A inacreditável estupidez de não usar a TV no 1º de maio

Dilma esqueceu das eleições? Esqueceu que tem gente querendo defendê-la? Esqueceu daquela noite no Tuca, em São Paulo, ovacionada por milhares de pessoas, bem no coração da tucanolândia? Esqueceu que o Brasil não é feito apenas de paneleiros pró-militares? Esqueceu que ganhou?

Ainda não acredito que o Executivo fará uma estupidez dessa.

Não acredito que seja verdade que Dilma não fará um pronunciamento na TV aberta, como todos os presidentes têm feito, há anos, no 1º de maio.

Se fizer isso, é mais um tiro no pé.

Nos dois pés.

Os partidos vendem a alma para conseguir um minutinho a mais de TV.

E a Dilma joga fora de graça?

Por que?

Por medo de paneleiros?

Ora, isso é um desrespeito até mesmo contra os paneleiros. Se eles querem bater panelas, que batam. Isso demonstra que a democracia está viva.

Com um pouco de inteligência, os barulhos das panelas podem ser transformados em energia política, em favor de alguma narrativa.

O tempo de TV não é da Dilma, é do Executivo.

A gente fica se esgoelando para que o governo use mais a TV aberta, que fale mais, que venha para a arena política mostrar que está vivo.

E o governo faz o caminho contrário?

Vai se esconder ainda mais?

Berzoini, foi para isso que você virou ministro da Comunicação?

Edinho Silva, cadê você que não impede uma barbaridade dessa?

Dilma não é representante de si mesma.

Ela é a depositária política de 54 milhões de eleitores.

Se Dilma quer usar as redes sociais, ótimo!

É isso que temos sugerido há tempos!

Ora, mas então use o tempo na TV aberta, para fazer propaganda de sua rede social: “meu povo, entre no meu blog, entre na minha rede social”.

Faça um blog novo, uma rede social nova. Troque as fotos da rede social toda semana, para dar um ar sempre renovado.

(A fotinho do facebook de Dilma permanece a mesma há anos).

Ao invés de transmitir a mensagem de que Dilma não vai falar, a presidência deveria criar, desde já, a expectativa sobre o que seria dito no 1º de maio, criando um fato político.

Os meios de comunicação têm de ser usados em sinergia, em complementaridade.

Não vou culpar a Dilma porque não é possível atribuir essa responsabilidade a uma pessoa só. Não estamos numa ditadura, então esse tipo de decisão é colegiada.

A culpa, portanto, é do governo como um todo.

Em matéria de comunicação, o governo ainda é perigosamente burro.

Esta é a principal razão de sua fragilidade.

É uma opinião consensual de todos os cientistas políticos, de todos os políticos. Até mesmo Eduardo Cunha avisou: o governo não se comunica politicamente.

E aí quando tem a chance, o governo resolve não falar?

Se Dilma cair, será culpa dessa burrice.

O eleitor deu seu máximo: contra tudo, contra todos, elegeu Dilma.

Os movimentos sociais e centrais sindicais, em meio a clima de fim de mundo, em meio à atmosfera insuportável de criminalização da política, contra tudo e contra todos, conseguiram pôr gente na rua para defender a democracia.

Toda semana, a oposição inventa um pretexto diferente para o impeachment, com apoio da mídia e sob o olhar irônico de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, que faz um jogo de morde e assopra para ampliar seu poder.

Toda semana, as forças que apoiam Dilma conseguem enterrar a tentativa, apesar da inação do governo.

Ao não falar no 1º de maio, o governo, contudo, faz vários gols contra.

Dá munição aos adversários e trai a si mesmo.

Assim fica difícil, Dilma!

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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