Propostas ao som do panelaço

Os paneleiros


 

A melhor definição para o panelaço, veio do Emicida:


 

No entanto, na minha opinião, é hora de calçar as sandálias da humildade.

Temos que admitir: o panelaço promovido pelos eleitores de Aécio constitui um sucesso de comunicação, sobretudo em função da força que recebem da grande mídia.

Como observou um leitor, na próxima derrota eleitoral, no início de 2019, talvez usem tambores.

De qualquer forma, comunicação é uma coisa que o governo parece desconhecer.

Uma digressão rápida: não existe debate parlamentar na tv aberta.  Quer dizer, nas eleições, não há debate entre os candidatos ao legislativo na tv, nem em lugar nenhum.

Os próprios debates presidenciais acontecem após as 22 horas, ou pior, às 18 horas, hora em que todo mundo está no trânsito, voltando para casa.

Tudo isso contribui para o processo de despolitização do brasileiro.

Voltando ao panelaço, ele serviu, mais uma vez, como o termômetro do ódio. Muita gente não quer ouvir o que Dilma ou o PT tem a dizer.

É o triunfo da não-política.

Não é preciso ser nenhum Noblat – o vidente da imprensa, que sabe o que Dilma ou Lula falam na intimidade – para adivinhar o que o governo está pensando neste momento.

Ele está pensando assim: viu como eu tinha razão? Dilma não podia aparecer na TV, seria um desgaste para ela.

Certo.

Só que não.

Evidentemente, a solução não é PT, Dilma, Lula esconderem-se para sempre, à espera de dias melhores.

É preciso fazer a “batalha da comunicação”.

Vou dar algumas ideias (algumas pela milésima vez).

1) Dilma deveria voltar a fazer o programa Café com a Presidenta, mas em vídeo, e duas vezes por semana, abordando os problemas do Brasil.

O formato deveria de ser diferente do Café com a Presidenta original, que era apenas propaganda governamental. Esse programa deveria ter um conceito mais de autocrítica e superação; além de debater as pautas do congresso.

Podia ser com entrevistadores diferentes a cada vez, não necessariamente jornalistas, mas gente com prestígio na sociedade. Por exemplo, professores, sindicalistas, blogueiros, intelectuais, escritores, cineastas, agricultores, empresários. O programa deveria ser gravado e editado.

2) Toda a comunicação do governo: ministérios, presidência, deveria ter uma unidade maior, para otimização dos conteúdos.

3) O blog do Planalto deveria ter seu visual completamente reformado, e vir com uma pegada mais ágil, com gente escrevendo exclusivamente para o blog, fazendo entrevistas, editoriais, realizando o contraponto com a mídia. Mas com liberdade para tal, pelo amor de Deus. Dilma não pode sair dando bronca ou demitindo o responsável na primeira reação negativa da mídia.

4)  Os twitters da presidenta e do Planalto também deveriam ter uma equipe de gente produzindo exclusivamente para essa rede social, que não deveria ser usada para divulgar trechos dos discursos presidenciais ou mensagens de pêsames, mas ser usado como twitter. Com Rts de coisas legais, interação, contraponto à mídia, divulgação de agendas.

5) Mas sugeriria não usar linguagem bobinha, fingindo-se de “jovem”, ou simulando intimidade com os leitores. Não precisa falar: “vamos lá, galera, vamos responder a isso”. Não, a linguagem pode até ser divertida e irônica, mas adulta.

6) Os pronunciamentos na TV aberta deveriam ser mais frequentes, mas muito menores. Coisa de 2 ou 3 minutos, e com um formato decididamente mais leve e bem humorado. Eu pensaria até em brincar com a questão das panelas. Tipo trazer Dilma com uma panela na mão.

7) Os pronunciamentos na TV deveriam se dar exclusivamente para anunciar políticas públicas concretas, e não para dar recados inúteis sobre isso e aquilo. Dilma poderia anunciar, por exemplo, um PAC da Tecnologia da Informação, montando núcleos de pesquisa de alta tecnologia em todas as capitais. Esse PAC poderia ser um ataque, pelos flancos, para a questão da democratização da mídia.

8) Podia-se pensar em coisas com impacto real na vida das pessoas, como por exemplo, um grande programa para instalar bebedouros limpos e decentes nas grandes cidades. Banheiros públicos também. Imagine nossas cidades com bebedouros e banheiros, ambos limpíssimos, higiênicos, como isso teria impacto prático em nossas vidas. Isso impactaria no custo e na qualidade de vida do cidadão das grandes cidades, onde a presidenta encontra sua maior rejeição.

9) A internet  está ficando muito cara. Esses programas pré-pagos estão consumindo a renda de milhões de pessoas. Dilma poderia intervir nesse mercado, com alguma ideia nova. Queria até fazer uma autocrítica aqui a um post que publiquei no Tijolaço, sobre isso. Escrevi bobagem. É claro que foi uma péssima ideia posar ao lado do proprietário do Facebook. O Brasil tem que investir em tecnologias próprias de internet.

10) No campo parlamentar, Dilma bem que podia jogar um pouco mais. Propor uns projetos ousados, mesmo sabendo que iria perder, apenas para mexer um pouco com o debate político, obrigando a mídia a ficar numa posição constrangida, de defender os reaças.

11) A imagem da presidenta precisa ser melhor trabalhada. Mas para isso, me desculpem, não  tenho sugestões. Só acho evidente que precisa ser melhor pensada. A imagem está muito ruim! Nunca ouviram falar que existe uma ciência chamada “relações públicas”, que cuida desse tipo de coisa? O conceito de “coração valente” salvou a presidenta nas eleições. Deveriam pensar alguma coisa por aí, mas isso implicaria, naturalmente, algumas mudanças reais de atitude política.

12) Os discursos de Dilma deveriam ser escritos sem o maldito vício do “protocolo”. A coisa mais estúpida do mundo é obrigar a presidenta a ficar agradecendo dez minutos a cada presente. Não tem que agradecer ninguém. Enterrem o protocolo! O discurso tem de ser leve, bem humorado, bem escrito, sucinto, objetivo e prático. Apliquem-se umas pitadas de poesia, para dar uma dimensão simbólica mais profunda, e pronto.

13) Quando houver ameaça de “panelaço”, o PT poderia articular uma resposta de “apitaço”. Seria um contraponto interessante. Os jornais seriam obrigados a mostrar que havia também um outro lado.

Tenho algumas ideias para o PT, também, mas fica para outro dia.

*

Faço, por fim, um pedido aos leitores: quando eu critico a comunicação do governo, por favor não digam que eu quero ser “secretário de comunicação” do governo, ou coisa parecida.

Quando alguém faz uma crítica à política econômica do governo, não quer dizer que aspire ao posto de ministro da Fazenda. A mesma coisa vale para a comunicação.

Acho uma função muito nobre, trabalhar no governo, mas cada macaco no seu galho. Sou um blogueiro, com a obrigação de ser imparcial e independente, sem perder, é claro, a minha identidade ideológica.

Ademais, não sou dono da verdade. Apenas tenho minhas opiniões, embasadas em mais de dez anos analisando, na condição de blogueiro, a política brasileira.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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