Banco Central faz ajuste fiscal às avessas

Ás vezes eu acho que há um complô entre mídia, economistas neoliberais e o próprio governo para confundir a opinião pública brasileira na questão dos juros.

Por que os juros precisam subir tanto?

Numa entrevista recente à grande imprensa, um professor da UERJ deu uma pista. Segundo ele, os empresários brasileiros apenas concordam em segurar a inflação se o governo subir os juros, porque eles compensam o declínio do lucro no setor produtivo com aumento deste no mercado financeiro.

Tipo assim: o dono do Pão de Açúcar aceita segurar os preços se ele ganhar mais dinheiro investindo em títulos públicos.

Me pareceu uma explicação plausível.

Mas também uma tremenda cafajestagem desses empresários contra o Brasil e os brasileiros.

Isso explicaria os esforços para enfraquecer o governo: só um governo fraco aceita esse tipo de chantagem.

É um tanto absurdo porque vai contra o ajuste fiscal.

Juros mais altos consomem a receita do Estado de ambos lados: 1) obriga o governo a gastar algumas dezenas de bilhões a mais com juros; 2) deprime a economia e reduz a arrecadação tributária.

Ou seja, é um jogo de perde perde, e culmina com uma brutal transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos.

Tem alguma coisa que não entendemos?

Acho que os economistas do Banco Central e do Ministério da Fazenda, por respeito aos brasileiros, deveriam nos deslindar esses mistérios.

Da mídia, não podemos esperar nada. Ela só quer fazer política.

Se ninguém quer nos explicar, seremos obrigado a estudar por conta própria, como sempre.

Já que o governo torra centenas de bilhões de nosso dinheiro com juros, acho que o mínimo que devemos fazer é estudar como isso acontece. Talvez seja a melhor forma de lutar contra as razões esotéricas dos técnicos do Banco Central, cujas decisões parecem pairar numa outra dimensão moral, acima de qualquer crítica por parte da nossa imprensa.

Segundo o Tesouro Nacional, a composição da dívida é a seguinte:

A única “boa”notícia nisso tudo é que o perfil da dívida melhorou bastante nos últimos anos.  Há menos títulos atrelados ao câmbio e o naco maior (30%) é de longo prazo (acima de 5 anos) e prefixados (40%).

Outros dados sobre a dívida pública podem ser analisados no relatório mensal elaborado pelo ministério da Fazenda, que reproduzo abaixo. A última edição é de abril.

*

Na Agência Brasil.

Taxa de juros aumenta pela sexta vez seguida e vai a 13,75% ao ano

03/06/2015 20h15

Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil Edição: Aécio Amado

Pela sexta vez seguida, o Banco Central (BC) reajustou os juros básicos da economia. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou hoje (3) a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 13,75% ao ano. Na reunião anterior, no fim de abril, a taxa também tinha sido reajustada em 0,5 ponto.

Com o reajuste, a Selic retorna ao nível de janeiro de 2009, quando também estava em 13,75% ao ano. A taxa é o principal instrumento do BC para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Oficialmente, o Conselho Monetário Nacional estabelece meta de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos, podendo chegar a 6,5%. No entanto, ao anunciar o contingenciamento do Orçamento de 2015, o governo estimou que o IPCA encerre o ano em 8,26%.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA acumula 8,17% nos 12 meses terminados em abril. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, o IPCA encerrará 2015 em 8,39%. Este ano, a inflação está sendo pressionada pelos aumentos de preços administrados como energia e combustíveis.

Embora ajude no controle dos preços, o aumento da taxa Selic prejudica a economia, que atravessa um ano de recessão, com queda na produção e no consumo. De acordo com o boletim Focus, analistas econômicos projetam contração de 1,27% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos pelo país) em 2015.

A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Quando reduz os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas alivia o controle sobre a inflação.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.