O nada bom e muito velho entreguismo

por Tadeu Porto, colunista do Cafezinho

Não é de hoje, nem de ontem.

Também não começou no tempo do walkman ou mesmo nos clássicos acirrados entre o Galo e o Flamengo. Não teve origem na ditadura militar, nem ouvindo Elvis Praslei ou em meio as revoltas da Chibata ou de Canudos, na Guerra da Farroupilha, Inconfidência Mineira ou Revolução de Beckman.

O entreguismo nacional é mais velho que a serra, como se costuma dizer aqui nas minhas Minas Gerais, sem perdão algum ao trocadilho que escrevi com muito prazer! ;)

Não importa em qual página vamos abrir o livro de história. Ou melhor, não importa que palavra vamos procurar na busca de um PDF que contenha a trajetória do Brasil (não quero parecer velho e me prender ao papel): sempre vamos encontrar algum exemplo de uma classe entreguista – geralmente uma elite – que não acredita num desenvolvimento local.

Do pau-brasil à cana de açúcar; das drogas do sertão ao café; da mineração à agropecuária; da borracha ao algodão houve oportunidades de impulsionar uma industria nacional que foi preteria pelo desejo de entregar nossas commodities nas mãos estrangeiras e viver exclusivamente da extração material sem agregar valor à nossa matéria prima.

Claro, existe exceções. Uma delas, que a nobreza parece não ter engolido até hoje, foi a Petrobrás.

Bancada por Getúlio Vargas, numa briga ideológica acirrada entre nacionalistas e entreguistas – que rendeu “o poço do Visconde”, um belo episódio do Sítio do Pica Pau Amarelo, de Monteiro Lobato –  a Petróleo Brasileiro hoje é pioneira na exploração e produção de águas (ultra) profundas, descobriu um dos maiores reservatórios da história recente, impulsiona aproximadamente 13% do PIB nacional e foi chamada, na década passada pela Carola Hoyos do Financial Times, como uma “nova irmã” das sete grande da geopolítica do petróleo atual.

Não resta dúvidas que Getúlio acertou, em cheio, quando enfrentou a sanha estrangeira pelo nosso óleo, até mesmo porque os fatos da Petrobrás versam por si só.

Mas o entreguismo é como como aquela gordurinha na barriga, basta faltar dois dias no crossfit e tomar uma gelada no final de semana que é batata (hoje estou no clima de trocadilhos).

Mesmo com toda a Petrobrás apresentando uma trajetória de mais de meio século de sucesso, e os resultados desastrosos que advindos do não investimento numa industria nacional quando era mais apropriado, não é de surpreender, portanto, que o desejo de entregar nossas riquezas para o estrangeiro ainda apareça por meio de argumentos superficiais e sofistas.

A tentativa de abertura do pré-sal é um exemplo claro disso: mal começou o regime de partilha em si e o senador José Serra, do PSDB-SP, lançou um projeto de lei que tenta fazer exatamente o que ele prometeu a Chevron na sua pré-candidatura à Presidência da República em 2010: deixar os estrangeiros virem explorar nossa óleo e gás, sem agregar valor algum às comoditties.

Claro, com toda essa receita em royaltie Serra, por mais antipático que seja, acabou ganhando a simpatia de políticos que adoram aumentar a arrecadação sem ter trabalho de investir em infraestrutura que gere empregos e renda fixa aos trabalhadores e trabalhadoras. Ademais, a elite local precisa que trabalhos na industria fiquem de lado, para que as pessoas sejam livres para executar os serviços, com baixo custo, que fazem os mimos da burguesia.

Todavia, a conjuntura atual do petróleo é de competição mundial e não de parcerias ou apadrinhamento, como quis colocar o presidente da Shell que quer “dividir os riscos” do pré-sal com a Petrobrás (bonzinho ele, não?). Na última grande crise do petróleo, na década de 60, só as empresas mais fortes sobreviveram a ponto da OPEP ser criada e as sete irmãs virarem quatro, ampliando o oligopólio do ouro negro.

Sendo assim, cabe a nação decidir o que queremos ser depois que sairmos dessa crise: um país que controla seus bens estratégicos ou entrega para os estrangeiro sem compromisso com a cadeia produtiva.

Se vamos ter uma empresa que possa suprir as demandas nacionais, mesmo que se trabalhe numa margem de lucro menos expressiva, ou se vamos criar novas “Samarcos” que colocam os dividendos acima da responsabilidade socioambiental.

Devemos escolher entre ter um amplo espectro de empregos gerados nacionalmente – industria naval, refinarias, termoelétricas, fertilizantes, logística e afins – ou se vamos deixar que apenas a arrecadação de royalties ditem o ritmo de aceleração dos mercados locais.

Enfim, no solteiros x casados da história nacional, vamos jogar ao lado dos entreguistas ou nacionalistas?

Façam suas escolhas!

Tadeu Porto é Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF)

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