As instituições políticas brasileiras quebraram

Foto: Mídia Ninja

A Câmara passou a ser liderada por um bandido que desfazia todas as votações cujos resultados lhe desagradavam, o STF se fez de cego para o que ocorria, o judiciário se tornou arma de intimidação política, a mídia incentivou e aplaudiu todos os absurdos cometidos em prol do golpismo e o Executivo se fez de morto, esperando sei-lá-o-quê para tomar controle da situação e recolocar o país no eixo

por Pablo Villaça, no Facebook

As instituições políticas brasileiras quebraram.

Não há como tirar outra conclusão: quando as instituições passam a depender mais da personalidade e das motivações daqueles que as dirigem do que das leis e de seus regimentos internos, é porque algo está muito errado.

Quando o STF suspendeu o mandato de Eduardo Cunha, há alguns dias, ponderou que ele estava usando seu posto de forma indevida para influenciar os deputados, as votações e seus resultados. Ora, se isto é verdade (e todos sabemos que é), por que o pedido para afastá-lo, que se encontrava nas mãos dos ministros do Supremo desde dezembro, só foi julgado depois que Cunha havia promovido aquela que certamente é a mais importante votação do plenário dos últimos 20 anos?

Se outro deputado fosse presidente da Câmara nos últimos meses, o processo de impeachment teria avançado como avançou? E se a presidente do Senado fosse, digamos, Vanessa Grazziotin?

Pois é: quando a mudança de apenas uma pessoa pode provocar alterações tão gigantescas, isto significa que as instituições se tornaram menores do que as personalidades que abrigam. Uma democracia não deveria funcionar assim.

Quando soube que Waldir Maranhão havia anulado a infame sessão de votação do impeachment na Câmara (bem como as duas anteriores), celebrei, claro. Em resposta a um tweet do “jornalista”/porta-voz do golpe Ricardo Noblat, que protestou por “um homem anular os votos de 367 deputados”, respondi que não via nada de absurdo, já que estes 367 haviam anulado os votos de 54 milhões de brasileiros.

Por outro lado, que nossa democracia dependa de alguém como Waldir Maranhão para salvá-la é uma tragédia em si mesma – e perceber que chegamos a este ponto é desesperador. Não à toa, boa parte daqueles que haviam se calado depois da votação e procurado se distanciar de Cunha voltaram hoje ao ataque condenando seu vice – e é irônico como acusaram a ação deste último de “golpismo” e de “falta de legitimidade” quando foram eles quem jogaram a Constituição no lixo e passaram a defender uma presidência ilegítima como a de Temer.

(Pois como é possível que um vice conspire contra a chefe do Executivo e planeje colocar em prática todo o projeto daqueles que foram derrotados na eleição, chegando a convidar vários da oposição derrotada para seu “governo”?)

O fato é que hoje o Brasil é um estado tomado pelo caos. Na tentativa de destituir Dilma, a oposição mantém o país parado há um ano e meio – e depois protesta contra a crise. A Câmara passou a ser liderada por um bandido que desfazia todas as votações cujos resultados lhe desagradavam, o STF se fez de cego para o que ocorria, o judiciário se tornou arma de intimidação política, a mídia incentivou e aplaudiu todos os absurdos cometidos em prol do golpismo e o Executivo se fez de morto, esperando sei-lá-o-quê para tomar controle da situação e recolocar o país no eixo.

Todos agindo como crianças birrentas, despreparadas e inconsequentes.

E agora somos uma piada de mau gosto para o resto do mundo graças ao espetáculo da votação embaraçosa do impeachment por deputados obviamente despreparados para o cargo e, agora, pelo braço-de-ferro inacreditável entre as casas do Legislativo e a inação do Supremo.

Mas é isso que acontece quando as regras democráticas são ignoradas: o vale-tudo passa a imperar e o poder é tomado não necessariamente por quem tem a legitimidade para fazê-lo, mas por quem joga melhor o jogo, mesmo apelando para trapaças.

E só não digo que a única saída são eleições gerais imediatas porque temo que os vencedores não teriam uma qualidade melhor do que a que vemos hoje.

Ou seja: estamos do jeitinho que a direita gosta. O impeachment é só o sintoma mais visível da doença.

Redação:
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