O golpe e a súbita decadência da imagem do Brasil no exterior

Ronaldinho Gaúcho, a elite brasileira e a decadência da imagem do Brasil no exterior

Por Wellington Calasans, especial para “O Cafezinho”, em Estocolmo

Futebol e Samba sempre foram o “cartão postal” do Brasil no exterior. Associados a ambos estavam a pobreza, a prostituição e a criminalidade, umbilicalmente ligadas às favelas. Como a mão e a luva, a imagem de um Brasil pobre, corrupto e com elevado índice de violência preenchia duas aspirações: a primeira, de uma elite brasileira que exportava um país incapaz de ser desenvolvido e que ainda vê neste “cartão postal” a oportunidade de despejar toda a carga de ódio onde o racismo e preconceito, sobretudo contra pobres, negros e o secundário papel atribuído à mulher na sociedade alimentam um estranho complexo de superioridade; A segunda, do próprio “gringo” que considera “exótico” – quando quer manifestar alguma empatia com a miséria alheia – ou “um vasto campo de oportunidades”, quando desperta o imortal complexo de colonizador.

Resgatar este cenário é de grande relevância para que possamos fazer um paralelo entre a campanha publicitária dos jogos olímpicos da empresa sueca XXL, que representa o velho estereótipo do Brasil, e o Brasil que vinha sendo construído com as políticas inclusivas dos últimos anos. O vídeo da campanha, que tem Ronaldinho Gaúcho como garoto propaganda, lembra o Brasil que foi exportado pelo cinema com “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite” (I e II) e até mesmo como o medíocre “Faroeste Caboclo”. Negros como criminosos, mulheres como prostitutas, violência extrema e corrupção generalizada, eram apenas a entrada do “cardápio”.

Em 2001, em Angola, depois de um dos mais sangrentos ataques contra civis, reclamado pela UNITA, que ficou conhecido como “Massacre de Zenza do Itombe”, conversei com alguns jornalistas e moradores do local. Mesmo com o país em guerra, todos tinham medo de visitar o Brasil por causa da violência. “O que vejo na televisão sobre o Brasil é pior do que uma guerra”, revelou um jornalista que assistia aos programas “Linha Direta” e “Cidade Alerta”. Por mais absurdo que pareça, o mal causado pela propagação de uma imagem de violência (real ou fictícia) sempre foi danosa para o Brasil.

Em 2007, em Estocolmo, um sueco narrava um “safari na favela” como uma das mais espetaculares aventuras que tinha vivido. “Eu estava como muito medo, mas o pessoal da favela foi legal comigo. Eu dei até comida e doce que o pessoal da agência de turismo orientou, pois isso ajudava a ‘conquistar a confiança’ dos moradores do local”, relatava o sueco com orgulho de ter sido solidário e corajoso após passear de Jeep em uma favela do Rio de Janeiro.

O que isso tem a ver com Ronaldinho Gaúcho? Tudo! Ronaldinho é hoje a imagem de um atleta que poderia ter ido muito mais além. Rico, depois de ter conquistado o mundo, por vários fatores voltou à mediocridade de um jogador comum. É como o Brasil, um país com enorme potencial e que começou a ser comentado no mundo pela descoberta do pré-sal ou um país que deixava de ser o quintal dos EUA e conquistava um importante papel como membro dos BRICS. No momento em que vários países penavam com dívidas e desemprego, o Brasil tirava quarenta milhões de pessoas da linha de pobreza e era reconhecido pelas políticas inclusivas. O momento atual é indescritível.

Aqui fora, a imagem do Brasil voltou a ser aquela que alimenta o ego de uma elite rica daquilo que é um dos mais repugnantes traços característicos atribuídos aos seres humanos, a pobreza de espírito. O Brasil que estava sendo construído, a partir de Lula e Dilma, não poderá ser visto enquanto perdurar este estado de exceção, consequente do golpe que mantém no poder o atual governo, interino e ilegítimo. O vídeo da campanha da empresa sueca, com Ronaldinho Gaúcho, você pode assistir neste link:

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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