Comentários sobre a íntegra do relatório Ibope sobre aprovação do governo Temer

Eu perdi minha fé nas pesquisas quando percebi que elas são feitas, veiculadas e divulgadas no momento mais oportuno para seus patrocinadores.

No caso da última pesquisa Ibope sobre Temer, há o velho problema das perguntas. Os patrocinadores sempre escolhem as perguntas “convenientes” para fazer aos entrevistados.

Por isso tenho defendido que, em nome da saúde da nossa democracia, haja uma regulamentação democrática dos institutos de pesquisa, com uso de financiamento público para que universidades, ou pool de universidades, abriguem centros de pesquisa de aprovação de governo e apuração de intenção de votos, e que estes sejam feitas em intervalos regulares, pre-determinados.

Me parece óbvio que pesquisas realizadas de maneira intermitente, seguindo a agenda política do patrocinador, não darão uma ideia adequada da nossa realidade política. É uma questão básica da regra estatística: se eu medir a temperatura apenas em dias quentes, a minha média para aquele ano ficará totalmente errada.

Não obstante, temos que trabalhar com o que temos e tirar leite de pedra. Essa pequisa Ibope, divulgada na primeira semana de julho e cuja íntegra divulgo abaixo, tem um ou outro dado interessante, e que por isso mesmo não é explorado pela mídia chapa-branca.

São dois quadros que explicam muita coisa. O primeiro é a percepção dos entrevistados sobre a cobertura da mídia. É uma espécie de manchetômetro (e por isso mesmo é um dado que não aparece na mídia, aliás não é divulgado sequer no resumo da CNI, patrocinadora da pesquisa).

Observe que a relação da mídia com Dilma muda quimicamente desde junho de 2013. Ali se dá a primeira ruptura da imprensa corporativa em relação a seus próprios parâmetros. Entretanto, é a partir de 2015 que a imprensa passa a operar em modo explicitamente pró-golpe. A linha vermelha, indicadora de notícias desfavoráveis ao governo, dá um salto de 44% para 72%, e vem num crescendo, até atingir, às vésperas da votação na Câmara dos Deputados, o pico máximo de sua história, 76%.

Logo a tomada de poder por Michel Temer, ainda presidente interino, o índice de notícias desfavoráveis cai para 40%.

A linha azul, indicadora da percepção positiva do noticiário, por sua vez, sobe para 18% ao final de junho (período de apuração da última pesquisa), o maior índice  desde março de 2014.

A segunda tabela que me pareceu interessante traz a opinião comparativa dos entrevistados entre Dilma e Temer. No resumo divulgado há uma semana não havia a extratificação por renda, região, etc.

A pesquisa corrobora a teoria de que o golpe foi uma operação de classe, contra as faixas mais pobres da população, que vinha elegendo o PT desde 2002. Tanto é que, mesmo sendo também as principais vítimas da manipulação da informação (pois sua condição lhes dificulta, por razões igualmente tecnológicas e culturais, o acesso a meios alternativos), os pobres são os mais críticos ao novo governo Temer. Mesmo sem ainda conhecer direito a nova gestão, uma substantiva maioria dos mais pobres já o considera “pior” que o governo presidido por Dilma Rousseff.

Outra observação importante: ao final de maio, o presidente do Ibope, Carlos Alberto Augusto Montenegro, afirmou, à imprensa, que a confiança popular na presidente afastada havia saltado de 18% para 33% e mencionou uma pesquisa que seria divulgada nos próximos dias. A pesquisa não saiu.

Nesta última, também não há informação sobre o nível de confiança na presidenta afastada.

O nível de confiança no presidente interino ficou em 27%, contra 66% que não confiam.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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