A falácia do “eleitor de Dilma”

Os leitores que acompanham meus textos sabem que, apesar dos pesares, e contra a maioria de meus colegas blogueiros, eu confio nas pesquisas de intenção de voto, e gosto de fazer análises de conjuntura com base nelas.

Eu sei que minha atitude é ingênua e temerária, mas o meu gosto por estatísticas (mesmo as subjetivas) é mais forte do que eu gostaria.

Entretanto, não podemos deixar que o respeito pelas pesquisas nos transformem em idiotas completos.

O caderno de política da Folha traz a seguinte manchete:

Daí o jornal nos apresenta graciosas caixinhas com o “perfil” do eleitor de cada candidato (imagem na parte inferior do post).

Ora, aí a estatística confunde mais do que esclarece. Estamos falando de um eleitorado de mais de 140 milhões de eleitores. Dar a entender que todo eleitor da Dilma é pobre, mora no Nordeste, vive em cidade pequena, e só tem ensino fundamental é uma falácia monstruosa.

Em várias regiões do país, Dilma tem maioria em todas as faixas de renda e em todos os níveis de escolaridade.

Eu mesmo sou um exemplo.

Tenho ensino superior, leio em várias línguas e, com a generosa preferência dos meus assinantes, ganho por mês bem mais do que dois salários mínimos. Ah, moro no Sudeste, numa cidade com mais de 8 milhões de habitantes.

E sou um eleitor de Dilma. Votei nela em 2010 e votarei nela, obviamente, em 2014, pois não quero deixar a direita (disfarçada ou não) voltar ao poder.

A gente tem que tomar cuidado com essas generalizações medíocres.

E isso sem falar nesse odioso “bacharelismo” de terceiro mundo que ainda atazana a nossa cultura. Esse preconceito bobo que trata o diploma como sinal de inteligência. Não é. O cidadão com diploma às vezes é muito mais ignorante politicamente do que alguém que não fez faculdade.

Eu até me arriscaria a dizer que no Brasil, infelizmente, os piores analfabetos políticos tem curso superior…

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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