Dilma e Marina travam 1º embate


 

Algumas observações sobre o debate dos presidenciàveis na Band, ocorrido nesta segunda-feira 26 de agosto de 2014.

Dilma encaçapou algumas bolas. Conseguiu até mesmo se sair bem na pergunta sobre regulamentação da mídia, falando contra o monopólio e mencionando a ideia de fazer uma regulação econômica. Ótimo.

Mas se confundiu em outras. Poderia ter destruído facilmente Aécio Neves, quando ele começou a repetir baboseiras da mídia sobre geração de emprego segundo o Caged. Poderia ter respondido: não gera mais tanto emprego porque todo mundo está empregado!

Ela foi bem na parte em que falou da Petrobrás, falando com paixão. Ao rebater acusações de Aécio sobre o fato de haver um diretor preso, a presidenta lembrou que a prisão fora realizada por uma instituição federal, a Polícia Federal, aparelhada e incentivada durante os governos Lula/Dilma. Antigamente, ninguém ia preso não porque não houvesse desvios, mas porque não havia investigação.

A presidenta melhora sensivelmente o seu desempenho quando fica contrariada. Quando está “fria”, engasga muito e tem dificuldade para concatenar frases.

Ela também mandou bem ao afirmar, em resposta à Marina, que o programa Mais Médicos não é paliativo. Tratar de pessoas doentes jamais é um paliativo. E um programa que atende quase 50 milhões de pessoas já pode ser chamado de “estrutural”.

Ao responder uma pergunta de Boris Casoy sobre o salário pago aos médicos cubanos, porém, Dilma enrolou-se, por causa de sua dificuldade crônica para sintetizar os assuntos.

Perguntada sobre a carga tributária, faltou-lhe dados. Poderia ter respondido que é preciso avaliar o conceito de arrecadação tributária per capita, que é muito baixa no Brasil. A afirmação do Pastor Everaldo, de que temos a quinta maior carga tributária do mundo, é uma falácia completa, além de ser uma mentira.

Ela podia ter mencionado também a alíquota máxima de imposto de renda, que é muito maior em países avançados, como EUA, Europa, Japão, China, etc.

Marina Silva mostrou-se, mais uma vez, uma mulher incrivelmente astuta, de pensamento ágil. Faz acenos para a direita, através da defesa veemente do tripé econômico, e para a esquerda, ao fazer elogios a Lula e a programas sociais de governos petistas.

Mas não conseguiu responder a contento se acredita ou não no criacionismo, e pareceu simplesmente cínica ao explicar a participação da herdeira do Itaú na coordenação de sua campanha.

Com seu papo de “unir o Brasil”, Marina revela que o eixo central de seu discurso é a “despolitização”. A dicotomia PT e PSDB, ao invés de ser um exemplo saudável de divergência democrática, é pintada como o mal em si.

Será interessante assistir aos embates entre Dilma e Marina num eventual segundo turno, apesar do perigo de termos uma “Collor” de saias na presidência.

Aécio Neves fala bem, com agilidade, mas seu discurso não tem consistência. Ele age como um boneco da mídia. Na minha opinião, já era.

Ao final do discurso, faz uma coisa patética: nomeia Armínio Fraga para ministro da Fazenda, como se Armínio fosse alguém bem visto pela maioria dos espectadores. Ora, Armínio foi presidente do Banco Central cuja primeira medida foi elevar os juros básicos para 45% ao ano, de longe os maiores do planeta.

Luciana Genro, do PSOL, é extremamente blasé, quase uma caricatura de uma radical. Fala como um robô, usando argumentos clichês.

O Pastor Everaldo é um cão reaça furioso. Deveria ser o candidato da Veja.

Estava gostando muito de Eduardo Jorge, mas ele parece ter surtado perto do final. Virou um fanfarrão.

Triste, no entanto, é ver os jornalistas da Band, que deveriam guardar suas opiniões para si – ao menos durante o debate, durante o qual os telespectadores querem saber as opiniões deles, e não dos jornalistas. As perguntas sobre a regulamentação da mídia e o decreto sobre participação social vieram impregnadas de preconceito e ódio ideológico.

Assistam vocês e dêem sua opinião.

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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