Carta aberta a Eduardo Paes: não é a crise que estraga a olimpíada, é o golpe. O seu golpe.

Por Tadeu Porto* (@tadeuporto), colunista do Cafezinho

Fala aí Paes, tranquilo?

Cara, depois de ler sua entrevista pra Folha de São Paulo decidi lhe enviar essa carta, tentando, inclusive, manter a prática democrática e respeitosa que o PMDB já provou não ter.

Bom, em primeiro lugar [não falei nada] pode até fazer algum sentido sua teoria de que a crise brasileira dificulta uma visão positiva sobre os Jogos Olímpicos de 2016, mas só, e somente só, se nós dermos o nome certo ao boi que atropela nosso sossego: o golpe.

Com toda vênia, prefeito, mas atribuir o mal estar olímpico à inflação, emprego, economia e divisão política é não ter noção alguma, nem no espaço e muito menos no tempo, de como funciona o país no qual moramos.

Eu me lembro muito bem desse mesmo pessimismo há pouco mais de dois anos, na Copa do Mundo de 2014. Naquele tempo, a Pnad continua do segundo semestre bateu 6,8% e o ano fechou com o menor desemprego da série histórica do IBGE. A inflação oficial de Maio/2014 perdeu força e caiu, gerando um acumulado de 12 meses de 6,37%, ou seja, dentro da banda da meta inflacionária. Na pesquisa eleitoral meses antes da copa, Dilma ganharia no primeiro turno e, por mais que a Folha nos ensinou a não confiar nessas consultas, não era vista uma divisão política significativa no país. Por fim, o PIB de 2013 tinha avançado 2,3% e o país estava longe da recessão de hoje.

Portanto, em segundo lugar, eu lhe proponho a simples reflexão: oras, por que cargas d’água o maior campeão mundial de futebol experimentou, sem crise significativa alguma, um enorme mal humor pré Copa do Mundo na sua própria casa?

Eu tenho a minha teoria acerca dessa pergunta e compartilho aqui contigo: o pessimismo pré copa estava intimamente ligado com uma tentativa de boicote da mídia a um possível sucesso do governo Dilma que ganhou ecos e força no complexo de vira-latas que nossa elite tanto ostenta e nossa classe média insiste em copiar.

Não faz sentido?

Pois bem, há algum tempo o esporte favorito de muitas brasileiras e brasileiros contaminados pela Globo e cia é falar mal do Brasil e da sua capacidade de ser grande, na esperança de manter o povo com baixa autoestima e poder avançar no seu projeto já injusto de má distribuição de renda.

Todavia, o complexo de vira-latas naquele tempo de copa teve um forte contraponto: pessoas que sempre acreditaram no país e que não abaixam a cabeça nem pra Europa, EUA, FIFA ou COI, abraçaram o Brasil como nunca, naquela esperança de sempre em ver o país assumir um protagonismo mundial que acarrete numa terra mais igual em diversos sentidos.

Pois bem, Eduardo, o que a sede de poder do seu partido traidor conseguiu, com esse golpe que nos faz passar vergonha a ponto de virar chacota na Turquia, é fazer com que xs nacionalistas assumissem a frente de defender o legado democrata e deixassem de lado o contraponto otimista observado em 2014 e que sempre foi um fator decisivo para que o Brasil não se tornasse, completamente, uma colônia subserviente de países tradicionais.

E olha, na boa, sem o incentivo de quem acredita no Brasil de verdade – do negro à branca, da pobre ao rico, de héteros, trans e homossexuais – a chance das olimpíadas serem inclusivas, e consequentemente um sucesso, é zero.

E, infelizmente, o golpe que o PMDB liderou no país nos tirou o júbilo e a responsabilidade da empatia e, portanto, fica difícil defender uma causa que, mesmo indiretamente, ajude uma pessoa como Michel Temer.

Na ânsia de manter uma elite hegemônica no poder, vocês viraram as costas para um povo que não quer nada demais, apenas as oportunidades que lhes foram prometidas na constituição de 88 (e que o governo usurpador faz questão de dizer não caber no orçamento). Não tem como esperar um resultado positivo de tamanha irresponsabilidade.

Em resumo, por fim: com esse golpe imoral e perverso, vocês deixaram bolada uma galera altamente comprometida com Brasil – aquela que foi capaz de contrapor a onda pessimista da copa do mundo – e o preço a ser pago não poderia ser outro: o país hoje respira a atmosfera vira-lata autodestrutiva praticamente impossível de reverter a tempo de mostrar alegria e satisfação com os Jogos Olímpicos.

Mas, assim, não fique tão triste. Se por um lado Michel matou o espírito olímpico (créditos ao Paulo Nogueira) por outro ele conseguiu unir o país em torno de uma importante tarefa: fora Temer. E não haverá um só dia de trégua a vocês.

Abraços,

Tadeu

P.s. Moro em Minas Gerais, então, não precisa me pedir pra deixar o Rio de Janeiro.

*Tadeu Porto Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense.

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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