A conjuntura no Rio Grande do Sul

Alguns dias atrás, publiquei aqui uma análise da conjuntura política em Pernambuco, e pedi aos leitores que me enviassem textos com análises de outros estados. Abaixo, uma colaboração sobre o Rio Grande do Sul. Se você já enviou e eu não respondi, favor envie de novo para info@ocafezinho.com.

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Por Pedro Beier, via email.

Olá Miguel, meu nome é Pedro Lorenzi Breier, sou servidor público da justiça do trabalho e estou te mandando um panorama da situação política no RS feito por mim mesmo, caso queira publicar.

A campanha de José Ivo Sartori (PMDB) ao governo do Rio Grande do Sul bateu todos os recordes possíveis de despolitização. O lema era ‘meu partido é o Rio Grande’. Na música da campanha tinha um trecho que dizia ‘acima da direita, acima da esquerda’. Quando o Tarso (PT) perguntava, nos debates do segundo turno, sobre as propostas, sobre algum ponto ou omissão no plano de governo do Sartori, ele respondia com evasivas, chegando a dizer que o Tarso queria ‘fazer pegadinhas’ pra ele mas ele ‘não queria brigar’.

Uma entrevista a um veículo do grupo RBS (investigado na operação Zelotes) viralizou durante a campanha: https://m.youtube.com/watch?v=EQGyaNlLhTA. Nela os entrevistadores tentam de todas as formas fazer com que o Sartori apresente uma proposta concreta, sem sucesso (a partir de 4:30 do vídeo). A única coisa que ele diz é que tem que ‘conter os gastos’. Perguntado em que área se dariam os cortes o então candidato responde: “ah, viagenzinha em demasia, etc. daqui, etc. de lá, tem que poupar.”

Após a vitória no segundo turno da eleição e posse no Palácio Piratini, o que se vê é que as medidas adotadas são muito mais drásticas do que o governador deu a entender.

Já no dia 2 de janeiro o governo anunciou a suspensão dos pagamentos dos fornecedores por 180 dias e a suspensão de novas nomeações de aprovados em concursos públicos.

Em maio, é anunciado que os salários do funcionalismo seriam parcelados ao fim do mês, mas o governo volta atrás por conta de decisão judicial ordenando o pagamento integral.

O corte nos repasses provoca fechamento de hospitais municipais e cortes de leitos do SUS por hospitais filantrópicos. Escolas também ficam sem dinheiro para comprar coisas básicas como folhas de ofício.

No fim de julho os salários do funcionalismo são parcelados em três vezes, provocando revolta nos servidores. Em agosto, 40 categorias do funcionalismo aprovam uma greve de três dias.

No dia 29 de agosto os servidores descobrem que receberão incríveis R$ 600,00 no dia do pagamento, 31, em virtude de novo parcelamento dos salários.

Toda a cronologia das medidas do governo Sartori pode ser vista aqui: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2015/08/cronologia-crise-no-rs-e-medidas-do-governo-sartori.html

É o típico exemplo de um governo de direita: precarização dos serviços públicos pra vender a ideia de que a única solução possível é a privatização de órgãos do Estado, já aventada pelo governo Sartori. A campanha despolitizada e que não fala do plano de governo e das medidas que vão ser adotadas é parte essencial da estratégia: quem se elegeria anunciando medidas esdrúxulas e sem a mínima responsabilidade social como essas?

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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