Coxinhas perdem apoio popular

“Tantas você fez, que ela cansou”, cantava Toquinho.

Chega a ser um pouco alarmante constatar isso, mas é o que aconteceu. Claro que foi potencializado pela histeria midiática dos últimos dias, mas já era uma tendência que vinha sendo detectada em pesquisas anteriores.

Os “protestos” no Rio se tornaram uma diversão para os ricos e sofrimento para os pobres. Os coxinhas, enfim, com suas atitudes irresponsáveis e violentas, com sua falta de pautas objetivas, com sua intransigência absoluta, conseguiram a proeza de fazer os pobres se voltarem contra as manifestações.

Agora é estatístico. Segundo o Datafolha, 51% da população do Rio que ganha até 2 salários é contra protestos. Já entre o segmento mais rico, que ganha mais de 10 salários, a situação é inversa: 71% é a favor.

Quando se mede por escolaridade, a disparidade é ainda mais gritante. Entre os que têm apenas ensino fundamental, 61% afirmaram ser contra protestos. Já entre a turma com ensino superior, a aprovação aos protestos é de 74%.

Por que isso? Não é tão difícil entender. Manifestações desorganizadas e totalmente indiferentes ao caos provocado na cidade afetam de maneira muito mais brutal os cidadãos mais humildes. Os ricos, sempre dão um jeito de se safar dos engarrafamentos. Assistem à tudo no conforto de seus apartamentos, na Globonews. Aliás, a Globo há meses passou a contar com o “globoninja”, que nada mais é do que um repórter disfarçado de mídianinja. Até esse lado realmente anárquico das manifestações, a presença de um novo tipo de midiativismo, foi incorporado pela grande imprensa.

Segundo a reportagem, 95% dos entrevistados afirmaram ser contra vandalismo e 90% reprovam o uso de máscaras. Os números comprovam, portanto, que foi exatamente a violência e a máscara, características eminentemente coxinha e black bloc, o que vem causando a erosão do apoio popular a manifestações.

Além disso, as pautas são vagas. Mesmo as manifestações contra o mais recente aumento da passagem no município me pareceram egoístas, porque fingiram não ver os avanços oferecidos pela prefeitura.

Na mesma decisão em que determinou o aumento das passagens, o prefeito Eduardo Paes finalmente aceitou uma demanda antiga do movimento estudantil: aumentou o passe livre. Os estudantes de ensino médio e fundamental, que tinham direito a 60 viagens gratuitas por mês, agora terão 76 viagens. A medida visa incluir o fim de semana, permitindo que os jovens passeiem pela cidade em seus dias livres.

Os estudantes universitários que participam de algum programa do governo federal, por sua vez, que já pagavam meia passagem, agora terão direito ao passe livre. Os universitários com renda familiar per capita de até um salário mínimo, agora também dispõem do benefício da gratuidade. A medida vale para estudantes tanto de universidades privadas como públicas.

A comprovação da renda familiar foi desburocratizada e poderá ser feita através de “autodeclaração” à prefeitura.

Essas medidas já estão valendo, e explicam em parte o esvaziamento das manifestações contra o aumento da passagem do ônibus, que foi de 9%, e o primeiro em dois anos, abaixo da inflação oficial (IPCA) no período, que foi de 11,63%. O ônibus no Rio agora é R$ 3,00.

Entretanto, acredito que os pobres cariocas tenham desenvolvido hostilidade a um tipo específico de protesto, intransigente, violento, desorganizado e difuso.

Protestos inteligentes, focados em pautas específicas, feitos com objetivo de obter mudanças concretas e que, portanto, incluam a disposição de dialogar com as forças políticas, estes nunca perderão o apoio popular.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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