Imprensa mentiu sobre guerra ao terrorismo


 

Na longa entrevista que deu aos blogueiros, na tarde desta sexta-feira, a presidenta Dilma fez uma observação que me deixou intrigado.

Ao acusar a imprensa de ter distorcido integralmente o seu discurso na ONU, ela explicou que não defendeu, obviamente, nenhum “diálogo” com nenhuma organização terrorista.

Em seu pronunciamento, Dilma disse o óbvio: mais bombardeios não resolverão nada.

Na entrevista, a presidenta alertou que a mídia brasileira divulgou uma mentira.

A mídia deu a entender que Dilma estava se posicionando contra a decisão do Conselho de Segurança da ONU, e que este havia aprovado ataques aéreos às bases do Isis, sigla do Estado Islâmico.

Mentira.

Os bombardeios americanos e europeus acontecem, mais uma vez, ao arrepio da lei internacional.

Dilma estava certa, e seu discurso foi infinitamente mais sensato que o de Obama.

O Conselho de Segurança da ONU não aprovou nenhum bombardeio ou invasão de espaço aéreo.

Ao contrário, o texto da resolução da ONU, aprovado no último dia 24, aponta a necessidade de se construir soluções não violentas para o crescente nível de terrorismo da região do Iraque e Síria.

O texto fala em endurecimento, aí sim, do combate ao financiamento ao terrorismo e ao livre trânsito de terroristas entre os países.

Mas sugere, claramente, que a prioridade deve ser dada às estratégias não-violentas.

Menciona a necessidade de investimentos maciços em educação e cultura, para frear a influência da “retórica terrorista” junto às populações traumatizadas pela guerra.

Bombardeios matam inocentes, destróem infra-estrutura, produzem mais miséria e mais desespero.

E mais terroristas.

O Estado Islâmico nasceu das guerras no Iraque e na Síria.

Guerras idiotas conduzidas ou patrocinadas criminosamente pelos EUA.

Saddam Hussein podia ser um tarado, um déspota, um homem corrompido pelo poder. Mas o Iraque de seu tempo era um país laico, um dos únicos do oriente médio, onde as mulheres saíam às ruas livremente, sem rosto coberto, e podiam exercer funções públicas.

Antes das sanções, era o país mais próspero e mais livre da região.

E não tinha “armas de destruição em massa”.

Hoje se sabe que aquilo foi uma invenção do governo Bush, com a conivência criminosa da mídia americana.

Hoje a região foi tomada por uma religiosidade violentíssima, trevosa, atrasada. Milhões de mulheres estão sob o risco de amputação genital, por resolução do Estado Islâmico contra o prazer sexual da mulher.

É uma coisa de louco, criada pela guerra.

Não aceito e não aprovo o apoio que a imprensa americana dá ao belicismo do governo Obama.

Mas sei que a guerra é uma indústria bilionária, gera empregos e divisas para os EUA.

Para o Brasil, não.

Além de ser uma infâmia moral, a guerra, mesmo num lugar distante como o Iraque, fere os interesses econômicos do Brasil, porque exportamos para o oriente médio.

Faturamos bilhões de dólares exportando carnes, café, serviços de infra-estrutura, para a região.

Dilma estava certa.

Não à guerra, não aos bombardeios.

O terrorismo tem de ser combatido por meios não-violentos.

O terrorismo foi criado pela estratégia de guerra, e tem crescido assustadoramente, para desespero de milhões de pessoas no mundo inteiro, sobretudo no oriente médio, e para o lucro da indústria de armas, americana e europeia.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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