A dobradinha Globo X Renan para sabotar a democratização da mídia

Os maiores aliados da Globo na tentativa de sabotar o mero debate sobre mídia são caciques políticos do Nordeste, cujo poder deriva justamente do controle sobre os grandes meios de comunicação em seus estados. Henrique Alves, proprietário da repetidora da Globo no Rio Grande do Norte, e presidente da Câmara, é um deles. Renan Calheiros é outro.

Hoje, o Globo faz uma dobradinha com Renan e mente descaradamente, como de praxe. Aliás, mentir é até eufeumismo. Calunia o governo e o PT, que provavelmente não vão responder nada, também como de praxe.

Repare o que diz o texto. “Renan ainda defendeu a liberdade de expressão. Ele disse que há compromisso do Senado Federal, do Congresso contra qualquer tentativa de controle da liberdade de expressão. Essa é uma das teses defendidas pelo PT e pelo governo Dilma”.

Maravilha! PT e governo Dilma querem “controlar a liberdade de expressão”!

Uma acusação dessas vai ficar por isso mesmo?

A culpa maior é da presidência da república, que aborda o assunto à medo, reativamente, ao invés de atacar  o problema de frente, com informação, falando da regulamentação de outros países, da necessidade de pluralismo prevista na Constituição. Chamem o professor Vinicius Lima! Chamem Franklin Martins! Ambos podem escrever um texto para ser publicado no blog da presidenta e explicar, de uma vez por todas, que a restrição à liberdade de expressão ocorre agora, sob o jugo do monopólio.

Estamos ingressando no pior dos mundos. Além do governo não fazer concretamente nada pela democracia da mídia, a timidez da presidenta, que aborda o assunto de maneira incompleta, hesitante, amedrontada, permite que a mídia, como sempre, monte sua própria narrativa.

Daí um desses atores, da Globo, começa a xingar o governo de “autoritário” e ninguém entende que a razão é justamente este silêncio cúmplice, derrotista, do governo.

Dilma podia inclusive repetir o bordão popular que ecoou nas ruas no ano passado: a verdade é dura, a rede globo apoiou a ditadura! Ou a presidenta esqueceu que foi torturada com o aval da Rede Globo? E que o Estadão, que hoje se posiciona histericamente contra ampliação da participação popular, foi um dos articuladores e financiadores do golpe de 64?

Também em 1964, a direita acusava o governo de preparar um “golpe” popular, com ajuda de movimentos sociais e sindicatos. Também em 1964, eles produziam “mal estar” e faziam demagogia em torno da corrupção. Também em 1964, eles gritavam “golpe” sempre que queriam dar um.

O povo quer mudança sim! Quer um governo que enfrente o núcleo político do conservadorismo: e o núcleo hoje é esta mídia que se consolidou na ditadura, deu um golpe com a Ação Penal 470, e impõe uma agenda ultraconservadora.

A reação ao decreto presidencial sobre participação popular é mais uma prova de que, sem obter amparo suficiente junto às redes sociais, o governo vai perder sempre. Se não enfrentar a mídia, vai perder sempre.

A construção desse amparo, e a decisão de lutar,  é a própria democratização da mídia.

A mídia não será democratizada com um toque de mágica. É um processo que tem início com uma postura mais combativa por parte do governo, o que injetaria ânimo para ampliar a movimentação social em torno do tema.

Agora não dá mais para fugir, Dilma! Agora já era, o tema integra uma resolução de seu partido. Então, a menos que você mude de partido, terá que enfrentar o tema democratização da mídia. Não é nenhum bicho papão. É fazer no Brasil o que EUA e Europa fizeram. É discutir um assunto que, como qualquer assunto numa democracia, não pode ter seu debate censurado!


(No vídeo, uma das milhares de manifestações em prol da democracia na mídia, que ocorreram no ano passado. Isso a mídia não dá, e o governo não vê).

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.