Dobre de finados da Lava Jato – E eles eram lindos

(Foto: José Cruz)

Por Bajonas Teixeira de Brito Junior, correspondente de política do Cafezinho

Gilmar Mendes ontem dominou o noticiário. Foram duas entrevistas na Globo, uma terceira para a Folha de São Paulo, na coluna da Mônica Bergamo, divulgada já cedo, seguida por uma quarta, que usou algumas declarações não aproveitadas na coluna.  Portanto, foram quatro pregos fincados no caixão da Lava Jato num só dia.

Ao que tudo indica, na verdade, Gilmar deu duas entrevistas que, para maior repercussão, a Globo e a Folha de São Paulo tomaram a coincidente decisão de duplicar.

Na Globo a entrevista dupla foi dada a Carolina Brígido. E na Folha foi concedida a Mônica Bergamo. O fato de a Globo e a Folha desdobrarem essas declarações é muito significativo, não deixando dúvidas do interesse comum em potencializar o efeito do seu poder de fogo.

Obviamente, e isso dispensa comentário porque o leitor percebeu claramente, essa veiculação, no mesmo dia, pelas duas mais importantes fontes de informação no país, sobretudo, as mais influentes, tem um significado óbvio: a passagem a ofensiva contra a Lava Jato.

Essa situação, ganha ainda mais relevo se vista sobre o pano de fundo das declarações dadas na semana passada por Gilmar contra a lei do Ficha Limpa.

Certamente essas declarações desagradaram a classe média golpista que pretende combater a corrupção quando meramente quer derrubar o PT e as políticas sociais, e se declara a favor das dez medidas do Ministério Público contra a corrupção. De fato é estranho que, para mostrar seu amor pelo Brasil, essa classe média que é ‘anticorrupção’, embora sonegue tanto quanto possa, vista a camisa amarela da CBF, cujo presidente, por acusações de corrupção, evita por os pés fora do Brasil para não ser preso.

Ao desagradar a classe média – da mesma forma que a desprezou quando, anos atrás, ela pedia insistentemente o “Fora Galvão” – , a Globo e a Folha deixam claro que só mobilizaram esse grupo social para objetivos muito determinados: derrubar o governo Dilma e marginalizar o PT.

Agora a palavra está com Gilmar. A palavra, ou os palavrões. De fato, uma coisa que chama atenção nas declarações dos últimos tempos é a sua truculência aberta. Primeiro, os autores da Ficha Limpa foram chamados de “bêbados”, agora, nas entrevistas de ontem, surgem expressões de uma violência verbal espantosa. Nada disso, claro, inibiu a Globo nem a Folha, o que é mais um sinal de que se trata de uma vontade comum.

As declarações de Gilmar incluem frases como as que seguem:

–  “Depois esses falsos heróis [procuradores e policiais federais] vão encher os cemitérios.”  Gilmar acusa procuradores da Lava-Jato de vazar delação da OAS.

 

– “Cada um faz seu pequeno assalto” (Não visando diretamente a Lava Jato, mas indiretamente, já que destinada a alvejar o Ministério Público).  ‘Cada um faz seu pequeno assalto’, diz Gilmar sobre vantagens de juízes.

 

– “Assim como alguém depende de drogas, vocês são dependentes de notícias.” (Dirigida, em tom de elevada moralidade, aos jornalistas que divulgam vazamentos). http://blogs.oglobo.globo.com/agora-no-brasil/post/gilmar-acusa-procuradores-da-lava-jato-de-vazar-delacao-da-oas.html

O que mais causou admiração, contudo, foi que Gilmar se permitiu só agora críticas à Lava Jato em relação a desvios que muitos já vem denunciando há muito tempo. Os vazamentos, a articulação dos vazamentos com a mídia, o uso de métodos especiais para colher delações, a indução de culpados, etc. Esta declaração, por exemplo, que está na coluna da Mônica Bergamo já foi repetida incontáveis vezes por outros:

“Não é de se excluir que isso esteja num contexto em que os próprios investigadores tentam induzir os delatores a darem a resposta desejada ou almejada contra pessoas que, no entendimento deles, estejam contrariando seus interesses”.

Tudo isso é estanho porque, não faz muito tempo, quando foi vazado contra Lula o áudio de sua conversa com Dilma Rousseff, Gilmar correu para dar declarações fulminantes e tomou decisões muito prejudiciais ao primeiro. E tudo com base em método idênticos aos que critica agora.

Então, o que terá motivado essa tomada de posição tão tardia e, ao mesmo tempo, com tamanhos ares de indignação à la Zola em J’Accuse? O que se viu repetido em vários blogs foi uma teoria muito simples e clara: Quando as delações atingiam Lula e o PT, Gilmar não via nada de errado. Agora que Aécio Neves e José Serra estão sendo envolvidos, aflorou a indignação à flor da pele do ministro.

Isso pode ser importante, sem dúvida. Mas o que parece decisivo é que suas palavras tiveram enorme destaque na mídia, em especial, nas duas forças decisivas para o avanço do golpe. Desse ponto de vista, se esses meios de comunicação que foram essenciais na divulgação de vazamentos ou na repercussão deles, agora estampam o discurso da legalidade, a conclusão que podemos tirar é certamente de que chegou a hora de dar um basta na Lava Jato.

E nada mais coerente que colocar os pregos no caixão da Lava Jato nas vésperas da cerimônia final de enterro do governo Dilma. É o que explica um procurador à Folha hoje:

“Éramos lindos até o impeachment se tornar irreversível. Agora que nos usaram para tirar quem queriam, desejam dizer chega”.

Só faltou que ele lembrasse, mas essa seria uma recordação muito incômoda, porque os poria em má companhia, que Eduardo Cunha também era lindo até finalizar o rito do impeachment na Câmara dos Deputados.

Bajonas Teixeira:
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