais talvez seja difícil penalizar criminalmente, mas que podem ser facilmente exibidas, à sociedade, como exemplo notório de pilantragem midiático-política. Ninguém conseguia pegar Al Capone, porque ele cuidava para dar aparência legal à sua vida, mas todos sabiam que se tratava de um bandido. A mesma coisa poderia valer para Perillo, Veja e Cachoeira.

A inversão de valores que vimos este ano, em se tratando de política, é muito curiosa. Todo mundo sabe (inclusive a oposição) que José Genoíno é uma pessoa inocente, um cidadão sem posses, que se dedicou a vida inteira a ideais nobres, e no entanto, está condenado. Todo mundo sabe que Perillo é culpado, que seu governo foi tomado por Carlos Cachoeira, e que a Veja alugou suas páginas, por anos, aos interesses de um esquema mafioso, e, no entanto, Perillo e Policarpo estão livres, leves e soltos.

Essa contradição é que poderia ser explorada pelo PT, caso tivesse sido mais inteligente e mais cuidadoso ao montar os participantes da CPI.

[/s2If]

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.