Mensagem da Abin é a imagem do governo Temer: canalhice disfarçada de ignorância

Por Tadeu Porto* (@tadeuporto), colunista do Blog O Cafezinho

Bastou alguns compartilhamentos na internet para que a mensagem de “prevenção ao terrorismo” da Agência Brasileira de Inteligência se tornasse um meme de proporções virais.

A zueira não ter limites é um postulado sagrado do mundo digital, portanto, mesmo se tratando de uma instituição de Estado ligada a assuntos da ~inteligência~ nacional (e que deveria ser fortemente respeitada) a internet perdeu a linha com o post da Abin que dizia, entre outras coisas, que pessoas que andam com roupas, bolsas e mochilas destoantes das circunstâncias e do clima são suspeitas de terrorismo.

A gozação foi geral, desde trending topics (assuntos mais comentados) no Twitter, passando por milhares de memes circulando no Facebook e Whatsapp, até as piadas costumeiras do Sensacionalista e do seu site de notícias verdadeiras, o Surrealista.

Bom, era de se esperar tamanha reação cômica à uma mensagem que beira tanto ao absurdo. Primeiro pois é uma burrice incrível tentar difundir em massa as características de alguém que fará de tudo para se disfarçar (qualquer terrorista com o mínimo de capacidade cognitiva iria se comportar ao contrário do senso comum); segundo pela arte utilizada pela Abin, com um tipo de Assassin’s Creed de ilustração, na tentativa de estereotipar uma prática criminosa que é ampla demais para ser rotulada de tal maneira; e  terceiro pela definição vasta de “pessoa suspeita”, inferida pelo conjunto de possibilidades presentes na mensagem (“destoando do clima” ou “agindo de forma estranha”) que abre brechas para milhares de interpretações, inclusive combinações hilárias como chamar adolescente gótico de suspeito.

Não ia dar outra, a piada veio prontinha para consumir.

Todavia, por mais que exista atitudes do executivo que beiram a idiotice crônica (por exemplo tirar status de um ministério de alto apelo popular como o Minc), infelizmente, o governo Temer parece não ter jogado essa cartada por ignorância, muito pelo contrário, ela vem bem a calhar com a repressão que se desenha para as manifestações inevitáveis que as Olimpíadas irão trazer na caótica cidade do Rio de Janeiro.

A ideia é colar a imagem de terrorismo aos movimentos sociais que irão, certamente, tomar as ruas num futuro próximo: não só para combater o pacote de maldade de Temer, mas também para dar um recado ao mundo sobre o golpe de Estado que o país está sofrendo.

Sendo assim, quando a Abin solta uma mensagem genérica como essa ela pode, perfeitamente, tentar mandar o seguinte recado para ~as pessoas de bem~ do Brasil: se ver alguma pessoa estranha ou destoante do clima, basta comunicar às autoridades para desencadear todo um processo de repressão que pode estar respaldado, inclusive, pela lei antiterrorismo (erro crasso do governo Dilma) e o recente julgamento de militares pelo foro de mesmo calão.

Basicamente, existirão tantos suspeitas e suspeitos que o espectro de terroristas em potencial será enorme, assim,  caberá às autoridades escolher a dedo quem deverá ser vigiado de perto [e advinha quem vai ser?].

Ou seja, o governo usurpador fala em alto e bom som para entendedores fascistas: “viu um estudante de mochila na rua? Avise que a polícia mais próxima vai lhe mostrar o baculejo”; “Tem algum trabalhador ou trabalhadora com roupas esquisitas? Chame o exército para dar uma conferida”; ou “o pobre, que anda nervosinho, e a negra que age de forma estranha merecem ser observados de perto pelas autoridades”.

Portanto, a mensagem aparentemente tola e infantil da central de inteligência do Estado não passa de mais um recado de Temer & Cia do que se pode esperar do Brasil do futuro. Um país de censura ditatorial, nos moldes de 1964 (o slogan de Michelzinho que o diga), que o PMDB , com a aparente covardia do judiciário e a conivência do legislativo, sequer tem o pudor de disfarçar.

Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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