Impeachment: a flor ainda tem pétalas


 

Num post da semana passada, eu comparei a análise da política brasileira ao ato de arrancar pétalas de uma flor.

Destaca-se uma pétala: vai ter golpe. Outra pétala: não vai ter.

O texto tinha um tom meio pessimista, e prefiro manter um ceticismo calculado.

Não sei dizer bem se a semana começou melhor. Há sinais contraditórios.

Nos últimos dias, três personagens importantes jogaram água fria no impeachment. Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados, fez uma defesa enfática do argumento do governo na questão das “pedaladas fiscais”.

FHC, presente no mesmo evento que Cunha, também puxou o freio do impeachment, jogando o assunto para o Judiciário.

E hoje é a vez do senador José Serra repetir FHC.

Esses movimentos isolam Aécio Neves, a liderança tucana mais histérica, nesse momento, na defesa do impeachment.

Entretanto, não dá para comemorar nada porque todos os que puxaram o freio hoje, poderão acelerar amanhã, a depender do clima político.

O governo, por sua vez, continua inerte. Dilma aumentou um pouco a exposição, mas não fala de política, e permanece obcecada pelo “ajuste fiscal”. Com isso, Dilma enfraquece o seu próprio lado, na batalha de ruas que a direita tenta levar adiante.

O efeito novidade criado pela entrada de novos ministros, já está passando. Se não houver uma sucessão muito boa de agendas positivas, a atmosfera voltará a ficar pesada.

A pele do governo está fina. Qualquer golpe o fere, perigosamente.

A prisão do Vaccari, uma iniciativa autoritária de Sergio Moro, iniciou uma nova onda de ataques ao PT e ao governo.

No domingo, a Folha aderiu ao impeachment, e passou a pressionar ministros do TCU a darem declarações negativas contra a presidenta. Este é o lado negativo da semana. A mídia conseguiu emplacar “argumentos” novos para subsidiar o impeachment. Não importa se não vai para frente. O importante é manter a palavra impeachment na capa dos jornais e portais, e arrancar expressões fortes dos ministros do TCU – e ambas as coisas foram obtidas.

A “moderação” de Cunha me parece um caso à parte. Creio que o PMDB não se interessa pelo impeachment porque Temer e Cunha não resistiriam aos ventos robespierrianos de um processo assim. Perderiam a cabeça também. Então quero crer que Cunha é sincero quando rechaça o impeachment.

Mas Cunha é cria da Globo. Se o caldeirão mágico da mídia produzir um factóide qualquer, e a Globo mergulhar de cabeça, ela convence Cunha a vir para o lado dela.

Já o recuo de FHC e Serra me parece jogada calculada, preservando sua imagem, porque eles tem de jogar para vencer. Quando conseguirem tirar da cartola uma denúncia um pouco mais apresentável, e injetar mais adrenalina na massa paneleira, essa moderação pode virar pó: vão para a linha de frente defender o impeachment

***

Os procuradores da Lava Jato, herois da capa da Folha, continuam produzindo factoides caros à narrativa da mídia, sobretudo por causa de sua obsessão para criminalizar unilateralmente as doações das empreiteiras ao PT.

Na página do MPF, uma notícia que mostra o nível de terrorismo penal imposto pelo Judiciário na Lava Jato: “de 205 Habeas Corpus ajuizados pelos investigados, apenas 2 foram concedidos.”

Hoje, contudo, tivemos duas novidades importantes, vindas de um Ministério Público que deveria estar constrangido pelo partidarismo antipetista dos procuradores da Lava Jato e do juiz Sergio Moro.

A pressão das redes sociais talvez esteja fazendo resultado. E hoje ficamos sabendo que a força-tarefa da Operação Zelotes, que lida com valores muito superiores aos escândalos da Petrobrás (e não correspondem a uma mísera obra), e não está sendo tocada com o espírito apocalíptico de partido que caracteriza a Lava Jato, anunciou hoje que analisa a quebra de 43 sigilos bancários. E mais:


 

E ainda temos o trensalão tucano. Na sexta, o MP divulgou que estima os desvios no sistema de trens de São Paulo em mais de R$ 100 milhões. Não se pode esquecer que 70% das doações para campanha de reeleição de Geraldo Alckmin vieram das empresas do cartel de trens.

O MP vai continuar criminalizando apenas as doações ao PT?

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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