O que será? Começo de “conversa” com Chico Buarque

Por Rogerio Dultra dos Santos

As alcovas de Brasília suspiraram de medo na noite da última segunda-feira. O Maranhão trouxe a revolta do baixo clero, que desafiou – na fantasia dos infelizes – aquilo que não tem concerto nem tamanho.

O fim do golpe, delírio dos desvalidos, não durou 24 horas.

O Jaburu suspirou aliviado. Teve a certeza do sucesso quando a romaria dos mutilados invadiu o seu palácio avisando do fracasso da democracia.

Quando veio a notícia do desfeito, revogando o que seria anulado, cantaram todos, embriagados dos seus cargos, chafurdados em seus ministérios, amantes fieis da indecência e do excesso.

E, apesar dos avisos, dos pedidos, das rogatórias e petições, no caminho do Alvorada, o direito sucumbiu ao plano dos tiranos.

Nesta noite dos delirantes, nada a se esperar da cidadã falecida aos 27. A fantasia se foi, a Constituição morreu.

Viva o Rei! Ou, melhor: viva o pretenso e bastardo herdeiro, que sem nenhuma censura ou voto, conspirou a céu aberto com bandidos, como um rato, sabendo que o navio não irá afundar.

Num frêmito de arrogância, às vésperas da consumação do golpe, estão todos certos da vitória, todos do alto de suas prepotências torpes, todos ciosos dos nacos de poder que acreditam enriquecedores e divididos pela justiça dos abutres.

Está na natureza dos abutres esta certeza.

Mas o que os abutres não sabem é que a certeza do butim não tem governo.

Que a violação do governo não tem vergonha. E não tem juízo. Nem nunca terá.

Rogerio Dultra: Professor do Departamento de Direito Público da Universidade Federal Fluminense (UFF), do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Justiça Administrativa (PPGJA-UFF), pesquisador Vinculado ao INCT/INEAC da UFF e Avaliador ad hoc da CAPES na Área do Direito.
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