Sobre a popularidade negativa de Dilma Rousseff

Antes de iniciar a análise dos números do Ibope sobre a aprovação do governo, façamos uma ressalva.

A pesquisa mais importante numa democracia, a única que não erra, para o bem ou para mal, é o sufrágio.

No entanto, é evidente que um governo democrático, num país com instituições ainda frágeis, e com uma cultura política traumatizada por 21 anos de ditadura, precisa de bons índices de aprovação para manter a estabilidade política.

Aliás, esta é a razão de tomarmos cuidado com pesquisas neste momento. Elas refletem o clima de golpe, com o noticiário batendo diuturnamente no governo, no partido de governo e na presidenta.

Sem contar que, com o tensionamento, crescem também as chances de manipulação das próprias pesquisas, que passam a ser usadas como capital de legitimação de golpes contra a soberania popular.

Dito isto, sigamos adiante.

Todo mundo tem avisado, sistematicamente. Quem não se comunica, se trumbica.

Todas as consequências que havíamos previsto estão se confirmando.

Sem comunicação, sem parar de dar dinheiro à Globo, sem fazer o enfrentamento político, o apoio ao governo, e particularmente à Dilma Rousseff, está erodindo rapidamente.

E vai continuar erodindo, até chegar no negativo.

Porque os próprios eleitores de Dilma a estão rejeitando.

Cadê a estratégia de comunicação?

Não se percebe que o crescimento da desaprovação, num ambiente político envenenado como o nosso, gera uma tremenda instabilidade política e, consequentemente, econômica?

Não se percebe que não adianta fazer ajuste fiscal se não há estabilidade?

Os dados do Ibope, vistos de perto, são ainda mais assustadores.

Dilma está sendo rejeitada universalmente, e com mais força ainda pelos pobres. Pelos mesmos pobres com os quais ela se recusou a falar no primeiro de maio, com medo de panelaços.

Ou seja, perdeu apoio na classe média, e agora perdeu apoio dos pobres.

Perdeu apoio no Sul e Sudeste, agora perdeu apoio no Norte e Nordeste.

Quando eu falo em comunicação, falo de política, dos erros monstruosos na condução da política.

Os erros políticos do governo provocam um efeito cascata em todas as instâncias nacionais.

Ao fugir do debate político, o governo prejudica não apenas a sua própria aprovação (o que compromete diretamente a sua base parlamentar, alimentando traições internas): ele prejudica todo o campo que investiu capital político em sua eleição, como centrais, sindicatos, movimentos sociais e milhões de eleitores que participaram de um embate político duríssimo em 2014.

Direitos humanos e leis trabalhistas, por exemplo, são tragados pelo retrocesso, e o governo popular, com baixa aprovação, não consegue lutar contra isso.

***

Texto publicado no portal da CNI.

Aprovação do governo Dilma Rousseff cai para 9%, informa CNI-Ibope

Pesquisa mostra que a popularidade recuou mesmo entre os que disseram ter votado na presidente no 2º turno das eleições de 2014. Brasileiros também estão pessimistas com relação ao restante do governo

A popularidade do governo Dilma Rousseff recuou ainda mais em junho. O número de brasileiros que considera o governo ótimo ou bom caiu de 12% em março para 9% em junho. O percentual da população que avalia o governo como ruim ou péssimo subiu de 64% em março para 68% em junho, mostra a pesquisa CNI-Ibope, divulgada nesta quarta-feira, 1º de julho, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O levantamento informa ainda que 83% desaprovam a maneira de governar da presidente e 78% não confiam em Dilma Rousseff.

“As maiores reduções da popularidade ocorrem nos estratos em que a presidente tende a ser melhor avaliada, ou seja, entre as pessoas com renda familiar baixa, os que residem na região Nordeste, os que possuem baixo grau de instrução e na faixa da população com 55 anos ou mais”, diz a pesquisa.

A popularidade do governo está caindo mesmo entre as pessoas que declararam ter votado na presidente no segundo turno das eleições de 2014. Entre os eleitores da presidente Dilma, o percentual de pessoas que avaliam o governo como ruim ou péssimo subiu de 45% em março para 53% em junho.”Dentre os que declararam terem votado em Aécio Neves no segundo turno, o percentual dos que consideram o governo como ruim ou péssimo subiu de 83% em março para 87% em junho”, informa a CNI-Ibope.

Conforme o levantamento, o número de pessoas que considera o atual governo da presidente Dilma pior do que o primeiro mandato aumentou para 82% em junho. Era de 76% em março. Os brasileiros também estão pessimistas com relação ao restante do governo. Para 61% da população, o restante do governo será ruim ou péssimo.

ÁREAS DE ATUAÇÃO – A pesquisa mostra ainda que a avaliação da população por área de atuação do governo praticamente não mudou entre março e junho deste ano. “As exceções dizem respeito ao combate ao desemprego, cujo percentual de aprovação recuou de 19% para 15%, e ao combate à fome e à pobreza, que registra queda de 33% para 29%. Nas demais áreas, as variações são inferiores à margem de erro da pesquisa”, informa a CNI.

A atuação nas áreas de juros e tributos continua sendo a pior avaliada pela população: 90% desaprovam a política de juros e de impostos.

Essa edição da pesquisa CNI-Ibope foi feita de 18 a 21 de junho com 2.002 pessoas em 141 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.

INFOGRÁFICO – A partir de agora, os infográficos que ilustram as reportagens sobre pesquisas da CNI são dinâmicos. Para visualizar os dados, basta mover o mouse sobre o mês desejado. O infográfico mostra a evolução do índice ao longo do tempo. Boa navegação!

Abaixo, a íntegra do relatório:

Aqui, os dados estratificados.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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