O dia em que Gilmar virou blogueiro sujo

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Arpeggio – Coluna política diária

Por Miguel do Rosário, editor-chefe do Cafezinho

A citação mais adequada, nos últimos tempos, para se referir à situação política brasileira é a frase de Tom Jobim.

“O Brasil não é para principiantes!”

Não é mesmo![/s2If]

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A bronca de Gilmar Mendes, ministro do STF, nos procuradores da Lava Jato e, por extensão, no juiz Sergio Moro, abre novos horizontes para as análises do golpe.

Ao mesmo tempo confirma quase tudo que temos observado até agora.

Em nota para a Mônica Bergamo, na Folha, Gilmar denuncia o “delírio absolutista” dos procuradores e lançan suspeitas gravíssimas de que eles estariam, no processo de interrogação, orientando os delatores a fazerem as denúncias que lhes interessam.

É como se Gilmar Mendes tivesse se tornado, subitamente, num blogueiro sujo!

Para completar o surto democrático, sobram farpas para Sergio Moro e para as famigeradas 10 medidas contra a corrupção propostas pelo MPF.

Lembre-se que a sugestão de se validar provas ilícitas, “desde que obtidas de boa-fé”, foi de Sergio Moro, durante recente audiência dele em Brasília, na Câmara dos Deputados.

Gilmar tem inúmeras razões para defender Toffoli: uma razão corporativa, para não enfraquecer o STF, instituição essencial em todo o processo de golpe, desde a Ação Penal 470 até hoje; uma razão política, porque Toffoli hoje é seu aliado, no STF e no TSE. E uma razão pessoal: para ampliar seu poder pessoal, tanto junto aos outros ministros do STF, para os quais exibe seus músculos midiáticos.

Entretanto, é evidente que a denúncia contra Toffoli é também uma forma de intimidar os outros ministros da STF, inclusive o próprio Toffoli. Se alguém ousar dar uma declaração que fuja do script, o seu destino já está selado.

Gilmar Mendes confirma seu lugar como um dos homens fortes do golpe, além de se firmar como a autoridade hoje mais poderosa do país. É o presidente virtual do Supremo Tribunal Federal (STF), ou mais que isso: é o chefe político do STF. A covardia de Ricardo Lewandowski e de todos os outros ministros indicados pelo PT fizeram isso possível.

Mendes é também – nomeado pela mídia – o porta-voz oficial das castas burocráticas que deram o golpe. Ou talvez seja mais que isso: é o maestro das castas.

Num dia, Gilmar está incentivando o ódio político, sugerindo que o PT seria uma “organização criminosa”, que deveria ser cassado.

Em nenhum momento da nossa história, nem no auge da polarização política de 1954 ou 1964, um juiz ousou atacar dessa maneira um partido. O PTB, alvo constante do ódio das elites e da mídia, nunca foi tratado assim pelo judiciário.

Com esse tipo de declaração, Gilmar tem formado uma espécie de trio com a Lava Lato e a grande mídia.

No outro dia, Gilmar chama os procuradores da Lava Jato de absolutistas, delirantes, e, com isso, manda um recado muito claro à Lava Jato: o golpe se consuma esta semana; é hora de puxar o freio.

Em vários aspectos, a denúncia vazia da Veja contra Toffoli serve a objetivos estratégicos do golpe: ameaça ministros do STF ao mesmo tempo em que abre a oportunidade do STF controlar a Lava Jato – uma medida salutar no momento em que a operação ameaça espirrar delações contra membros do próprio golpe.

O golpe funciona como uma sinfonia apenas aparentemente cacofônica. Claro que há improvisações aqui e ali, porque não é possível controlar a dinâmica da política e das vaidades humanas. Mas desde que tenhamos um maestro, papel exercido brilhantemente por Gilmar Mendes, os desvios são raros e, quando acontecem, o maestro trata de incorporá-los à música.

O procurador geral da república, Rodrigo Janot, desde que farejou o poder migrando, em definitivo, para o lado do golpe, abraçou a causa com todas as suas forças. Sua decisão de suspender as delações de Leo Pinheiro e de outros executivos da OAS, por causa do vazamento, evidencia uma contradição chocante. Quase todas as outras delações importantes experimentaram vazamentos: esse tem sido o modus operandi principal da Lava Jato e um de seus principais instrumentos para controlar a agenda política do país.

Sergio Moro não vazou – confessadamente – áudios privados do ex-presidente Lula, envolvendo a presidenta da república? Não foi esse vazamento, exatamente, que deflagrou tumultos sociais e impediu a posse de Lula como ministro?

O ministro do STF, Marcelo Navarro Dantas, por exemplo, não apenas é vítima sistemática de vazamentos da Lava Jato, como foi há pouco objeto de um pedido do próprio Janot, aceito pelo STF, para ser investigado.

Ninguém veio defender Navarro Dantas, contudo, pois ele não é amiguinho de Gilmar, nem é um aliado do golpe.

A acusação contra Navarro Dantas, vinda do próprio Janot, é a de que ele teria sido nomeado por Dilma para impor limites à Lava Jato, ou seja, para fazer exatamente o que Gilmar Mendes e o próprio Janot estão fazendo abertamente – e corretamente, eu diria – agora, ao se insurgirem contra um vazamento e ao suspenderem a delação da OAS.

Por que a Veja deu esse passo em falso, de veicular uma denúncia tão vazia contra Toffoli? Simples: porque não foi um passo em falso.

Foi um jogo de cena de Veja, Gilmar Mendes, quiçá com a participação de outros membros do STF, inclusive o próprio Toffoli. Ou mesmo com a participação de alguns representantes mais maquiavélicos da própria Lava Jato, que após detonar o PT, produzir o clima de golpe, devastar setores econômicos inteiros, tentam encontrar uma maneira honrosa de tirar seu time de campo.

É a tática do empregado que força um pouco a barra no serviço, para ser demitido e ganhar o fundo de garantia.

Reitere-se que não devemos prestar atenção apenas em Gilmar. Outros agentes políticos já vem criticando duramente os arbítrios da Lava Jato e alertando para os perigos do autoritarismo crescente do ministério público.

Mas por que apenas agora a Folha veicula, pela boca de Gilmar, uma crítica à Lava Jato?

Ora, pelas mesmas razões de Gilmar. O consórcio golpista não dá ponto sem nó.

No domingo passado, a Globo vazou uma “delação” da Odebrecht contra o PT: ninguém se indignou com mais um vazamento seletivo, divulgado sem provas. Na própria matéria da Globo, informava-se que os executivos que haviam feito a declaração disseram que as provas foram “apagadas” do sistema.

Naquela ocasião, não valia a suspeita de Gilmar Mendes, de que os procuradores “tentam induzir os delatores darem a resposta desejada ou almejada” pelos procuradores?

Aliás, essa última delação da Odebrecht contra o PT cumpre uma agenda perfeitamente ajustada ao golpe, conforme a gente já havia previsto aqui no Cafezinho.

As denúncias contra Serra e Michel Temer eram apenas uma isca, para capitalizar a Lava Jato um pouco mais junto ao eleitorado anti-tucano, confundir o que ainda resta de força petista nas redes. E gastar os recursos simbólicos obtidos com mais vazamentos contra o PT – dias antes da votação final no senado.

Faltam apenas alguns dias para o Brasil consumar o mais desonesto golpe de sua história. O consórcio golpista não vai mais precisar de um ministério público independente, de uma polícia federal que investigue o próprio governo, nem interessará mais, às elites, ficarem vulneráveis aos arroubos justiceiros de algum juiz obscuro.

Os justiceiros agora precisarão andar na linha, ou seja, agindo como sempre agiram no país que tem uma das maiores taxas mundiais de homicídios perpetrados pela polícia, o judiciário mais bem pago do planeta e a terceira maior população carcerária do mundo: atacando exclusivamente pobres, pretos e petistas.[/s2If]

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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