Começa a batalha do impeachment

Agora é a vera.

Eduardo Cunha, derrotado no conselho de ética, prestes a ser preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu acolher um dos pedidos de impeachment contra a presidenta Dilma.

O processo chega em hora difícil para a oposição. Hoje mesmo, ela – a oposição – acaba de sofrer fragorosa derrota na Câmara e no Senado.

O governo conseguiu aprovar, com larga maioria, a revisão da meta fiscal, o que contou, naturalmente, como uma contabilidade da força do governo no parlamento.

O governo aprovou não apenas o projeto principal, como derrotou os dois destaques da oposição.

O impeachment, para prosperar, precisa de dois terços dos deputados. A oposição não tem dois terços, e a votação de hoje provou isso.

A vitória de hoje foi a seguinte: na Câmara, o projeto, de interesse do governo, ganhou por 314 votos a 99. No senado, a vitória do governo foi de 46 a 16.

Ou seja, foi um massacre.

Naturalmente, haverá um esforço, da parte dos movimentos pró-impeachment, de reativarem a histeria golpista.

Eu não quero mais falar que tudo vai dar certo, porque da última vez que falei, tudo deu errado.

Minha linha agora é a seguinte: não vai ser fácil para oposição.

Não vai ser fácil para ninguém.

O golpe do impeachment vem, mais que nunca, manchado pela imagem suja de Eduardo Cunha.

Como dissociar o impeachment de uma retaliação oportunista de um deputado acusado de vários crimes?

Como não ver a aceitação do impeachment como a vingança de um bandido, com milhões de dólares escondidos na Suíça, contra uma presidenta eleita com 54 milhões de votos?

Defender o impeachment é apostar no caos, é alinhar-se à Eduardo Cunha, é entregar o país aos elementos mais reacionários e corruptos da sociedade, é dar vitória aos fascistas.

Luta contra o impeachment é lutar pela consolidação da democracia.

Na hipótese da vitória do golpe, o que eles esperam fazer?

Empoderar Eduardo Cunha?

Como eles se livrarão da pecha de golpistas?

No impeachment de Collor, havia consenso na sociedade em favor do impeachment. Todos os juristas, quase todos os partidos, os movimentos sociais, as centrais, os estudantes. Todo mundo era a favor do impeachment. A votação do impeachment foi um massacre na época.

Hoje, não.

A oposição não tem consenso no país. Não tem os estudantes, não tem as centrais, não tem os movimentos sociais. Tem sim um bando de malucos nas ruas, que pedem derrubada dos três poderes, intervenção militar, fim do sufrágio universal, e demais bizarrices.

E se ganhasse na Câmara, o que seria muito difícil, seria uma votação apertadíssima, espremida.

E mais: não terminaria aí. Haveria 180 dias de vacância da presidência e uma votação no Senado, que também seria outra guerra.

E a economia brasileira, como fica?

Como poderá haver recuperação econômica num país conflagrado politicamente?

Por essas razões, reitero que a oposição terá muita dificuldade para levar adiante esse golpe contra a democracia brasileira.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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