A derrota moral de Eduardo Cunha

Cunha conseguiu emplacar a primeira vitória do financiamento empresarial para campanhas eleitorais.

Ainda faltam outras votações, e depois tudo tem de ser votado também pelo Senado. O resultado ainda pode mudar.

Mas foi uma vitória suja, porque feita através de um golpe baixo, atropelando um acordo político público feito com todas as lideranças partidárias.

A isso se reduziu Eduardo Cunha, a um golpistazinho barato, que não cumpre acordos com seus próprios colegas de casa.

Sua imagem na história, que já era ruim, ficou ainda mais degradada.

Para mim, Eduardo Cunha perdeu outra vez. E desta vez foi uma derrota ainda mais triste, porque conspurcada pela baixeza, pela deslealdade, pela traição.

O presidente da Câmara precisa do respeito inclusive daqueles que lhe fazem oposição.

Cunha não tem mais isso.

Infelizmente, a democracia perdeu também. O dinheiro continua a ser o valor mais alto de uma campanha política.

Isso é o que já temos hoje, e o que a sociedade organizada queria mudar. Era a bandeira principal da OAB, da CNBB, dos movimentos sociais, de todas as centrais, de milhares e milhares de pessoas que vem se reunindo há anos.

Mas tudo isso gerou um fenômeno interessante. Cunha conseguiu uma coisa incrível. Empurrou a OAB para a esquerda.

Aliás, a virulência golpista da mídia, as conspirações judiciais, tudo isso tem levado uma boa parte da sociedade, inclusive setores mais conservadores – com exceção, é claro, daquela parte lobotomizada pela imprensa corporativa – para o campo progressista.

Os movimentos da política tem dessas coisas, e talvez a história nos tenha preparado para caminhar por essa direção mesmo.

Cunha, ao descumprir acordos e se tornar, de maneira tão descarada, um vilão, ajuda a criar uma polarização interessante, onde o PT, ainda cambaleante e confuso diante dos ataques que tem sofrido, e por seus próprios erros, encontra uma brecha política pela qual, se fizer os ajustes internos corretos, pode voltar a crescer.

*

Abaixo, o lamento do deputado Jean Wyllys em suas redes sociais.

Por Jean Wyllys, no Instagram.

A força da grana suja e as tenebrosas transações venceram essa batalha, infelizmente.

Apesar de ter sido derrotado ontem, Cunha fez de tudo para conseguir o que queria. Atropelando o regimento interno da Câmara, os acordos feitos publicamente no plenário sobre a pauta de votações e a civilidade política mínima (que desde sua chegada ao Trono não existe mais), o presidente da Casa, que se acha imperador, colocou em votação pela segunda vez o financiamento empresarial de campanha, e dessa vez conseguiu. Um “segundo turno” para reverter o resultado do primeiro, mesmo que isso seja uma aberração institucional, porque já era matéria vencida.

E, por incrível que pareça, o placar da votação mudou. Quer dizer, deputados que ontem tinham votado NÃO à constitucionalização da corrupção, hoje votaram SIM. Por que será?

Os hipócritas do PSDB e do DEM, que gostam tanto de bater panela “contra os corruptos”, votaram em bloco a favor da corrupção institucionalizada. Porque o que foi aprovado é isso.

Financiamento empresarial de partidos significa privatização da política para que as empresas, as corporações econômicas, o poder do dinheiro mande e desmande. Empresa não doa, faz investimento, e recebe em troca muito mais do que investiu. Não é por acaso que 255 dos atuais 513 deputados federais receberam para suas campanhas dinheiro das empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato.

O Congresso deu as costas à população, mais uma vez, em defesa de obscuros interesses.

O financiamento empresarial da política prejudica sua vida cotidiana, porque quando o Estado serve aos interesses daqueles que pagaram as milionárias campanhas dos candidatos, os interesses do povo ficam relegados. E porque as enormes quantias de dinheiro que eles investem fazem com que seja muito difícil que os candidatos independentes do poder econômico (e, portanto, com campanhas pobres) se elejam.

Não deixemos essa aberração contra a democracia passar.

Proteste, reclame, mobilize-se, faça barulho, manifeste-se nas redes e nas ruas.

Diga não à contra-reforma de Cunha!

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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