Globo adere ao malthusianismo pró-desemprego


Thomas Malthus foi um cara um pouco injustiçado. Ficou conhecido como alguém que desejava guerras, epidemias, fome, para que muita gente morresse e a população mundial se estabilizasse.

Ele não era tão cafajeste; apenas alertava, genuinamente preocupado, para os riscos da superpopulação, e tinha uma visão apocalíptica sobre o problema.

Felizmente, a revolução nas técnicas agrícolas e o avanço da medicina derrubaram as suas teorias. O mundo sobreviveu muito bem, e com muito mais gente.

Mas o termo “malthusianismo” se popularizou com uma conotação negativa, de uma ideologia que defende o extermínio em massa como algo necessário e saudável para o bem da humanidade.

Passados alguns séculos, o malthusianismo voltou a ser popular, na boca daqueles que dizem que o “desemprego é necessário”, conforme esta colunista da Globo, na imagem acima.

E não podemos nem dizer que é apenas a opinião dela, e não da Globo, porque nos dias de hoje, após o pogrom ideológico promovido pela Vênus, só ficou na empresa quem veste a camisa.

Se alguém achar que ela se confundiu apenas no título, entre no post e veja o que ela escreveu:

“A piora no mercado de trabalho não só era esperada como é necessária para correção da economia brasileira.”

Não quero promover nenhum linchamento populista. Entendo o que ela, e os economistas que usam linguagem similar, querem dizer: se o Brasil tem problema de excesso de demanda, o desemprego é positivo porque reduz a demanda, logo reduz a inflação.

Mas esse tipo de pensamento tão friamente economicista cheira a nazismo econômico. É possível, nessa linha de raciocínio, ver pontos positivos em qualquer desgraça.

Tipo assim: a tsunami no Japão, mesmo matando 3 mil pessoas, foi “necessária” para ajudar a reativar a indústria de construção civil.

Ou: foi “necessário” eu ter perdido as duas pernas para me tornar um campeão nas Paraolimpíadas.

Ou: “a inflação poderia ser reduzida se exterminássemos alguns milhões de brasileiros que andam comprando geladeiras demais.”

Ou qualquer coisa idiota do gênero.

Deve existir algum termo filosófico para isso.

É preciso denunciar essa moral desumana, a de que uma política econômica não deveria pensar antes de tudo no bem estar do cidadão, ou que se pode sacrificar algumas vidas agora com vistas a um bem maior no futuro.

Será que os técnicos do Banco Central, ao promoverem aumentos sequenciais das taxas básicas de juro, andam lendo blogs da Globo?

Até quando esse tipo de medievalismo existirá entre nós?

É evidente que existem maneiras mais inteligentes e mais humanas de se resolver o problema de excesso de demanda e da inflação do que promovendo um desemprego “necessário”…

(Sem contar que é muito doido considerar a demanda um problema, se o objetivo do desenvolvimento no capitalismo é justamente elevar o poder de consumo da população).

Sabe o que é o pior?

O blog da tal Thaís vem cheio de anúncios do governo federal. Ou seja, a sua babaquice malthusiana em prol do desemprego vem patrocinada com verba pública.

 


Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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